A pandemia provocada pela covid-19 revelou a todo o mundo, de forma definitiva, que a saúde humana pode ser drasticamente ameaçada pelas desigualdades socioeconómicas, políticas erráticas agravadas por crises governativas, bem como pelo desequilíbrio ambiental, tudo interligado e igualmente corresponsável.
O planeta passa por diferentes crises que se interligam na dimensão ambiental, económica e de saúde, agravadas pelas crises de governação, um pouco por todo o mundo. No entanto, tantas crises em simultâneo, também oferecem à humanidade a rara oportunidade de redirecionar os seus esforços de desenvolvimento e bem-estar para modelos mais sustentáveis, recorrendo menos ao uso de combustíveis fósseis e principalmente a uma utilização menos predatória dos recursos naturais.
Sabe-se que os vírus são um componente da biodiversidade e as entidades biológicas mais abundantes do planeta, sendo que os países com grande diversidade, elevados graus de vulnerabilidade social e degradação ambiental, possuem grande probabilidade de que os novos patógenos que vivem alojados em espécies selvagens passem para hospedeiros humanos.
Em grande parte, isso depende dos cenários de transmissão, que nos mercados tradicionais asiáticos de frescos são altamente favoráveis, situação que é agravada pela alta densidade populacional, o que não se verifica na generalidade dos países ocidentais.
Por outro lado, o contacto com vírus novos e desconhecidos tem vindo a tornar-se muito mais frequente à medida que a destruição de nossos biomas, a sua redução, fragmentação e perda de habitats, acelera o contacto do Homem com novos vírus. Considerando a nefasta sinergia entre as mudanças climáticas globais e as taxas de extinção de espécies, o Homem é a única espécie no planeta responsável pelas pandemias que ocorreram no último século e pela última que vivemos, provocada pela covid-19.
Se por um lado a origem dos vírus está na biodiversidade, sem dúvida ela também é um enorme repositório de fármacos e pode vir a ser uma importante fonte de novos agentes antimicrobianos, antitrombóticos e antivirais. Atualmente a biodiversidade é a origem de uma significativa gama de moléculas utilizadas na preparação de antivirais utilizados nos tratamentos de VIH, hepatite B e C, herpes simplex e influenza A e B, além de já existirem mais de 40 compostos internacionalmente aprovados para a terapêutica de 10 viroses, por exemplo.
A situação é ainda mais crítica no caso das doenças negligenciadas, nas quais, por falta de retorno económico, não há sequer linhas de pesquisa continuadas. Contudo, apesar de todas as perdas e instabilidade criadas pela pandemia e pela atual situação político-militar, é possível perceber que o momento também permite aprender, com esses eventos e reconhecer em particular a ligação existente entre biodiversidade, os serviços ecossistémicos e a saúde humana, para reunirmos esforços e procurarmos evitar o surgimento de novas pandemias tão devastadoras como a provocada pela covid-19.
Contrariamente à crise pandémica atual, cuja solução segundo os especialistas pode ser esperada com alguma segurança para os próximo dois ou três anos, a solução da crise climática e a mitigação da crise da biodiversidade, são alvos mais distantes no tempo, pois dependem de profundas alterações transformadoras, quer no modelo de desenvolvimento global, como nos atuais padrões de consumo humano.
A crise planetária provocada pela pandemia veio demonstrar que é imprescindível a elaboração de um plano de desenvolvimento de ação global que não pode prescindir da sustentabilidade e utilização dos recursos naturais de maneira que estes não sejam destruídos e a criação de estratégias de prevenção de novas pandemias originadas por zoonoses, tais como a interdependência entre a manutenção da biodiversidade e a relação saudável entre o homem e o meio ambiente.
Visando um desenvolvimento sustentável de longo prazo, alterações transformativas nos fatores indiretos de destruição da biodiversidade irão ser necessárias, incluindo mudanças comportamentais, sociais, económicas, culturais e institucionais, bem como nas dimensões técnicas e tecnológicas, associadas a intervenções diretas nos fatores de mudança na biodiversidade e nos serviços dos ecossistemas que possam influenciar os benefícios que a humanidade deles retira.
Perspetivar o futuro da humanidade para o próximo século nesta matéria não é tarefa fácil, especialmente para a nova geração do milénio, para a qual parece bastante sombrio. Desde o final do século XVIII, quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima do Planeta e no funcionamento dos seus ecossistemas, devido principalmente à Revolução Industrial, muitas espécies foram extintas e a maioria dos especialistas concorda que as atividades humanas têm acelerado a taxa de extinção, realidade por demais evidente para o comum dos mortais.
Para que a humanidade possa atingir o seu objetivo de um futuro mais sustentável e próspero, enraizado numa natureza em crescimento, é fundamental abrir um espaço para perspetivas mais plurais da relação homem-natureza.
Nunca a humanidade conheceu um nível de bem-estar a nível global como o de hoje. Com crises de vária natureza no Planeta, é crucial a elaboração de planos de desenvolvimento globais que não podem prescindir da sustentabilidade e utilização dos recursos naturais de maneira que não sejam destruídos, bem como de um plano económico exequível para a saúde, abrangendo a interação de vários sectores de políticas públicas e vigilância sanitária, no entendimento da indispensável integração entre saúde, ser humano e biodiversidade a nível global.
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A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.