O Homem sente uma atração pelo touro desde a pré-história. A prová-la as várias manifestações de arte rupestre do Paleolítico Superior, como por exemplo as existentes em Portugal em Foz Côa, e em França na caverna de Lascaux, que expressam a admiração e veneração por este possante animal.
O touro, mais concretamente o seu antepassado denominado de Uro ou Auroque (Bos Primigenius), sempre foi visto como um animal místico, alvo de cultos religiosos, símbolo de fertilidade e de virilidade. O enfrentamento do touro pelo Homem era como que uma forma deste se apoderar dessas qualidades.
O touro bravo, ou touro de lide, que hoje se enfrenta, enquadra-se na espécie Bos Taurus, descendente deste Auroque, cujo significado etimológico se podia traduzir por touro selvagem.
Desde o “bos taurus celticus” ou o “bos primigenius” representados nas pinturas rupestres até aos dias de hoje, o touro bravo sofreu diversas modificações morfológicas, acabando por se instalar na península ibérica.
A diferenciação da raça conta com três séculos de história, durante os quais os proprietários das explorações agrícolas que se dedicavam à produção desta raça de bovinos (ganadeiros), selecionaram características comportamentais (agressividade, acometividade, nobreza, entre outras) opostas ao vulgarmente desejado nas restantes raças de bovinos, que começaram a ser criadas para a produção de carne ou de leite.
A maior parte das pessoas achará que os touros são praticamente todos iguais, mas tal não é verdade. Estes possuem diferenças significativas entre si, de acordo com a casta (raça) a que pertencem – e essas divergências vão desde o comportamento até ao aspeto exterior do touro.
As castas fundacionais, ou seja, aquelas de onde derivam todos os touros bravos que hoje existem, são as castas originárias de Espanha (a Casta Navarra, a Casta Morucha Castelhana, a Casta Jijona, a Casta Cabrera, a Casta Vazqueña, a Casta Vistahermosa), a Casta Portuguesa (Portugal) e a Casta Camarguesa (França).
Com o passar dos séculos e com a evolução do toureio, o touro da casta Vistahermosa, pela sua bravura superior, impôs-se em relação às outras castas, e a sua nobreza e mobilidade fizeram dele o único tipo de touro apto para o toureio contemporâneo.
Criação e características do touro de lide
A agricultura e a pecuária são cada vez mais desconhecidas para uma grande parte da população. Perceber como se criam, e como se comportam, os animais é fundamental para se entender a sua utilidade para a sobrevivência do homem. O animal adaptado no seu habitat, e com bem-estar, justifica a sua existência, seja doméstico ou selvagem.
O sucesso da produção em extensivo, onde se respeita os hábitos normais da vida dos animais criados é uma realidade. O facto desse tipo de produção estar associado a grandes áreas de terreno, preserva os ecossistemas naturais pois mantêm-se animais e plantas originárias desses locais que, de outra maneira, estariam em risco.
O touro bravo é criado em liberdade em grandes extensões de montado e lezíria, contribuindo para a preservação do seu ecossistema, assim como da biodiversidade das espécies de fauna e flora que neles habitam. Em redor do touro bravo desenvolvem-se também animais como o javali, a lebre, e o veado, entre outros.
A União Europeia (UE) define como critério de bem-estar animal para a criação de um bovino que este possua um espaço de 9 m2. Em Portugal cada touro tem, em média, 30.000 m2 de espaço para viver. Importa referir também que, em relação aos restantes bovinos, o touro bravo tem uma vida muito mais longa.
Enquanto as raças bovinas de carne vivem, no máximo, dois anos, os machos da raça brava (os únicos que são lidados nas praças de touros) vivem em média quatro anos, já as fêmeas, que não são lidadas, vivem toda a sua vida em liberdade no campo.
Numa ganadaria que possua 350 cabeças de gado bravo são lidados, em média, 40 animais por ano, ou seja, apenas cerca de 11 por cento dos animais irão à praça.
Atualmente existem em Portugal 110 ganadarias de lide, distribuídas por quatro zonas do país – Centro, Lisboa, Alentejo (a grande maioria) e Região Autónoma dos Açores –, e ocupam cerca de 70.000 hectares de montado e lezíria.
Várias ganadarias encontram-se situadas em terrenos da Rede Natura 2000 – rede ecológica para o espaço comunitário da UE que tem como finalidade assegurar a conservação a longo prazo das espécies e dos habitats mais ameaçados da Europa, contribuindo para travar a perda de biodiversidade –, e algumas delas estão ligadas a programas de conservação da natureza e de espécies em risco de extinção.
Trata-se, na verdade, de um caso absolutamente exemplar de criação animal com elevados índices de bem-estar, para além de preservar a biodiversidade.
O touro de lide é um bovino dotado de elevado sentido de territorialidade, portanto de grande agressividade. Quando vê o seu espaço invadido, ataca qualquer provável intruso para matar. Apesar de ser herbívero, é um dos raríssimos animais que atacam outro sem ser para o comer.
Os combates entre touros e outras feras, designadamente leões, tigres e elefantes, muito em voga nos séculos XVIII e XIX revelaram a pujança deste animal, que sempre saiu vencedor. Isto ocorria não só por os seus ataques serem extremamente rápidos em relação à corpulência, mas também por ser dotado de poderosas armas terrivelmente perfurantes servidas de uma força descomunal.
De um modo geral o touro de lide apresenta uma morfologia variada, assumindo o seu aspeto físico um papel preponderante.
Ainda que a pelagem negra predomine, podem encontrar-se pelagens de cores distintas (branca, castanha, flava, entrepelada, salgada, malhada, sarda, mosqueada, etc.). As hastes são bem desenvolvidas, podendo surgir também em várias formas, grossura cor e comprimento.
Os exemplares variam em tamanhos entre o pequeno e o grande mas, geralmente, o terço anterior do touro de lide é mais desenvolvido que o posterior para favorecer a investida e o desempenho físico nas touradas.
Todos os anos nascem em cada ganadaria um conjunto de bezerros bravos designados de “camada”. No decorrer do longo crescimento deste grupo de futuros touros de lide, o ganadeiro vai elegendo as corridas por grupos de seis a oito touros, que quando atingirem a maioridade (4 anos) serão lidados.
O touro sempre foi um animal de fácil excitação e irritação e, a pouco e pouco, foi selecionado mediante cruzamentos para que a mistura da sua agressividade com a sua força se transformasse em bravura.
A seleção dos touros: bravura e “trapío”
O surgimento das ganadarias bravas promoveu uma das primeiras formas de seleção zootécnica a nível mundial.
A seleção do touro bravo é inversa à seleção dos bovinos mansos, assim, a ganadaria brava preservou aspetos comportamentais, morfológicos e funcionais do bovino primitivo que foram eliminados na seleção das restantes raças bovinas, particulamente o caráter agressivo, o desenvolvimento das hastes e o deslocamento a galope.
A seleção do caráter agressivo do touro bravo pelo Homem deu origem à bravura – um conceito de difícil definição e mutável ao longo dos tempos.
Pode dizer-se que a bravura é a capacidade do touro bravo de combater de forma destemida e valente ou, mais concretamente, é o conjunto de características que o bovino deve possuir, como a capacidade de acometer, a mobilidade, o recorrido, a transmissão, a ferocidade, e a fizeja, entre outras.
O touro bravo, tal como o conhecemos, para além de uma forte investida, apresenta outra qualidade própria da sua raça: a nobreza. O touro verdadeiramente bravo (e puro) antes de investir, avisa. Jamais ataca à traição, colocando-se em linha reta perante o adversário, fixando-o de olhos e de orelhas de forma estática, de cabeça levantada, às vezes recua ou avança leves passos antes de arrancar a sua investida.
Idealmente deve investir com prontidão, com nobreza, seguindo firmemente e de forma incansável o objecto que persegue para o alcançar com os seus cornos.
Quanto ao trapío, diz-se que um touro de lide o possui quando a sua presença, independentemente do seu tamanho, impõe respeito. Este, porém, não é uma condição exata nem medível. Cada ganadaria tem o seu trapío, assim, um touro alto, grande e pesado pode não ter trapío, enquanto que outro, baixo e com poucos quilos, pode apresentar imenso trapío.
O touro com trapío deve possuir boa planta, isto é, ter o peso ideal à sua constituição, carnes ajustadas e musculadas, próprias de um atleta, pelo brilhante, limpo, fino e bem sentado; morrilho grosso, patas finas, unhas redondas e pequenas, córnea bem formada, rabo largo e espesso, e olhos negros, vivos e sem defeitos.
Por detrás de cada imprevisível touro bravo há uma larga história, muito empenho intelectual, bastante trabalho de campo e um essencial investimento financeiro. Cada animal é selecionado, alimentado e convenientemente cuidado até chegar ao momento para o qual foi criado: a Lide.
Joaquim Lopéz del Ramo, na sua obra “Por las rutas del toro” sintetiza, em algumas frases, a especificidade do touro de lide e valoriza a sua excelência:
“Entre todas las criaturas del reino animal no hay ninguna que reúna caracteres tan bellos y a la par misteriosos como el toro bravo. Algunos son agresivos y fieros, otros tienen el encanto de la nobleza y la fidelidad, unos atraen por su fuerza, por la armonía de su estampa o su pelaje, y también los hay majestuosos y altivos. Solo el toro de lidia es al mismo tiempo poderoso, arrogante y armónico, bondadoso y agresivo; algo así como un guerrero que lleva escrito en sus genes el mensaje de la bravura y tiene una crianza lujosa hasta su madurez, justo el momento en que debe morir”.
Os prebióticos foram introduzidos na alimentação dos cavalos por se acreditar que eram benéficos, mas afinal, estes suplementos alimentares não são tão benéficos quanto se pensava.
Os detentores de animais de companhia, não podem provocar dor ou exercer maus-tratos que resultem em sofrimento, abandono ou morte, estando legalmente obrigados a assegurar o respeito por cada espécie...