Há cada vez mais doentes com fibromialgia em Portugal
A propósito do Dia Mundial da Fibromialgia, assinalado a 12 de maio, a MYOS, a associação nacional contra a fibromialgia e a encefalomielite miálgica/síndrome da fadiga crónica (EM/SFC), lançou a campanha “Estou bem” com o objetivo de aumentar a consciencialização da população para o estigma associado a viver com fibromialgia, uma doença considerada invisível, mas cujo sofrimento é real.
DOENÇAS E TRATAMENTOS
FIBROMIALGIA
Este síndrome musculoesquelética provoca dor generalizada intensa nos tecidos moles (músculos, ligamentos ou tendões), mas não afecta as articulações e ossos como ocorre na artrite reumatóide. LER MAIS
A campanha pretende comunicar esta invisibilidade, e alertar a população de que apesar de uma pessoa “parecer bem” pode estar a vivenciar um conjunto de sintomas geralmente mal compreendidos.
A fibromialgia é uma síndrome crónica caracterizada por queixas dolorosas neuromusculares difusas e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas. Apesar de haver descrições da doença desde meados do século XIX, só no final da década de 70 foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde.
Os sintomas passam, entre outros, pela dificuldade de concentração, défice de atenção e alterações ligeiras da memória. A doença pode ainda associar-se a depressão e/ou ansiedade, havendo outras queixas a nível físico que são muito frequentes, como dor abdominal e alterações do trânsito intestinal (no contexto de síndrome do cólon irritável), prurido (comichão), parestesias (sensações de dormência ou formigueiro) e mesmo o fenómeno de Raynaud (alteração da coloração das extremidades, sobretudo dos dedos da mão, com a exposição ao frio, tornando-se pálidos, de cor azulada ou ruborizada).
A fibromialgia afeta homens, mulheres e crianças de todas as idades, etnias e estatutos. Estima-se que afete, mundialmente, cerca de 2% a 8% da população adulta, dependendo dos países, em que 80% a 90% são mulheres entre os 20 e os 50 anos e a incidência aumenta progressivamente com a idade.
Em Portugal, os resultados do estudo de Saúde nacional EpiReumaPt, organizado pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), revelaram que o número de doentes com fibromialgia tem aumentado e que a prevalência estimada é de 1.7% (1.3 a 2.1%), com predomínio nas mulheres acima dos 40 anos. Existem, no entanto, muitos casos que não estão diagnosticados.
Susana Capela, reumatologista do Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte, refere que pelo facto de o diagnóstico de fibromialgia ser clínico e na maioria dos casos os exames complementares de diagnóstico não demonstrarem alterações, os doentes podem passar vários anos com sintomas até obterem um diagnóstico correto. Este atraso no diagnóstico torna mais difícil a resolução dos sintomas, havendo uma maior refratariedade à terapêutica.
Deve ser dada atenção a situações de insónia e alterações do padrão do sono, alterações cognitivas minor, nomeadamente as que se refletem a nível laboral, e instalação de cansaço crónico que interfira com a qualidade de vida do doente. Uma abordagem prematura destas situações pode impedir a progressão para fibromialgia, pelo que um diagnóstico precoce é fundamental.
Segundo a SPR, o tratamento da fibromialgia deve ser holístico e multimodal, intervindo a nível não farmacológico e farmacológico com múltiplos fármacos, de maneira a controlar a sintomatologia.
A compreensão e o conhecimento da doença pelo próprio doente e pelas suas famílias, e dos potenciais fatores desencadeantes de crise, como o stress, também são úteis na gestão da doença, pelo que a educação é a base do tratamento.