Composto alucinógeno de cogumelo revela eficácia contra depressão
O composto ativo do cogumelo mágico, usado há milénios como droga alucinógena em rituais espirituais, aumenta a conectividade cerebral em pessoas com depressão. É o que acabam de demonstrar o Dr. Richard Daws e a sua equipa do Imperial College, no Reino Unido, e da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos EUA.
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DEPRESSÃO - A GUERRA ENTRE A APATIA E O ÂNIMO
A depressão é uma das mais frequentes doenças psiquiátricas. Pode afectar todas as pessoas em qualquer idade e, se não for tratada, pode, em última análise, levar ao suicídio. LER MAIS
A Organização Mundial da Saúde estima que até 5% dos adultos em todo o mundo sofram de depressão, tornando difícil o envolvimento na vida quotidiana.
No estudo, publicado na revista científica Nature Medicine, os investigadores estudaram o efeito da psilocibina, o composto psicadélico encontrado nos cogumelos mágicos, tendo verificado que a substância ajuda a “abrir” o cérebro de pessoas deprimidas, permitindo que as regiões do cérebro conversem mais livremente umas com as outras.
Os padrões de atividade cerebral na depressão podem tornar-se rígidos e restritos, e a psilocibina pode ajudar o cérebro a sair dessa rotina de uma maneira que as terapias tradicionais com antidepressivos não têm conseguido.
Durante o estudo foram analisados exames cerebrais de cerca de 60 pessoas que estavam a receber tratamento para a depressão. Além de abrir a possibilidade de uma nova terapia, a equipa é a primeira a descrever como a psilocibina exerce os seus efeitos no cérebro.
Os resultados, compostos por duas experiências combinadas, revelaram que as pessoas que responderam à terapia assistida por psilocibina mostraram aumento da conectividade cerebral não apenas durante o tratamento, mas até três semanas depois. O efeito de “abertura” no cérebro foi associado a melhorias nos sintomas da depressão, de forma persistente, mesmo após a suspensão da droga.
Para comparação os investigadores trataram também um grupo de pacientes que tomavam o antidepressivo convencional escitalopram. Neste grupo de controle não se observaram mudanças semelhantes na conectividade cerebral, o que sugere que o psicadélico funciona de maneira diferente no tratamento da depressão.
Os investigadores alertam que, embora os resultados apurados sejam encorajadores, os ensaios que avaliaram a psilocibina na depressão ocorreram sob condições clínicas controladas, usando uma dose regulamentada formulada em laboratório, uma versão sintética, e não o composto extraído do cogumelo.
Importa referir ainda que todos os voluntários estavam sob um amplo apoio psicológico antes, durante, e após a dosagem, prestado por profissionais de saúde mental.
Por essa razão, os pacientes com depressão não devem tentar a automedicação com a psilocibina, uma vez que consumir cogumelos mágicos, ou o composto, sem precauções pode não ter um resultado positivo.
As descobertas, contudo, são um bom presságio para investigações sobre outras doenças mentais. A equipa está atualmente a estudar o uso de psicadélicos para a anorexia e espera obter financiamento para testar a psilocibina como tratamento para adições.