Não, uma palavra com apenas três letras mas tão difícil de pronunciar. Porquê? Lembram-se de quando eram crianças e era fácil dizer NÃO? Não quero. Não gosto. Não faço. Não. Não. Não. É mesmo a primeira palavra que o bebé diz com intenção de transmitir uma mensagem concreta. É o modo como manifesta uma escolha, afirma a personalidade e se assume como um ser humano único.

O Não é determinante para a nossa felicidade presente e futura. Ao comunicarmos uma recusa, estamos a definir as fronteiras do nosso mundo. É a grande ferramenta de autoestima e bem-estar, do nosso funcionamento em sociedade, porque é o Não que nos torna gente. Nós somos personalidade e construir essa individualidade exige um Não.

Afirmar e verbalizar o Não é o motor dessa construção - ao dizer Não estamos a distanciar-nos da opinião do outro, estamos a ser diferentes dele. O Não também é fundamental para a promoção da qualidade de todos os tipos de relacionamento. É ao dizê-lo que vamos modelando o relacionamento com os nossos pais, avós, amigos, namorada(o) e até com o nosso chefe.

Infelizmente, no dia-a-dia, esquecemo-nos muitas vezes do papel estruturante do Não na salvaguarda da nossa identidade. Quer exemplos de situações?

O seu chefe pede-lhe para sair mais tarde, mas naquele dia é precisamente o aniversário do seu filho, o que faz?

Está cheio de trabalho, mas um colega pede-lhe ajuda para uma tarefa que até nem tem nada a ver consigo, qual é a sua resposta?

A sua irmã pede-lhe para ficar com os seus sobrinhos naquela noite, quando tinha planos com o seu marido que está sempre a queixar-se de falta de tempo a dois, o que responde?

Aposto que diz que Sim, mesmo quando a sua vontade é dizer Não. Coloca em segundo plano as próprias necessidades, anula a sua vontade e, mais cedo ou mais tarde, sente frustração e arrependimento e pensa: devia ter dito que Não! Pois é, a dificuldade está em conseguir esse feito.

Antes de mais, para aprendermos a dizer Não é preciso compreender porque temos tanta dificuldade em o fazer. Algumas das razões são:

Queremos ajudar: somos boas pessoas e não queremos recusar nada a ninguém. Queremos ajudar os outros sempre que possível, mesmo que isso prejudique o nosso tempo pessoal.

Tememos ser mal-educados: quer queiramos, quer não, a palavra Não ainda tem uma conotação muito negativa e ao proferi-la podemos sentir que estamos a ser mal-educados ou pouco respeitosos.

Queremos ser cooperativos: não nos queremos alienar do nosso grupo simplesmente porque não concordamos, por isso, em vez de dizer Não, dizemos Sim.

Temos receio do conflito: temos medo que a outra pessoa se zangue se dissermos que Não, e que esse Não possa levar a uma discussão ou que tenha consequências negativas na relação no futuro próximo.

Não queremos perder oportunidades: o medo de dizer Não pode estar directamente relacionado com o medo de perder uma oportunidade, presente ou futura.

Temos medo de danificar relacionamentos: muitas pessoas encaram um Não como uma rejeição e isso pode enfraquecer e até danificar relações pessoais e profissionais.

Reviu-se numa ou em várias destas situações? No entanto, a maioria dos motivos acima apresentados são erróneos: desde quando é que dizer Não é sinónimo de falta de respeito ou de má educação? Desde quando é que dizer Não significa que está a ser do contra? E como é que um simples Não pode fechar todas as portas do seu futuro ou acabar com todas as suas relações?

Pode acontecer que desse Não advenham consequências pouco agradáveis, mas estará a dar passos num mecanismo que lhe vai ser muito útil. O ideal seria ter conseguido fazê-lo quando a vida tinha menos consequências – quando era uma criança ou adolescente, mas ainda vai a tempo. Nunca é tarde para aprender a dizer Não!

Se acha que uma pessoa que não sabe dizer Não é menos corajosa do que outra que o diz e repete, está completamente enganado. É, antes, menos consciente de si própria. O dizer “Não” não é uma questão de força ou de coragem, mas sim uma questão de autoconfiança.

As pessoas que são capazes de dizer o Não fazem-no de uma forma tão segura que parece impossível contra-argumentar. E quem parece que está a pedir desculpa por dizer Não tem uma posição corporal diferente, como se estivesse com medo do que vem a seguir… A sensação de medo vem da falta de convicção. Quando há convicção, não há medo algum.

A verdade é que uma das principais barreiras ao desenvolvimento pessoal e profissional, nos mais diversos contextos, é a dificuldade em dizer Não. Sabia que o povo português é o que mais dificuldade tem em dizer Não em coisas importantes?

Saber dizer Não de forma adequada, nos momentos certos, não faz de nós más pessoas, pelo contrário, dá-nos a oportunidade de criarmos relações mais genuínas, maduras e abertas. Se quer “estrear-se” a dizer Não aqui fica um conselho: pense em como se vai sentir bem depois de o fazer, e não nas sensações horríveis que experimenta nesse momento.

Aqui ficam algumas formas simples de dizer Não. Utilize sempre a que melhor se adapta à sua situação.

1. “Não me posso comprometer com isso pois neste momento tenho outras prioridades.”
Se isto for realmente verdade, então não há nada a fazer. Utilizar esta frase explica bem à outra pessoa que, no momento, está de facto ocupado. Se achar necessário e pretender que a pessoa perceba melhor a sua situação, pode falar-lhe de algumas dessas prioridades.

2. “Não é boa altura, estou a meio de uma coisa. Podemos conversar às x horas?”
As interrupções podem ser complicadas e para não cair na tentação de parar o que estava a fazer para atender outra pessoa, pode utilizar esta frase. Além de informar a pessoa que está ocupado, não a descarta por completo ao sugerir um horário alternativo para conversarem.

3. “Adorava fazer isso, mas…”
Esta é a forma mais suave de dizer um Não sem desrespeitar a pessoa, a sua ideia ou pedido. É uma excelente opção quando precisa de dizer Não pelo motivo número 1 (outras prioridades) ou pelo número 5 (necessidades/prioridades distintas).

4. “Deixe-me pensar primeiro e depois digo-lhe alguma coisa.”
Esta opção soa mais como um Talvez do que um Não, por isso, é um excelente recurso se estiver realmente interessado mas não quer dizer logo que Sim – e ainda lhe permite dizer que Não se acabar por chegar a essa conclusão. No entanto, se souber logo de antemão que não está interessado, não utilize este método, prefira antes as opções 5, 6 ou 7 que são respostas definitivas.

5. “Isso não corresponde às minhas prioridades actuais, mas vou manter em mente”.
Se alguém lhe está a propor algo que não lhe interessa minimamente, é importante comunicar-lhe isso mesmo, caso contrário a conversa pode estender-se indefinidamente. Esta frase não só comunica as suas intenções de forma educada, como demonstra que aquilo que está a ser proposto não é completamente irrelevante e que está aberto a futuras ideias/oportunidades.

6. “Não sou a melhor pessoa para o ajudar com isso. Porque não fala com x?”
Se alguém lhe pedir ajuda para uma coisa para a qual pouco ou nada pode contribuir, informe a pessoa disso mesmo. Para além de ser uma forma educada de dizer que Não, ainda ajuda a outra pessoa a resolver o problema ao indicar-lhe outro contacto.

7. “Não, não posso.”
Não há forma mais curta, simples e directa de dizer Não. Esqueça todos os mitos e conotações negativas que normalmente associa ao acto de mencionar a palavra Não e diga-a simplesmente. Pense menos e diga mais – ficará surpreendido com o facto de ela realmente funcionar e verá que o retorno não será tão desastroso como imagina.

Apesar de ser difícil no início, é essencial que comece a dizer Não, pois só assim conseguirá estar no comando da sua vida e deixará de andar ao sabor das urgências ou circunstâncias, e não das prioridades. Lembre-se sempre que você é a prioridade.

A partir de agora comece a ponderar os seus Sins e os seus Nãos tendo em mente o que é mais importante na sua vida e verá como se sentirá melhor consigo mesmo. Dizer Não tem de passar a ser tão natural como aceitar algo ou dizer Sim. Mas atenção, tão importante como saber dizer um Não, é aprender a ouvir um Não como resposta. Esteja preparado para tudo!