Pessoas em coma podem estar conscientes e a pensar
Uma em cada quatro pessoas em coma pode estar “presa”, o que significa que estão cientes do que as cerca, mas são incapazes de se comunicar. Um estudo realizado por especialistas da Weill Cornell Medicine, em Nova Iorque, descobriu que algumas pessoas com danos cerebrais graves podem realizar tarefas mentais complexas quando instruídas, apesar de não serem capazes de se mover ou falar.
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De acordo com Nicholas Schiff, autor correspondente, a descoberta de que 25% das pessoas que não respondem à comunicação verbal mantêm um alto nível de função cognitiva deve mudar a forma como os profissionais de saúde interagem com esses pacientes.
A taxa geral de pessoas que exibiram esses sinais de consciência e atividade cerebral é ainda maior do que se pensava anteriormente, o que realça a importância de usar as ferramentas disponíveis para avaliar pacientes com lesão cerebral.
No início do estudo os investigadores examinaram 353 adultos com lesão cerebral, geralmente causada por trauma grave ou suprimento de oxigénio interrompido para o cérebro após derrames ou ataques cardíacos, de seis hospitais diferentes nos Estados Unidos. A maioria dos participantes estava sob cuidados em casa ou em instalações de cuidados de longo prazo, e o tempo médio desde a lesão foi de cerca de oito meses.
Para descobrir se as pessoas conseguiam responder a comandos, a equipa pedia repetidamente a cada paciente para executar uma série de tarefas motoras (por exemplo, mexer os dedos dos pés), assim como tarefas cognitivas relacionadas ao motor, como imaginar mexer os dedos dos pés.
Descobriram, então, que embora algumas pessoas pudessem responder, 241 eram incapazes de reagir visivelmente a esses comandos.
Todos os participantes foram submetidos a um ou a dois tipos de exames cerebrais, uma ressonância magnética funcional – que mede a atividade cerebral monitorizando o oxigénio fornecido às células cerebrais, ou a uma eletroencefalografia – que utiliza um capacete coberto por eletrodos que se coloca no couro cabeludo para medir a atividade das ondas cerebrais.
Durante o exame, as pessoas foram instruídas repetidamente durante 15 a 30 segundos para se imaginarem a jogar ténis ou para abrirem e fecharem a mão. Após uma pausa, esse exercício foi repetido durante um total de seis a oito vezes.
Os especialistas descobriram que entre os 241 pacientes em coma ou estado vegetativo que não conseguiam dar respostas visíveis aos comandos, um quarto tinha respostas cognitivas sustentadas e relevantes nas mesmas regiões cerebrais que são ativadas em cérebros não danificados.
Uma percentagem maior (38%) dos 112 pacientes que foram capazes de responder fisicamente aos comandos falados também mostraram essa resposta. Embora se estivesse à espera que essa percentagem fosse ainda maior, os investigadores suspeitam que isso pode ter ocorrido porque a experiência estabeleceu um padrão muito elevado para o que constituía atividade cerebral consistente.
Schiff revelou que, apesar de o estudo não ter sido desenvolvido para identificar fatores que tornam a resposta mais provável, conseguiu perceber-se que os pacientes que mostraram atividade cerebral tendem a ser mais jovens, têm ferimentos por trauma físico e já vivem com a lesão cerebral há mais tempo.
Estudos futuros irão explorar melhores formas de detetar a dissociação cognitivo-motora, já que trabalhos anteriores sugeriram que pacientes com essa condição podem ter maior hipótese de recuperação do que os que não conseguem realizar tarefas cognitivas.
Saber que um paciente tem capacidade de responder cognitivamente pode alterar decisões ao nível de suporte de vida e o grau de empenho de cuidadores e familiares.