Pulseira que previne picadas de mosquito
A investigadora Filipa Fernandes, antiga aluna da escola de Engenharia da Universidade do Minho (UMinho), criou uma pulseira odorífera que leva os mosquitos a confundir os humanos com plantas, prevenindo assim as picadas associadas a doenças como a malária, dengue ou zika, foi ontem anunciado por aquela instituição, através de comunicado.
MEDICINA E MEDICAMENTOS
MOSQUITOS PORTADORES DE DOENÇAS
A grande maioria dos insetos é inofensiva para o ser humano. Mas também os há que incomodam com picadas, por vezes dolorosas. Os mais perniciosos são, no entanto, os portadores de doenças e morte. LER MAIS
A pulseira foi desenvolvida ao longo de cinco anos, e é produzida à base de silicone medicinal contendo no seu interior um composto de cera e derivados de plantas, que em contacto com o calor corporal, liberta de forma controlada um odor semelhante a plantas, que confunde os insetos.
O comunicado da UMinho, refere que aquela tecnologia, denominada X-OCR, está a ser submetida a registo de patente e foi agora testada com 98% de sucesso em 300 pessoas no Brasil, prevendo-se novo teste para breve em Burkina Faso, com o aval da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A pulseira é produzida em Vila Verde, distrito de Braga, através da start-up Ooze Nanotech, e começou a ser vendida este mês, em seis cores, em style-out.com e em farmácias do sul do país, mas o foco principal está nas regiões tropicais e subtropicais. “Podemos ajudar a diminuir a mortalidade destas doenças e, quiçá, a erradicar a propagação, além de permitir poupanças aos sistemas nacionais de saúde”, admite, citada no documento, a investigadora e autora da pulseira.
Citando estudos, a investigadora fez notar que só no Brasil, os mosquitos custam 410 milhões de euros por ano ao Governo e, em África, morrem duas crianças a cada minuto. “As mortes são casos extremos, mas importa contar também todos os doentes e os milhões de pessoas que são picadas”, sublinha.
A investigadora diz que cada pulseira tem um raio de ação de 60 centímetros e uma duração de 30 dias. “Só sentimos um leve aroma ao colocar a pulseira, ao contrário dos mosquitos, que até se podem aproximar e pousar em nós, mas não vão picar, pois desta vez julgam estar sobre uma planta e irão procurar o alimento (sangue), em outros animais”, frisa.
As plantas utilizadas são citronela, neem (ou nim) e lavanda, a combinação que, segundo Filipa Fernandes, “se revelou mais eficaz para confundir” as espécies de mosquitos ‘Anopheles’ e ‘Aedes’, transmissoras de doenças como malária, zika, dengue, febre amarela e chikungunha.
Os ensaios em contexto real arrancaram no Ceará, nordeste do Brasil. “Foram um sucesso e com inúmeros relatos de felicidade. Um jovem deu a sua pulseira à avó fragilizada para a proteger. Não é medicamento, mas claramente previne o contacto com mosquitos e doenças associadas e é uma esperança para quem vive nesses ambientes tropicais”.
Prevê-se novo ensaio na Unidade de Investigação Clínica de Nanoro, no Burkina Faso, com a supervisão da OMS, estando a aguardar-se financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates. Outro desafio é o dispositivo poder camuflar também os humanos perante as espécies “Culex”, transmissoras da febre do Nilo, entre outras doenças. “Cada espécie de mosquito mostra repulsa por plantas específicas, como quando gostamos ou não de um perfume, e estamos a apurar a equação certa neste caso”, diz ainda a investigadora.