Depressão e ansiedade podem estar entre os primeiros sinais de EM
Um estudo levado a cabo por investigadores da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, permitiu identificar o que pode ser um indicador precoce não relatado de esclerose múltipla (EM): a presença de problemas psiquiátricos, incluindo depressão, ansiedade, transtorno bipolar e esquizofrenia.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
ESCLEROSE MÚLTIPLA
Atualmente, não existe cura conhecida para a EM. Há no entanto tratamentos eficazes que contrariam a evolução da doença e aliviam os sintomas associados, proporcionando mesmo, a reabilitação de muitos doentes. LER MAIS
A EM é uma doença autoimune na qual o sistema imunológico ataca a bainha protetora (mielina) que cobre as fibras nervosas, interrompendo as comunicações de e para o cérebro. Reconhecer a EM é muitas vezes um desafio para os médicos porque os seus sintomas são variados e facilmente confundidos com outras condições. Para muitos pacientes, isso significa que a jornada rumo ao diagnóstico pode ser longa e cheia de incertezas.
Durante muito tempo pensou-se que a EM só começava clinicamente quando uma pessoa experimentava o primeiro evento desmielinizante, como na forma de problemas de visão. Mas sabe-se que existe todo um período anterior a esses eventos, em que a doença se apresenta de forma mais indireta.
No estudo, publicado na Neurology, revista médica da Academia Americana de Neurologia, os especialistas analisaram a prevalência de problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, transtorno bipolar e esquizofrenia, nos cinco anos anteriores aos pacientes desenvolverem sinais clássicos e clinicamente reconhecidos de EM.
Na coorte administrativa – baseada em alegações de desmielinização – havia 6.863 casos de EM e 31.865 controles. Na coorte clínica – o início dos sintomas de EM – havia 966 casos de EM e 4.534 controles.
Os resultados permitiram concluir que as pessoas que eventualmente desenvolvem EM na coorte administrativa têm duas vezes mais problemas psiquiátricos antes de um diagnóstico de EM do que os membros de um grupo de controlo sem EM: 28% em comparação com 14,9%. Os resultados foram semelhantes na coorte clínica (22% comparado a 14,1%).
Os especialistas constataram ainda que a utilização de cuidados de saúde para sintomas psiquiátricos – incluindo consultas médicas e psiquiátricas, prescrições e hospitalizações – também foi consistentemente maior entre as pessoas da coorte administrativa que eventualmente desenvolveram EM.
A sua frequência, em comparação com os controlos, aumentou a cada ano até aparecerem os sintomas de EM. Esses achados não se observaram na coorte clínica.
O estudo segue investigações anteriores da Dra Helen Tremlett e da sua equipa, que têm trabalhado para caracterizar melhor os estágios iniciais da EM, na esperança de facilitar a deteção precoce e uma possível intervenção. Os períodos prodrómicos estão bem estabelecidos noutras doenças, como o Parkinson, onde as pessoas apresentam sintomas como prisão de ventre anos antes do início das deficiências motoras clássicas.
De acordo com a Dra Tremlett, se se conseguir reconhecer a EM mais cedo, o tratamento poderá começar precocemente – o que tem um enorme potencial para retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida das pessoas.