EMERGÊNCIAS E URGÊNCIAS HOSPITALARES

EMERGÊNCIAS E URGÊNCIAS HOSPITALARES

SOCIEDADE E SAÚDE

  Tupam Editores

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Os Serviços de Urgência (SU) são complexos em termos de cuidados de saúde prestados e têm uma grande afluência de casos realmente emergentes, de casos de menor gravidade mas que exigem rápida intervenção, e ainda de casos sem qualquer gravidade.

Por se tratar de serviços multidisciplinares que concedem cuidados de saúde em todas as situações consideradas urgentes e emergentes, o seu funcionamento tem sido uma preocupação constante do Serviço Nacional de Saúde.

Por múltiplas razões, os SU transformaram-se progressivamente na porta de entrada no SNS e em grandes consumidores de recursos humanos e financeiros, condicionando, em muitos hospitais, o funcionamento regular de todos os outros serviços de ação médica, de ambulatório e dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica.

E as múltiplas intervenções que têm vindo a ser realizadas na distribuição dos SU não resolveram as imensas disfunções existentes, contabilizando-se anualmente milhões de urgências.

Destas, pelo menos 50 por cento não necessitam de um atendimento em SU hospitalar, mas devido à dificuldade em aceder aos cuidados de saúde primários ou pela percepção de que aí o atendimento é mais eficiente, é lá que os utentes vão procurar ajuda, com todas as consequências que daí advém para os vários intervenientes.

Para cerca de 50 por cento das pessoas que necessitam realmente de cuidados de urgência haverá um impacto negativo na qualidade dos cuidados prestados devido ao desvio dos recursos humanos.

Sendo a híper-utilização das urgências um fenómeno multifatorial é importante que a sua abordagem também seja efetuada em várias frentes como, por exemplo, organização e responsabilização dos cuidados primários; aumento da oferta de cuidados programados; incentivos ao recurso a cuidados programados e penalizações ao recurso inadequado a cuidados de urgência;
melhoria da acessibilidade às consultas hospitalares; desenvolvimento dos cuidados continuados de saúde; alargamento dos serviços de apoio telefónico e teleconferência; reestruturação das urgências hospitalares; implementação de modelos de triagem de prioridades que hierarquizem o tempo e local de atendimento clínico.

Antes de mais, é fundamental a definição clara dos conceitos de situações urgentes e emergentes pois, ainda que os termos sejam parecidos não possuem o mesmo significado.

Emergência e Urgência: entenda as diferenças

Emergência e urgência exprimem conceitos distintos que definem o tipo de tratamento que um paciente recém-chegado a uma instalação hospitalar deverá receber. Ainda que possuam definições diferentes no âmbito da medicina, estas condições são, erradamente, usadas como sinónimos.

Conceptualmente, emergências dizem respeito a situações mais graves que urgências. São consideradas emergências todas as situações clínicas de estabelecimento súbito, em que existe, estabelecido ou eminente, o compromisso de uma ou mais funções vitais, e por essa razão exigem tratamento médico imediato.

Já as urgências são todas as situações clínicas de instalação súbita, desde as não graves até às graves, com risco de estabelecimento de falência de funções vitais, necessitando, por isso, o indivíduo de assistência médica imediata.

Ambas as definições pressupõem atendimento médico rápido e proporcional à sua gravidade, mas no entanto, a emergência exige um tratamento direto devido ao risco iminente de morte ou lesão permanente, como no caso de fraturas expostas, paragens cardiorrespiratórias, AVCs, enfartes e hemorragias graves.

Já a urgência, apesar de requerer uma pronta avaliação médica devido ao risco potencial, não precisa, necessariamente, de uma intervenção instantânea, como é o caso de fraturas não expostas, queimaduras de 1º e 2º grau, apendicites, cólicas renais, aumento de pressão arterial, entre outras.

A necessidade de separar os casos emergentes e/ou urgentes de todos os outros, estabeleceu uma das medidas de maior equidade adotada nos hospitais portugueses.

Na segunda metade do século passado, com o crescente número de utentes que recorriam aos SU, os profissionais e gestores dos serviços de saúde procuraram desenvolver e investir em métodos de triagem para apoiar o profissional de saúde numa identificação rápida dos utentes em situação de doença ou lesão emergente/urgente.

Em termos gerais, um sistema de triagem fornece ao profissional de saúde não um diagnóstico, mas uma prioridade clínica baseada na identificação de problemas. Existem vários sistemas de triagem devidamente validados.

O Sistema de Triagem de Manchester (STM) – criado e implementado em 1997 no hospital de Manchester, Inglaterra -, está implementado em quase toda a Europa, e em Portugal desde 2000, estando acreditado pelo Ministério da Saúde, Ordem dos Médicos (OM), e Ordem dos Enfermeiros (OE). Sabe de que se trata?

O Sistema de Triagem de Manchester

O Sistema de Triagem de Manchester (STM) tem com o objetivo definir níveis de prioridade, identificar critérios de gravidade de uma forma objetiva e sistematizada, indicando a prioridade clínica com que o doente que recorre aos SU deve ser atendido, e o respetivo tempo alvo que é recomendado até à primeira observação médica.

O STM contém cinquenta e dois fluxogramas que abrangem quase todas as situações apresentadas nos serviços de urgência: sete são específicos para crianças e dois para catástrofes.

O evento da triagem é um encontro rápido (deverá decorrer num período de tempo de dois a cinco minutos) e focado, no qual se recolhe informação utilizada para atribuir uma prioridade clínica.

A avaliação clínica forma-se a partir da queixa apresentada – o principal sinal ou sintoma identificado pelo doente ou pelo profissional de saúde que motiva o doente a procurar o SU.

É importante que a avaliação do doente seja sistemática e que todos os elementos dessa avaliação sejam reunidos para dar uma imagem completa da sua situação clínica. Por essa razão, o enfermeiro, para desempenhar de forma adequada a sua função na realização da triagem, deve deter competência, conhecimento, intuição, experiência suficiente de cuidados de urgência e capacidade para comunicar eficazmente com os doentes e as suas famílias.

O STM é composto por uma escala de cinco categorias de prioridade, desenvolvida por um grupo multidisciplinar de especialistas em cuidados de emergência em que cada categoria recebeu um número, um nome, uma cor e um tempo alvo para a observação médica inicial.
1 – Emergente – Vermelho – o doente entrará de imediato na sala a que se destina, sendo o tempo de espera de 0 minutos;
2 – Muito urgente – Laranja – o doente entrará para uma sala de espera interna onde o médico o chamará para ser observado e tratado. O tempo de espera deverá ser até 10 minutos;
3 – Urgente – Amarelo – o doente urgente deverá ser atendido dentro de 1 hora;
4 – Pouco urgente – Verde – aguardará na sala de espera a sua vez, que será quando não existirem doentes mais graves para serem tratados. Deve ser atendido em 2 horas;
5 – Não urgente – Azul – neste caso o tempo de espera pode atingir as 4 horas.

Ao contrário do que ainda se pensa, não são os enfermeiros que “escolhem” a cor da pulseira dos doentes.

O enfermeiro limita-se a seguir um fluxograma de entre os 52 existentes que o vai encaminhando para determinadas perguntas, consoante as respostas do doente, e o sistema encaminha-o para outras perguntas relacionadas com as queixas em questão, até determinar a prioridade clínica e, consequentemente, a cor da pulseira.

Na prática, em muitos casos, os tempos de espera são superiores aos indicados, mas o facto fica a dever-se à falta de pessoal da equipa de saúde e não à má atribuição da cor da pulseira.

O STM faz o seu papel na perfeição, no entanto, a equipa de saúde não é suficiente para o atendimento de tantos doentes em tempo útil, o que poderá levar ao agravamento da sua situação clínica enquanto se encontram em espera.

Urgências só para quem não pode esperar…

As chamadas “falsas urgências” continuam a saturar os Serviços de Urgência dos hospitais do SNS.

Prefere-se ir ao hospital, por se saber que ali é diagnosticado de imediato e que caso sejam necessários exames, estes serão realizados no momento. Estas vantagens contribuíram para criar o hábito na população de se dirigir automaticamente às urgências hospitalares, sem pensar nas alternativas.

O ideal seria que, antes de uma eventual urgência, se informassem sobre os locais aos quais se podem deslocar. Quem tenha um seguro de saúde deve ler bem todos os documentos da companhia seguradora para saber quais os seus direitos, nomeadamente em relação às unidades privadas com serviço de atendimento permanente.

Além disso, se a situação não for de gravidade imediata, a opção mais acertada é procurar o médico de família, que melhor saberá acompanhar o historial clínico de cada um.

Os SU são só para... urgências. Pode parecer redundante, mas não é o que referem médicos e enfermeiros que trabalham nesses serviços, a braços com inúmeras situações não urgentes e doentes com problemas crónicos.

A urgência do hospital deve ser utilizada apenas nos casos de urgência e emergência, diante de imprevistos.

Estes serviços não estão preparadas para gerir cuidados de saúde de rotina e foram, sim, criados para atender os casos em que a ida ao hospital é absolutamente necessária. Por isso, é importante saber distingui-los para, antes de ir ao hospital, avaliar bem a sua situação. Ajude os profissionais de saúde a ajudá-lo a si!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
20 de Setembro de 2024

Referências Externas:

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