Cuidar de uma criança no seu primeiro ano de vida é um verdadeiro desafio. É um novo elemento na família. É o ano da vida em que ocorrem maiores aquisições, em que todos os dias surgem mudanças e por isso são necessárias aprendizagens constantes. Como seria bom se os filhos nascessem com manual de instruções!
Mas isso não acontece, até porque a complexidade do ser humano bebé não o permite, e as preocupações dos pais são constantes, nomeadamente com a alimentação dos seus pequeninos.
É através da alimentação adequada que os bebés recebem todos os nutrientes para se desenvolverem e crescerem de forma adequada. E nada é melhor para eles do que o leite materno. Nutricionalmente, é produzido à medida para a criança. Contém todas as vitaminas e minerais de que precisa, é mais fácil de digerir do que as fórmulas, e tem menor probabilidade de causar reações alérgicas.
A amamentação ainda permite que a mãe transmita anticorpos do seu próprio sistema imunitário, através do leite materno, para aumentar as defesas do seu filho contra infeções. Além disso, o leite materno adapta-se naturalmente, ao longo das semanas e meses, à evolução das necessidades do bebé. É, portanto, perfeito!
A hora da alimentação é ótima para criar laços com a criança, mas também pode gerar stress e alarmar os pais. A razão prende-se com a regurgitação do leite após a mamada, a que vulgarmente se chama bolçar (do latim medieval vomitiare).
A maior parte dos pais não sabe o que significa bolçar, nem porque bolçam os bebés, mas o que mais os preocupa é se será prejudicial para o seu filho – até porque alguns bebés são mais bolçadores do que outros, e fazem-no muitas vezes ao longo do dia.
Se faz parte do grupo dos pais assustados, mantenha a calma, pois a situação é bastante frequente e não tem mistérios.
Afinal, porque bolçam os bebés? Como ajudá-los?
Durante os primeiros meses de vida, o processo digestivo da criança apresenta algumas peculiaridades, relacionadas tanto com as características do seu aparelho digestivo como com a sua alimentação, constituída principalmente por leite. A função digestiva do lactente está incompleta, uma vez que o seu organismo ainda está em desenvolvimento.
As crianças com menos de um ano de idade têm tendência a regurgitar uma pequena quantidade de leite depois de mamar – independentemente de serem alimentadas com leite materno ou artificial –, e esporadicamente, podem chegar a vomitar (em jato), sem causa aparente.
À passagem de conteúdo do estômago para o esófago denomina-se refluxo gastroesofágico. É um fenómeno muito comum em bebés saudáveis, que pode ocorrer 30 ou mais vezes por dia.
A sua frequência deve-se essencialmente a dois motivos. Por um lado, o estômago dos bebés é muito imaturo não funcionando na sua plenitude, e ainda porque possui uma dimensão reduzida, logo atinge com facilidade a sua capacidade máxima durante a mamada. Por outro, o esfíncter esofágico (o anel muscular que, contraído, impede a passagem de conteúdo gástrico ao esófago) está muito frouxo, não desempenhando completamente bem a sua função na fase inicial da vida.
Bolçar pode ainda ficar a dever-se ao facto de o bebé engolir muito ar juntamente com o leite durante a mamada. Quando esse ar tem de sair pode trazer consigo o alimento ingerido.
Muitos dos episódios de refluxo resultam em regurgitação, e a consequência poderá ser a expulsão do conteúdo pela boca – o bolçar. Normalmente, o conteúdo escorre pela boca e o bebé mantém o seu estado habitual.
Mas o refluxo também pode ser silencioso. O bebé pode ingerir o leite que subiu, em vez de o expelir. Se reparar que a criança continua a engolir mesmo após a alimentação ter terminado, o principal responsável pode ser o refluxo silencioso.
A regurgitação é frequente nos primeiros 3 meses de vida. Este fenómeno atinge o pico aos 4 meses de vida, sendo que o sintoma se observa em mais de 60 por cento dos bebés. Este pico ocorre porque entre os 3 e os 4 meses de vida, a capacidade de sucção é aprimorada, pelo que pode ser acompanhada de maior refluxo.
A partir dos 5 meses, o refluxo vai diminuindo progressivamente. Aos 6 meses de vida, atinge apenas cerca de 20 por cento dos bebés. Habitualmente, entre os 12 e os 14 meses de idade, o fenómeno desaparece com a maturidade do sistema digestivo.
Se o seu bebé se alimenta bem e cresce dentro dos parâmetros normais, se não tem infeções respiratórias persistentes ou outra sintomatologia que o deixem preocupado, o refluxo não necessita de tratamento. Pode, no entanto, tomar algumas medidas para diminuir a ocorrência do transtorno e o desconforto da criança.
Para começar evite alimentar o bebé deitado. Diminua o volume (quantidade) de comida oferecido em cada refeição e aumente o número de refeições ao dia (evita o aumento do volume do estômago e promove o seu rápido esvaziamento).
Nos bebés alimentados com leites de substituição, poderá optar pelos que contém espessantes (leites AR – Anti-Regurgitação), mas para o leite materno também existem espessantes que se podem adicionar com a mesma finalidade.
Após as refeições segure o bebé “de pé” durante cerca de 20 minutos sem apertar ou pressionar a sua barriga, pois o estômago do lactente comporta-se como uma garrafa sem tampa. De cada vez que se produz algum movimento ou pressão na barriga, uma certa quantidade de leite azedo sobe até à boca.
Aguarde que ele arrote antes de o deitar. Se não arrotar com facilidade, mantenha-o na posição vertical contra o seu ombro dando-lhe leves palmadinhas nas costas. Não facilite, não o abane nem o estimule em demasia após as mamadas.
Quanto à muda da fralda, não o faça depois de amamentar e não lhe levante as pernas sobre a barriga quando o fizer. Não aperte demasiado a fralda na zona abdominal e vista-lhe uma roupa confortável.
Na cama, adicione um suporte antirrefluxo (a colocar debaixo do colchão) ou eleve a cabeceira do berço a 30 graus (com recurso a livros, por exemplo) de forma a que o bebé fique deitado numa superfície inclinada.
Esta intervenção, para além de aumentar a segurança (evita a entrada do conteúdo para as vias aéreas) e ainda diminui o refluxo de noite. Deve colocar o bebé deitado de barriga para cima e não usar almofada. Nem pense em alimentá-lo antes de o deitar!
Ter em atenção que bolçar é diferente de vomitar. No vómito o conteúdo gástrico é projetado em jacto, com contrações da musculatura abdominal, normalmente seguida de choro e irritação, podendo nalguns casos não ser fácil distinguir as duas situações. Vomitar em recém-nascidos e bebés em idade precoce (sobretudo nos primeiros meses de vida) é um sinal de alarme.
Se continua preocupado com seu bebé, não fique com dúvidas e exponha a situação ao pediatra que o acompanha. Afinal de contas, é natural que os pais tenham dúvidas, preocupações e expectativas relativamente à alimentação do seu bebé.
Quando procurar ajuda médica
Quando a causa do refluxo está relacionada à inicial imaturidade fisiológica do bebé e ao processo de desenvolvimento, não afeta o seu crescimento e não existe outra sintomatologia ou complicações associadas.
Porém esta situação também pode ocorrer devido a alergia a algum alimento ou a estenose pilórica, isto é, a válvula entre o estômago e o intestino delgado é estreita, impedindo o esvaziamento do conteúdo do estômago para o intestino delgado.
Seja como for, quando o refluxo se repete várias vezes, em grandes quantidades e passado algum tempo depois da mamada, pode comprometer o desenvolvimento do bebé e por isso, a situação deve ser avaliada pelo pediatra.
Alguns sintomas podem estar relacionados ou serem causadores do refluxo, por isso os pais não os devem descartar. São eles a evidência de dor abdominal persistente, prisão de ventre, otites e pneumonias repetidas, infeções respiratórias frequentes, rouquidão, pois a laringe inflama, hemorragias digestivas e sangue oculto nas fezes.
Na presença destes sintomas, é importante levar o bebé ao pediatra ou gastroenterologista pediátrico para fazer o diagnóstico e orientar o tratamento.
O diagnóstico do refluxo pode ser feito apenas através do exame físico do bebé e pela descrição dos sintomas. Existem, no entanto, outros exames que podem ser necessários para avaliar o estado nutricional da criança, como por exemplo, análises ao sangue e à urina ou exames para investigar o refluxo gastroesofágico, como a radiografia com contraste do sistema digestivo, monitorização do pH do esófago ou endoscopia digestiva alta.
De acordo com a orientação do pediatra ou gastroenterologista, alguns bebés podem precisar de tomar medicamentos para controlar os sintomas e prevenir complicações.
Entre as medidas recomendadas encontram-se os antiácidos que neutralizam a acidez do conteúdo gástrico, medicamentos antirrefluxo, produtos para engrossar o leite (por exemplo, os fortificantes) ou fórmulas antirrefluxo, como os leites AR.
Em última instância, pode ser necessária cirurgia para corrigir a válvula que impede o retorno do alimento do estômago para o esófago. Mas não se assuste, estes são casos muito raros.
Pais não se preocupem excessivamente com o bolçar dos vossos bebés pois este tendencialmente desaparece entre os 6 e os 12 meses de idade, justamente quando os músculos do sistema digestivo começam a funcionar adequadamente. Já dizia o velho ditado: “Criança bolçada, ao ano está criada!”
Até lá… aproveitem para fazer uma coleção de babetes. Vão precisar de todos!
Um período pré-natal eficaz, com a realização de vários exames e cuidados básicos, pode evitar consideravelmente os riscos de desenvolvimento de deficiências físicas, motoras e intelectuais.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.