Cérebro encolhe com a Covid-19
Cientistas do Reino Unido constataram que a Covid-19 pode encolher o cérebro de pacientes afetados, sendo que a redução atinge principalmente áreas envolvidas no processamento do olfato e da memória.
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Publicado na revista científica Nature, o estudo foi desenvolvido por uma equipa de cientistas da Universidade de Oxford que terão detetado maior perda de massa cinzenta e anormalidades no tecido cerebral de quem testou positivo para o SARS-CoV-2. As sequelas são, ao que tudo indica, temporárias e podem surgir mesmo em casos ligeiros de Covid-19.
Gwenaëlle Douaud, professora de neurociências da Universidade e autora da investigação, refere que apesar da infeção ser leve para 96% (a maioria) dos participantes do estudo, foi possível observar uma maior perda de volume de massa cinzenta e o maior dano tecidual nos participantes infetados, em média, 4,5 meses após a infeção.
O estudo permitiu ainda identificar que os pacientes apresentavam declínio das habilidades mentais para realizar tarefas complexas. Essa piora mental estava parcialmente relacionada a essas anormalidades cerebrais. Todos esses efeitos negativos foram mais acentuados em idades mais avançadas.
Para a investigação os cientistas consultaram informações relativas a 785 indivíduos do Biobank, um banco de dados biológicos do país, com idades compreendidas entre os 51 e os 81 anos. De março de 2020 a abril de 2021, analisaram as TAC e ressonâncias magnéticas de 401 casos, antes e depois de 4,5 meses após a infeção por Covid-19. Dos infetados, 15 (4%) foram hospitalizados em decorrência da infeção. Os outros 384 participantes não receberam um diagnóstico da Covid-19 durante o período do estudo.
Os resultados permitiram concluir que o grupo infetado apresentou uma perda de 0,2% a 2% maior que o grupo controle durante o estudo. Para exemplificar a redução, pessoas com mais de 60 anos perderam cerca de 0,2% a 0,3% da sua massa cinzenta em regiões relacionadas à memória a cada ano. Assim, as alterações são mais significativas que o processo de envelhecimento, por exemplo.
A equipa precisa de entender agora os desdobramentos desta descoberta na saúde dos indivíduos. Há que investigar se esses efeitos persistirão a longo prazo, ou se as complicações podem ser revertidas parcialmente ou de forma completa no futuro.
Para já, as descobertas levantam a possibilidade de que as consequências a longo prazo da infeção por SARS-CoV-2 possam contribuir mais tarde para a doença de Alzheimer ou outras formas de demência.