Morcegos podem guardar segredo evolutivo para evitar o cancro
Um novo estudo publicado na revista Genome Biology and Evolution mostrou que a rápida evolução nos morcegos pode ser responsável pela extraordinária capacidade destes animais de hospedar e sobreviver a infeções, assim como para evitar o cancro.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
CANCRO, INVESTIGAÇÃO E NOVAS TERAPIAS
A ciência avançou prodigiosamente na luta contra o cancro, mas o mundo natural tem sido o arsenal mais eficaz da medicina, fornecendo desde antibióticos a potentes fármacos. LER MAIS
Os morcegos são excecionais entre os mamíferos não só pela sua capacidade de voar, mas também pela sua longa vida, baixas taxas de cancro e sistemas imunitários robustos. Acredita-se ainda que tenham desempenhado um papel no surgimento do SARS-CoV-2. A capacidade para tolerarem infeções virais pode ser resultado de características incomuns da sua resposta imune inata.
E são precisamente essas características que o tornam um animal interessante para investigar, por poderem ter implicações na saúde humana. Por exemplo, ao compreender melhor os mecanismos do sistema imunitário dos morcegos que lhes permitem tolerar infeções virais, os investigadores podem obter novos conhecimentos para prevenir surtos de doenças de animais para pessoas.
Além disso, as análises genómicas comparativas entre morcegos e mamíferos suscetíveis ao cancro poderão eventualmente fornecer novas informações sobre as causas do cancro e as ligações entre o cancro e a imunidade.
Estudos em morcegos e outros organismos complementam as investigações baseadas em modelos de ratinhos; os ratos são mais recetivos à manipulação experimental do que os morcegos, no entanto, exibem menos características com implicações para as doenças humanas.
A partir de amostras de morcegos recolhidas com a ajuda do Museu Americano de História Natural em Belize, os especialistas sequenciaram o genoma de duas espécies: o morcego-da-fruta jamaicano (Artibeus jamaicensis) e o morcego bigodudo mesoamericano (Pteronotus mesoamericanus).
A equipa encontrou adaptações genéticas em seis proteínas relacionadas com a reparação do ADN e 46 proteínas em morcegos que estavam relacionadas com o cancro, o que significa que os especialistas já sabem que tais proteínas suprimem o cancro. O estudo permitiu descobrir que estes genes alterados relacionados com o cancro foram enriquecidos mais de duas vezes no grupo dos morcegos em comparação com outros mamíferos.
Armin Scheben, autor principal do artigo, realça que ao gerar estes novos genomas de morcegos e ao compará-los com outros mamíferos, continuam a encontrar-se novas adaptações extraordinárias em genes antivirais e anticancerígenos.
Essas investigações são o primeiro passo para traduzir a investigação sobre a biologia única dos morcegos em descobertas relevantes para a compreensão e tratamento do envelhecimento e de doenças, como o cancro, em humanos.