Medicamento experimental protege pâncreas da diabetes tipo 1
Um medicamento experimental com anticorpos monoclonais denominado mAb43 parece prevenir e reverter o aparecimento de diabetes tipo 1 (DT1) clínico em ratinhos e, em alguns casos, prolongar a vida dos animais, revelou um estudo realizado por cientistas da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
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Esta droga é única porque tem como alvo direto as células beta produtoras de insulina no pâncreas e foi desenvolvida para proteger essas células dos ataques das próprias células do sistema imunológico do corpo. Segundo os especialistas, a especificidade do medicamento para essas células pode permitir o uso a longo prazo em humanos com poucos efeitos colaterais.
As descobertas, publicadas online e na edição de maio da revista Diabetes, levantam a hipótese de um novo medicamento para a DT1.
Dax Fu, líder da investigação, revelou que o mAb43 se liga a uma pequena proteína na superfície das células beta, que vivem em aglomerados chamados ilhotas. A substância foi desenvolvida para ser uma espécie de escudo ou capa para esconder as células beta das células do sistema imunológico que as atacam como “invasoras”.
No estudo, a equipa administrou a 64 ratinhos não obesos criados para desenvolver DT1 uma dose semanal de mAb43 por injeção intravenosa quando eles tinham 10 semanas de idade. Após 35 semanas, nenhum dos ratos era diabético. Um dos ratos desenvolveu diabetes durante um período de tempo, mas recuperou às 35 semanas, e esse animal tinha apresentado sinais precoces de diabetes antes do anticorpo lhe ser administrado.
Em cinco animais do mesmo tipo, ou seja, propensos à diabetes, os investigadores suspenderam a administração de doses semanais de mAb43 até às 14 semanas de idade e depois continuaram com as dosagens e com a monitorização durante 75 semanas. Um dos cinco ratinhos do grupo desenvolveu diabetes, mas não se verificou nenhum evento adverso.
Nas experiências em que o mAb43 foi administrado precocemente, os ratinhos viveram durante o período de monitorização de 75 semanas, em comparação com o grupo de controlo de animais que não receberam o medicamento, que viveram cerca de 18 a 40 semanas.
Depois, os especialistas observaram mais de perto os animais que receberam o mAb43 e usaram um marcador biológico chamado Ki67 para ver se as células beta (que constituem cerca de 1% ou 2% das células do pâncreas) se estavam a multiplicar. Verificaram que após o tratamento com o anticorpo, as células imunológicas recuaram das células beta, reduzindo a quantidade de inflamação na área. Além disso, as células beta começaram a reproduzir-se lentamente.
Segundo Fu, é possível que o mAb43 possa ser usado durante mais tempo do que o teplizumab – outro medicamento com anticorpo monoclonal aprovado pela FDA em 2022 –, e retardar o início da diabetes durante mais tempo, potencialmente enquanto for administrado.
No futuro, os cientistas pretendem desenvolver uma versão humanizada do anticorpo e realizar ensaios clínicos para testar a sua capacidade de prevenir a DT1 e descobrir se tem quaisquer efeitos secundários fora do alvo.