Chegam antes da hora, sem dar tempo para o Chá de Fraldas ou para a decoração do quarto. Os pais nem têm hipótese de os abraçar ou tocar antes de irem para a incubadora. Delicados e vulneráveis, convivem com agulhas, tubos, fios, sondas e alarmes. Um dia estão bem, no outro, lutam para sobreviver e cumprir a jornada que é acabar de crescer fora da barriga da mãe.
A duração normal de uma gravidez é de 37 a 42 semanas. Quando os bebés nascem antes das 37 semanas de idade gestacional está-se perante um bebé pré-termo ou prematuro – uma palavra com origem no étimo latino praematurus, de prae (antes) e maturus (maduro).
Medo, tristeza, frustração, desespero, impotência, esperança e fé, são alguns dos sentimentos experimentados pelos pais de um bebé que teve pressa de nascer – uma situação cada vez mais comum.
Ainda que custe a acreditar, nascem cerca de 15 milhões de bebés prematuros todos os anos no mundo, o equivalente a mais de um bebé em dez. Em Portugal nascem, diariamente, 17 bebés prematuros. O país tem uma das mais altas taxas de prematuridade da Europa, com um registo anual de 8 por cento de partos antes das 37 semanas de gestação.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Pediatria, as crianças que nascem antes das 28 semanas de gravidez têm uma sobrevivência de 70 por cento, e as que nascem antes das 30 semanas, de 80 por cento. Isto porque o bebé prematuro nasce com uma imaturidade dos órgãos e sistemas, o que o torna muito mais vulnerável a determinadas doenças e mais sensível a fatores externos, como a luz e o ruído por exemplo.
Quanto maior a prematuridade, maior a imaturidade e consequente probabilidade de existirem complicações. Em menor ou maior grau, os bebés prematuros revelam dificuldade em cumprir as funções básicas, principalmente em três áreas essenciais: controlo da temperatura corporal, respiração e alimentação.
Por essa razão, podem ter de permanecer na enfermaria da maternidade ou ser admitidos nas Unidades de Cuidados Intermédios ou de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN). Atualmente, os recursos tecnológicos destas unidades permitem dar assistência e possibilitam a sobrevivência dos prematuros.
A colocação dos bebés numa incubadora, ou num berço aquecido, ajuda a manter a sua temperatura corporal, um ventilador ou um respirador ajuda-os a respirar e recebem a alimentação necessária através de um tubo que é colocado no narizinho, no estômago ou numa veia.
A presença dos pais é fundamental em todo o processo. A sua proximidade contribui não só para o bem-estar do bebé, mas também para a sua recuperação; aliás, toda a vinculação estabelecida nesta fase parece propiciar os resultados mais positivos.
Classificação da prematuridade e as idades cronológica e corrigida
Ninguém prepara um pai ou uma mãe para serem pais antes do tempo. O mundo da prematuridade é talvez das aventuras mais assustadoras por que os pais podem passar, independentemente de tudo correr bem ou menos bem. E a diferença do bebé idealizado para o bebé prematuro real é muito, muito grande!
O bebé prematuro pode classificar-se, segundo a idade gestacional, em:
Pré-Termo Limiar: nasce entre as 33 e as 36 semanas de idade gestacional e/ou tem um peso à nascença entre 1500g e 2500g.
Prematuro Moderado: nasce entre as 28 e as 32 semanas de idade gestacional e/ou tem um peso à nascença entre 1000g e 2500g.
Prematuro Extremo: nasce antes de ter completado as 28 semanas de idade gestacional e/ou pesa menos de 1000g. Como consequência desta maior imaturidade, é classificado como grande prematuro e apresenta problemas mais frequentes e graves.
A sua fragilidade e tamanho impressionam, mas não só. Poucas pessoas estão preparadas para os sinais de imaturidade que caracterizam um bebé prematuro: baixo peso; pele fina, brilhante e rosada, por vezes coberta por lanugo (penugem fina); veias visíveis sob a pele; pouca gordura; cabelo escasso; orelhas finas e moles; cabeça grande e desproporcionada em relação ao resto do corpo; músculos fracos e atividade física reduzida; reflexos de sucção e deglutição fracos ou inexistentes, e respiração irregular.
As possibilidades de sobrevivência destes bebés estão condicionadas pela sua idade gestacional, o seu peso ao nascer e pela presença de problemas de saúde significativos aquando do nascimento (respiratórios, cardíacos, infecciosos, malformativos, etc.). O mais importante é, sem dúvida, a idade gestacional, uma vez que esta determina a maturidade dos seus órgãos.
Inicialmente, as incapacidades/sequelas são difíceis de prever. Existem fatores que aumentam o risco, e outros que só se manifestam após alguns dias/semanas de internamento. Consoante a evolução do bebé e os problemas que este apresente, o médico vai informando os pais acerca das possibilidades de sequelas futuras, ainda que algumas só possam ser diagnosticadas em etapas posteriores da vida da criança.
É impossível falar em desenvolvimento e crescimento do prematuro sem falar nos termos “idade cronológica” e “idade corrigida”. Sabe do que se trata?
A idade cronológica é a idade real que o bebé tem, o tempo de vida extrauterino; e a idade corrigida é a idade ajustada ao grau de prematuridade. É a idade que teria se tivesse nascido às 40 semanas.
Embora não esteja totalmente esclarecido até quando se deve corrigir a idade do prematuro, é conveniente utilizar a idade corrigida na avaliação do crescimento e do desenvolvimento físico, intelectual e comportamental até aos 2 anos de idade, a fim de obter a expectativa real para cada criança, sem subestimar o prematuro ao confrontá-lo com os padrões de referência.
Afinal, não se pode exigir que um bebé prematuro se sente, gatinhe, fale ou ande no mesmo período que um bebé de termo. Os prematuros são “mais novos” do que o que a sua idade real nos mostra.
A neonatologia avançou muito nos últimos tempos. O conhecimento e a compreensão da fisiologia dos bebés prematuros e do funcionamento dos órgãos imaturos foi-se acumulando ao longo do tempo.
Graças a uma maior compreensão das particularidades dos recém-nascidos e a melhores equipamentos e medicamentos, as taxas de sobrevivência dos bebés prematuros têm vindo a aumentar significativamente ao longo das últimas décadas, tornando possível o desejo de todos os pais – levar o seu bebé para casa!
Mas, a maior parte das vezes, quando a equipe médica anuncia a alta, o que deveria ser um sonho tornado realidade, torna-se numa fonte de inseguranças, um misto de alegria, medos e fantasias. E surgem muitas dúvidas…
Alta hospitalar: cuidados do prematuro em casa
Apesar da felicidade de levar o bebé para casa, o momento também pode ser de grande ansiedade e angústia para os pais, especialmente quando colocam em causa a sua capacidade para prestar cuidados especializados.
Devem entender, contudo, que se o bebé teve alta é porque já não precisa de cuidados especiais e o seu estado de saúde está controlado. Ainda assim, haverá uma equipa especializada para dar apoio na transição entre a unidade de cuidados neonatal e o lar.
É fundamental que se sintam confiantes nos cuidados a prestar ao bebé, de forma a promover o estabelecimento de relações afetivas e a facilitar a adaptação da criança à família e às rotinas.
A alimentação do prematuro pode ser um desafio para os pais, especialmente nos primeiros dias em casa. Mas por esta altura já cresceu e amadureceu e já pode ser alimentado como os outros bebés. Por ser mais sonolento, pode ser necessário estimulá-lo antes das refeições para que fique desperto o suficiente para mamar. A duração da mamada varia de bebé para bebé mas, os prematuros, precisam de mais calorias quando comparados com crianças nascidas no termo com peso normal.
Pela dificuldade em coordenar a sucção, deglutição e respiração, o prematuro engasga-se com maior frequência. Assim, durante as mamadas devem fazer-se pausas para que possa arrotar (colocando-o em pé no colo). Em caso de engasgamento, deve elevar-se a cabeça do bebé e deixá-lo tossir. Ele vai conseguir resolver sozinho o engasgamento.
Se o bebé dormir por períodos superiores a 4 horas, é necessário acordá-lo para mamar. À medida que vai crescendo e ganhando peso, vai estabelecer o seu próprio ritmo para se alimentar e já pode acordar sozinho quando sente fome.
Devido à imaturidade do sistema gastrintestinal, os bebés prematuros podem bolçar mais. Devem ser tomadas medidas para diminuir o refluxo, como colocar o bebé a arrotar após as mamadas, minimizando a mobilização logo após a refeição e deitando-o com a cabeça mais elevada.
Uma higiene adequada e a troca frequente de fraldas (à volta de 2 a 3 horas ou menos, se necessário) evitam o contacto da pele com fezes e urina, prevenindo o aparecimento de assaduras. Para a higiene pode utilizar-se água e sabonete neutro com algodão ou gaze, ou lenços humedecidos preferencialmente com menos produtos químicos e sem perfume.
O banho deve ser um momento de prazer para o bebé e para os pais. Deve ser rápido, de imersão, com temperatura agradável e em local sem correntes de ar. Mais uma vez, deve ser utilizado um sabonete neutro, que não altere o pH da superfície cutânea e nem irrite a pele do bebé. A pele precisa de ser enxaguada com água morna, e a limpeza deve ser suave, sem esfregar a pele, e seca delicadamente com fralda ou toalha macia e limpa.
Os bebés prematuros têm dificuldade em regular a sua temperatura, por isso os pais devem estar atentos para que não arrefeça, nem aqueça demasiado. Deve observar-se a cor da pele e tocá-la de forma a perceber se está com frio ou, pelo contrário, sobreaquecido.
O choro é a forma que o bebé tem de comunicar. Existem vários motivos que levam o bebé a chorar: fome, fralda suja, sono, desconforto, cólicas, dor, excesso de estimulação. Os pais devem assegurar-se de que as necessidades básicas da criança estão satisfeitas: estar alimentado, com fralda limpa e confortável.
Pela sua imaturidade o prematuro é mais propenso a infeções, que poderão também ser mais graves. Assim, devem tomar-se algumas medidas de forma a evitá-las, tais como: lavar sempre as mãos antes de tocar no bebé e antes de preparar os seus alimentos; lavar escrupulosamente os seu utensílios, tais como biberões e chupetas; não permitir que se fume perto do bebé, preservando-o de ambientes potencialmente poluídos; evitar ambientes com aglomerados de pessoas; tentar que a temperatura dentro de casa seja amena (nem muito frio, nem muito calor) promovendo simultaneamente o seu arejamento; evitar que o bebé contacte com objetos, nomeadamente brinquedos que tenham sido utilizados por crianças ou adultos que estejam doentes; evitar o desenvolvimento de lesões cutâneas; efetuar todas as vacinas recomendadas.
Todas as visitas devem lavar devidamente as mãos antes de tocar no bebé, e não o devem beijar, nomeadamente nas mãos (que ele coloca na boca). O número de visitas e o tempo que permanecem com o bebé deve ser limitado. A necessidade de descanso da mãe deve ser respeitada, para que esteja apta a cuidar do bebé e amamentá-lo.
Para que as viagens de automóvel sejam seguras, todas as crianças têm de ser sempre transportadas num dispositivo de retenção (cadeirinha) homologado e adequado à idade, estatura e peso.
Desde a saída da maternidade, o bebé deve viajar num sistema de retenção voltado para trás. Esta é a posição mais segura para viajar nos primeiros anos, devido ao peso da cabeça e fragilidade do pescoço. Assim, a cabeça, o pescoço e a região dorsal são apoiados uniformemente, estando mais protegidos, em caso de acidente.
O nascimento de um filho é sempre um momento muito desejado e idealizado pelos pais, que sonham com um bebé forte e saudável. Quando são confrontados com a realidade de um bebé prematuro, é normal que as suas emoções se alterem. É importante, acima de tudo, estar informado e saber o que esperar numa situação em que o sonho não corresponde à realidade.
Atualmente, a maioria dos prematuros fica bem no futuro, mas é muito importante os pais estarem juntos e unidos, enquanto casal, e enquanto pais de um bebé tão pequeno mas com um coração, uma força e uma vontade de viver enormes – um super guerreiro!