Os períodos de canícula ou ondas de calor, que ocorrem ciclicamente durante um período mais ou menos prolongado de tempo excessivamente quente e que este ano já atingiram vastas regiões do mundo, são também normalmente acompanhados de excesso de humidade, e habitualmente mais comuns em regiões de clima temperado, como por exemplo na europa.
A ocorrência de episódios de ondas de calor são cada vez mais frequentes e, segundo indicam os cientistas que estudam os fenómenos das alterações climáticas no planeta, estão a estas associadas.
A perceção geral do aumento anormal e muitas vezes brusco da temperatura do ar, em regiões ou zonas geográficas específicas, verificável por instrumentos e outros meios científicos durante os períodos de tempo em que ocorrem, é classificado como onda de calor pelas agências ou institutos meteorológicos a quem compete definir os critérios para a consideração de uma época quente como tal. Esse critério considera normalmente um período mínimo de 3 dias com temperaturas anormalmente elevadas.
A expressão vulgarmente referida como “onda de calor” depende da temperatura considerada “normal” para cada zona, pois uma mesma temperatura num clima quente poderá ser referenciada como normal, enquanto que em zonas de clima temperado, com temperaturas médias mais baixas, poderá ser uma onda de calor.
Estes alterações bruscas de temperatura que podem ocorrer habitualmente ao longo de um período de canícula num verão ou podem resultar de um incremento anormal de temperatura que ocorre uma vez por década ou mesmo por século, são consideradas por uma grande parte de cientistas como “fenómenos naturais”. Não obstante, como hoje é sabido, também a “mão do homem” tem vindo a contribuir para a degradação ambiental, causa primeira dos epifenómenos que têm devastado cada vez maiores regiões do globo devido ao aquecimento global, provocado pela redução das camadas de ozono.
Devido a vários fatores de natureza orológica, geofísica e meteorológica, nem sempre fáceis de compreender, algumas regiões do globo são mais suscetíveis às ondas de calor que outras. Regiões de clima mediterrânico, por exemplo, apresentam dias de canícula em que se produzem ondas de calor de duração variável, podendo esses períodos converter-se localmente em extremamente quente.
As ondas de calor têm como consequência mais grave, o potencial de mortalidade que podem originar por hipertermia, com especial incidência nas pessoas mais idosas, nas crianças e pessoas doentes ou acamadas. Por outro lado, quando estas coincidem com os períodos de seca, além de poderem favorecer o aparecimento e propagação de incêndios, que tão graves prejuízos provocam geralmente aos agricultores incrementam o consumo de água e energia além de inflacionarem os preços.
Consequências das ondas de calor
As ondas de calor que assolaram a Península Ibérica no verão de 1965, provocaram um aumento considerável do consumo de energia elétrica tendo levado a que o preço médio no mercado diário de produção, segundo o Operador de Mercado Elétrico, tivesse aumentado 24,3% durante esse mês. Além disso, o aumento do consumo que deriva da onda de calor dá origem a eventuais cortes de fornecimento, que só poderão ser mitigados caso haja alternativas energéticas suficientes, em especial de energia solar e eólica.
A nível global, as alterações climáticas têm sido responsáveis por uma séria de eventos climáticos com consequências catastróficas, destacando-se neste âmbito as ondas de calor, que como referido são fenómenos extremos que ocorrem esporádica e ciclicamente em qualquer região do planeta, sendo o episódio mais conhecido o que ocorreu em Chicago em 1995 que durante cinco dias de calor extremo provocou 739 óbitos e afetou múltiplos sectores da economia.
Na Austrália, uma onda de calor que ocorreu em 2009, provocou estragos estimados em mais de 800 milhões de dólares. São no entanto os problemas relacionados com o stress térmico, com a morbilidade e a mortalidade que mais têm preocupado as autoridades nacionais e internacionais de saúde, que se têm debruçado sobre esta questão por forma a criarem planos de prevenção e alerta para as populações, que não estão suficientemente adaptadas às condições ambientais de variação brusca a que são sujeitas.
Tendo em conta a sua localização geográfica, Portugal é um dos países europeus mais vulneráveis às alterações climáticas e aos fenómenos climáticos extremos, existindo registos sugerindo que há uma tendência consistente para o aumento da temperatura média global assim como para o incremento do número de dias por ano com temperaturas anormalmente elevadas, que por sua vez originam um incremento na mortalidade, em particular nas populações mais fragilizadas.
Na realidade, Portugal observou a ocorrência de 49 episódios de ondas de calor em apenas 17 anos, dois dos quais, em 2003 e 2013, provocaram um número de óbitos muito elevado. Por outro lado, enquanto que em 2003 se verificaram 1953 óbitos, uma década depois registaram-se 1684 mortes associadas ao anormal excesso de calor, revelando-se assim a fragilidade da população que não está adaptada a um problema ambiental grave que afeta sobretudo os idosos e os indivíduos portadores de doenças crónicas.
Excetuando a onda de calor que ocorreu em junho, este ano Portugal tem sido poupado às condições de calor extremo que têm vido a assolar o resto da europa, com particular incidência em algumas capitais da europa central onde se registam temperaturas de 45º C, cerca de um grau acima do recorde anterior registado em 2003.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a onda de calor que ocorreu em junho, ficou a dever-se à combinação de vários fatores, como a duração (seis dias), as altas temperaturas e a altura do ano, o que fez com que esta onda de calor não tenha tido precedentes.
Plano de contingência – verão 2019
Tendo em conta a sua localização geográfica, Portugal é um dos países europeus mais vulneráveis às alterações climáticas e aos fenómenos climáticos extremos, havendo registos a sugerir que no nosso país existe uma tendência para o aumento da temperatura média global, assim como para o aumento do número de dias por ano com temperaturas anormalmente elevadas.
Temperaturas extremas ocorrem com frequência no final da primavera e no verão, não apenas pontualmente mas durante períodos continuados de tempo, podendo originar efeitos graves sobre a saúde, nomeadamente desidratação e descompensação de doenças crónicas, sendo também relevantes os afogamentos, as toxinfeções alimentares, o aumento da população de vetores, nomeadamente mosquitos e carraças, tudo isto agravado ainda pelos incêndios, fatores que em muito contribuem para o congestionamento dos serviços de saúde devido ao potencial de morbilidade.
Com o objetivo de prevenir e minimizar os potenciais efeitos do calor extremo na saúde da população, desde 2017 que a Direção-Geral da Saúde (DGS), procede à divulgação do Plano de Contingência adotado em 2004 e atualmente em vigor, baseado nos efeitos ambientais na saúde e disponível em tempo real no portal do SNS.
Riscos do calor excessivo
Dados da DGS, alertam para que a exposição excessiva a calor intenso é uma agressão ao organismo, podendo levar a desidratação, ao agravamento de doenças crónicas, a um esgotamento ou a um golpe de calor. As pessoas expostas a temperaturas elevadas deverão manter-se atentas a alguns sintomas associados a um esgotamento por calor, designadamente cansaço, fraqueza ou desmaio, cãibras musculares, náuseas e vómitos, transpiração excessiva, respiração rápida, pele fria e húmida, pulso fraco e acelerado e dores de cabeça. Se estes sintomas persistirem por mais de uma hora e a vítima sofrer de problemas de coração ou hipertensão, deve procurar ajuda médica imediata.
Porém, o risco mais grave é o chamado golpe de calor, que pode provocar danos irreversíveis à saúde e até levar à morte. O golpe de calor manifesta-se por febre alta, dores de cabeça e tonturas, pulso rápido e forte, confusão, náuseas, perda de consciência, contrações musculares e pele seca, sem suor. Com estes sintomas, a vítima corre real perigo de morte, sendo indispensáveis cuidados médicos de emergência.
Medidas de proteção do calor
Em caso de exposição a uma onda de calor, as pessoas mais vulneráveis, designadamente crianças de tenra idade, portadores de doenças crónicas, obesas, acamadas ou a tomar medicamentos diuréticos, anti-hipertensores ou antidepressivos, manifestarem sintomas pouco habituais para além dos já referidos, deverão consultar a linha de SAÙDE 24 ou o seu médico.
A fim de evitar problemas mais graves, recomenda-se que as pessoas tomem algumas medidas elementares para se protegerem do calor excessivo como:
– evitar a exposição direta ao sol entre as 11 e 16 horas;
– na praia, usar sempre um protetor solar adequado a cada tipo de pele, mas nunca de índice inferior a FPS30, mesmo quando debaixo do chapéu de sol pois este não protege dos raios UV;
– usar chapéu e óculos escuros, especialmente para pessoas de pele clara, e ter especial cuidado com as crianças;
– usar roupa leve e clara de preferência de algodão ou linho;
– nos períodos em que se anunciem ondas de calor, os bebés e as pessoas consideradas mais vulneráveis, deverão permanecer afastadas dos raios solares;
– evitar esforços físicos e repousar com frequência em locais frescos à sombra;
– ingerir água ou sumos de fruta naturais com alguma frequência;
– evitar bebidas alcoólicas e fazer refeições leves e pouco condimentadas;
– quando em casa, evitar a entrada de ar quente e durante a noite abrir as janelas.
Os especialistas alertam para que as ondas de calor anormal do verão de 2018 e 2019, poderão ser apenas o início de um período anormalmente quente numa dimensão geográfica surpreendente, que se irá prolongar pelo menos até 2022, o que vem reforçar a tendência de longo prazo do aquecimento do planeta. Por isso fiquemos atentos!