A batata azul, ou batata violeta, tem as suas origens nas regiões andinas da América do Sul, onde as comunidades indígenas cultivavam pela primeira vez, diversas variedades de batatas há milhares de anos, tendo emergido como um tesouro culinário, que oferece não somente uma experiência visual única, mas também benefícios nutricionais importantes.

Mais especificamente, a batata azul é associada principalmente ao Peru e à Bolívia, onde é conhecida por diferentes nomes locais, como “papa morada”. No entanto, existe em todo o mundo uma vasta gama de variedades de batatas com cerca de 85 géneros e aproximadamente 3000 variedades, sendo a mais comum, porque mais produtiva, a batata branca ou cerosa, que contém um baixo teor de amido.

A batata mais comummente usada na culinária de todo o mundo é um tubérculo com polpa de coloração amarelada e sabor terroso, utilizada nas cozinhas de todo o mundo, adequada para aplicações que requerem como resultado uma batata firme, após cozinhada.

Porém, entre os milhares de variedades, existem algumas trazidas para a europa no início do século XIX, ou mesmo antes, que aqui se tornaram “vedetas”, devido às suas caraterísticas e peculiaridade única, entre as quais se destaca a batata azul-violeta que se tornou conhecida em França por batata Vitelotte ou Vitelotte Noir, uma variedade gourmet francesa de alta qualidade, muito apreciada na alta gastronomia.

A batata azul é cultivada atualmente em várias regiões do mundo e, devido à sua cor única e ao seu sabor caraterístico, tem vindo a conquistar o gosto de cada vez mais pessoas, independentemente de ter um nível de produtividade baixo. As batatas Vitelotte têm casca azul escura, quase preta, e polpa azul-violeta, com sabor caraterístico de nozes e cheiro de castanha. No cozimento a cor é mantida e fica a dever-se aos pigmentos naturais do grupo das antocianinas dos flavonoides, que além de tudo o mais, também lhe conferem benefícios antioxidantes.

Flavonoides ou bioflavonoides são pigmentos naturais presentes na maioria das plantas, cuja síntese não ocorre na espécie humana. A sua designação é atribuída a um grande grupo de metabolitos secundários da classe dos polifenóis, componentes de baixo peso molecular, que desempenham um papel fundamental na proteção contra agentes oxidantes, como por exemplo, os raios ultravioleta, a poluição ambiental e substâncias químicas presentes nos alimentos, podendo ser encontrados em frutas, flores e vegetais em geral, assim como no mel e em alimentos processados como o chá e vinho.

Já não constitui novidade, mas a invulgar batata azul, depois de ter sido alvo de recentes estudos científicos, veio revelar o seu potencial na prevenção de doenças cancerígenas. A sua composição, similar à batata comum e à batata doce em particular, contém no entanto um elevado teor em antocianinas com forte ação anticancerígena, fazendo da batata azul uma potencial mais-valia na prevenção de determinados tipos de cancro.

Na realidade, desde há muito que que se sabe que as antocianinas são poderosos antioxidantes, elementos capazes de neutralizar a atividade dos radicais livres, moléculas com efeitos nocivos a nível celular e que estão na origem de diversas doenças, como a diabetes, doenças cardiovasculares e determinados tipos de cancro conhecidos.

Pela sua riqueza em antocianinas, a batata azul é um alimento vantajoso não só na prevenção do cancro, como de outras doenças como a diabetes, doenças autoimunes, doenças cardiovasculares e neurodegenarativas. O mais recente estudo científico veio assim reforçar o efeito anticancerígeno da batata azul, com a particularidade de que este efeito se observa mesmo após a cozedura do alimento, atuando não só na prevenção do desenvolvimento, mas também na inibição do crescimento de células tumorais pré-existentes.

De referir ainda, que o potencial efeito anticancerígeno da batata azul pode ficar a dever-se, além da presença de antocianinas, ao efeito conjunto destas substâncias com o ácido clorogénico e o amido resistente, existentes neste invulgar alimento.

A batata Vitellote ou batatata azul, é uma variedade de batata que se destaca pela sua cor distintiva e profunda, que pode variar de roxo escuro a próximo do preto. São de tamanho pequeno a médio, alongadas e delgadas, de formato ovaloide irregular, salpicada de olhos profundos dos grelos e, devido à sua irregularidade, são de fácil manutenção. Tem uma polpa macia, firme e densa, possuindo uma tonalidade roxa profunda ocasionalmente marmorizada com tons brancos.

Se ainda não a conhece, é altura de procurar por batata azul ou Vitellote, um alimento fabuloso de sabor único e com enormes benefícios para a saúde, ainda pouco conhecido em Portugal mas já com alguns pontos de produção ecológica em sistemas de permacultura, com distribuição a partir da internet e do interior do País.