Tecido sintético pode reparar coração, músculos e cordas vocais
Combinando conhecimentos de Química, Física, Biologia e Engenharia, uma equipa de cientistas da Universidade McGill, no Canadá, desenvolveu um biomaterial resistente o suficiente para reparar o coração, músculos e cordas vocais, o que representa um grande avanço na medicina regenerativa.
MEDICINA E MEDICAMENTOS
BIOTECNOLOGIA: A ALQUIMIA DOS TEMPOS MODERNOS
O toque de alvorada da indústria da biotecnologia soou quando se realizaram as primeiras experiências de splicing genético, isto é, a modificação da informação genética do DNA para o RNA após a transcrição. LER MAIS
Coordenado pelo professor Dr. Luc Mongeau e pelo professor Dr. Jianyu Li, o estudo permitiu desenvolver um hidrogel (biomaterial feito de água e poliamida, que dá espaço para as células viverem e crescerem). Uma vez injetado no corpo, este biomaterial forma uma estrutura estável e porosa que serve de suporte para que as células vivas cresçam, ou permite que “caminhem” para reparar os órgãos lesados.
Segundo o Professor Guangyu Bao, outro dos autores do estudo, a diferença entre este método e os convencionais está na sua tenacidade e elasticidade e ainda pelo facto de favorecer a proliferação e o crescimento de células teciduais. Os hidrogéis já existentes não resistiam o suficiente para ajudar na cicatrização desse tipo de lesões, explica.
E refere que as pessoas que recuperam de problemas cardíacos, por exemplo, enfrentam com frequência uma jornada longa e complicada. Segundo o cientista, a cura é ainda um desafio devido ao movimento constante que os tecidos devem suportar à medida que o coração bate.
O mesmo se aplica às cordas vocais. Até agora não existia material injetável resistente o suficiente para esse trabalho.
Os cientistas testaram a durabilidade do hidrogel numa máquina cicladora que desenvolveram para simular a biomecânica extrema das cordas vocais humanas. Vibrando a 120 vezes por segundo por mais de 6 milhões de ciclos, o novo biomaterial permaneceu intacto enquanto outros hidrogéis padrão se romperam em pedaços, incapazes de lidar com as tensões da carga e com o desgaste.
Antes deste estudo nenhum hidrogel injetável possuía alta porosidade e resistência ao mesmo tempo. Para resolver esse problema, foi introduzido um polímero formador de poros na fórmula.
Os cientistas consideram os resultados da experiência promissores e referem que talvez seja possível que o novo hidrogel seja usado como um implante para restaurar a voz de pessoas com cordas vocais danificadas, como por exemplo, em sobreviventes de cancro da laringe.
Esta inovação abre ainda novos caminhos para outras aplicações, como a entrega de medicamentos, engenharia de tecidos e a criação de modelos para novos tratamentos. A equipa está agora a tentar usar a tecnologia de hidrogel para criar pulmões para testar medicamentos contra a Covid-19.
Este estudo, publicado na revista científica Advanced Sciences, destaca a sinergia da Ciência dos Materiais, Engenharia Mecânica e Bioengenharia na criação de novos biomateriais com desempenho sem precedentes. E os investigadores estão ansiosos para o transpor para a prática clínica.