Podemos considerar o apetite como a vontade de comer algo para satisfazer um desejo ou experienciar um gozo imaginado, diferindo consideravelmente do conceito de fome, que é uma sensação fisiológica que o corpo utiliza para sinalizar a necessidade de alimento a fim de manter as suas atividades vitais.
Muito embora em certas regiões do globo, a desnutrição e a fome continuem a grassar, em resultado de situações de pobreza, conflitos políticos e outros fatores, foi sobretudo até meados do século XX, que a desnutrição foi considerada um dos mais graves problemas de saúde pública em todo o mundo. Todavia, passado meio século, a obesidade, hoje considerada uma epidemia a nível global, tomou o seu lugar, tendo-se tornado num dos principais fatores de risco para doenças não transmissíveis que mais contribuem para a mortalidade em todo o mundo.
Segundo o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que mais de mil milhões de pessoas são obesas, nas quais se incluem 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças. Estes números continuam a crescer, estimando-se que até 2025 cerca de 167 milhões, entre adultos e crianças, se tornarão menos saudáveis com peso acima do normal ou mesmo obesas.
Sabemos que a obesidade afeta a maioria dos sistemas do corpo, designadamente o coração, fígado, rins, articulações e sistema reprodutivo, levando a uma série de doenças crónicas não transmissíveis como a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de cancro, bem como problemas de saúde mental, para além de aumentar as hipóteses de hospitalização, devido a infeções por covid-19.
A obesidade tem vindo a crescer exponencialmente, em particular entre as crianças e adolescentes, embora afete pessoas de todas as idades e grupos sociais, quer nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
O aspecto psicológico da obesidade, em particular entre os mais jovens, não é de somenos importância, dado que as pessoas afetadas pela doença são comummente envergonhadas e culpabilizadas, porque muitos, incluindo médicos menos informados, formuladores de políticas e outros, não entendem completamente a doença, que como todas as doenças crónicas tem causas complexas, que derivam de fatores dietéticos, de estilos de vida, psicológicos, genéticos, económicos, ambientais e socioculturais.
A solução para prevenir a obesidade é agir o mais cedo possível, de preferência antes mesmo de o bebé ser concebido e através de uma nutrição adequada durante a gravidez, ao mesmo tempo que é necessário que os países de todo o mundo criem um ambiente colaborativo entre si, por forma a proporcionar condições de uma alimentação saudável e acessível a todos.
Os complexos sistemas biológicos que controlam a ingestão de alimentos permanecem mal conhecidos. Ao longo de milhões de anos de existência do ser humano, a fome representou uma ameaça permanente à sobrevivência da espécie, durante os quais apenas sobreviveram os que tiveram a capacidade de manter um rígido equilíbrio entre a quantidade de calorias ingeridas e as necessidades energéticas de seus organismos, ajustadas às suas diferentes atividades.
Os sobreviventes do longo processo de evolução da nossa espécie, foram capazes de gerar mecanismos biológicos altamente eficientes para evitar a perda de peso. Assim, logo que o cérebro deteta uma diminuição dos depósitos de gordura, a energia que o corpo utiliza para funcionar em repouso e exercer as suas funções básicas no processo metabólico, cai drasticamente, ao mesmo tempo que são enviados sinais de aviso para procurar e consumir alimentos.
Em sentido oposto, quando ocorre aumento de peso os sinais são quase impercetíveis, não se verificando significativo aumento no consumo de energia quando em repouso, a sensação de fome não diminui de forma significativa, nem tão pouco surge estímulo para incrementar a atividade física, surgindo pelo contrário a tendência para o sedentarismo.
Além disso, por razões ainda desconhecidas, o corpo tem tendência a conservar o peso mais elevado atingido anteriormente, como que para proteger as reservas de gordura do organismo, ainda que estejam em níveis muito elevados. Qualquer tentativa para as reduzir é interpretada pelo cérebro como uma ameaça à integridade física.
O apetite e o metabolismo a longo prazo, são controlados principalmente por duas hormonas, a insulina e a leptina, que têm por função avaliar a cada momento os níveis dos depósitos de gordura e ajustar o apetite e a energia que deve ser gasta, em função da sua produção.
A par destas hormonas de controle do apetite e do metabolismo a longo prazo, o organismo produz também outras hormonas para controlar o apetite no dia-a-dia. A primeira a ser descoberta foi a colecistocinina, proteína que é libertada pelo intestino na corrente sanguínea para estimular o centro de saciedade localizado no cérebro e impedir a ingestão exagerada de calorias.
Recentemente, um grupo de investigadores japoneses descobriram a grelina, uma nova hormona que revelou ser um potente estimulador do apetite na rotina diária, que sinaliza a fome quando é chegada a hora de uma refeição. Experiências revelaram que os níveis de grelina na circulação sanguínea aumentam cerca de uma a duas horas antes das principais refeições do dia, sendo que quando a hormona foi administrada a voluntários, produziram um aumento significativo do apetite.
A fim de poderem resistir aos longos períodos de falta de alimentos, nas épocas em que muitas vezes as refeições alternavam com longos períodos de carência, os nossos antepassados mais remotos, foram adaptando os mecanismos cerebrais antagónicos por forma a manter o equilíbrio quando sentimos fome. Porém, aquilo que foi a sabedoria do cérebro para enfrentar a penúria, transformou-se hoje no flagelo da obesidade, devido aos tempos de fartura.
Algumas das estratégias mais usadas para controle do apetite, passam pela obediência a uma certa disciplina que entre outras ações inclui:
- não esquecer de fazer a primeira refeição da manhã com nutrientes que proporcionem a energia necessária para quebrar o longo jejum noturno;
- ingerir mais fibra às refeições e iniciando-as com uma sopa de legumes variados ou saladas que ajudam a reduzir o apetite;
- fazer as refeições em ambientes calmos e sem pressa;
- ao selecionar as plantas e nutrientes para consumo, deverá dar prioridade às fibras solúveis, que proporcionam uma sensação de saciedade mais elevada.
De acordo com o PNPAS, da DGS, a fibra dietética é descrita como uma classe de compostos de origem vegetal constituída sobretudo de polissacáridos e substâncias associadas.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.