Estudo revela como um gene para a obesidade afeta o cérebro
A obesidade é uma condição complicada, causada por uma combinação de genética, ambiente alimentar e comportamento, entre outros fatores. Durante milénios, obter comida suficiente para sobreviver e prosperar era difícil, atualmente basta abrir o frigorífico.
DIETA E NUTRIÇÃO
OBESIDADE, DOENÇA OU DESLEIXO
A prevalência da obesidade triplicou nos últimos anos, em muitos países europeus, aumentando, consequentemente, os gastos com a saúde. LER MAIS
Um estudo realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da U-M revelou que um gene denominado SH2B1 desempenha um papel importante na regulação da ingestão de alimentos. Em humanos, as mutações deste gene estão associadas à obesidade, diabetes tipo 2 e doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (DHEADM), anteriormente conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica.
Segundo Liangyou Rui, o SH2B1 controla a alimentação e o gasto de energia. A obesidade é causada por dois eixos opostos: se se come muito, ganha-se gordura. Gasta-se muito pouca energia e a gordura acumula-se.
Na investigação, publicada na revista Advanced Science, os especialistas identificaram onde este gene age dentro do cérebro, que é numa área chamada hipotálamo paraventricular, ou PVH, que está envolvida na regulação da pressão arterial e do equilíbrio de fluidos.
Descobriu-se ainda que os neurónios que expressam o SH2B1 criam um circuito – falam com os neurónios a jusante numa área conhecida como núcleo dorsal do rafe, localizado no tronco cerebral. Esta área está implicada no equilíbrio energético e na manutenção do peso corporal e no comportamento motivado pela emoção.
Em ratinhos, a estimulação deste circuito suprime o apetite. Por outro lado, silenciar os neurónios que expressam o SH2B1 no PVH leva à obesidade.
O estudo permitiu ainda identificar o mecanismo molecular por trás de como o SH2B1 ajuda a manter o peso, em parte ao aumentar a sinalização BDNF/TrkB, que durante o desenvolvimento promove o crescimento cerebral e, num cérebro maduro, mantém a saúde cerebral. Quando essa sinalização corre mal, a obesidade e a doença metabólica desenvolvem-se.
Segundo o especialista, a inflamação associada ao aumento de peso pode afetar negativamente essa via de forma indireta, enfraquecendo os sinais para parar de comer.
Sabe-se que a ação do SH2B1 é importante, pois é altamente conservada entre espécies, desde a mosca da fruta aos humanos.
Ele não só aumenta a sinalização celular, mas as hormonas leptina e insulina, que ajudam a regular o apetite e o metabolismo. Além disso, até agora não houve efeitos colaterais identificados por se aumentar a proteína SH2B, ao contrário dos medicamentos populares atualmente, que ativam os receptores glp-1.
Para Rui, se se conseguir descobrir uma forma de aumentar a atividade do SH2B, haverá esperança para o tratamento da obesidade e para as doenças relacionadas.