Fibrose quística altera o sistema imunológico no início da vida
Apesar dos novos medicamentos, a fibrose quística geralmente causa danos pulmonares permanentes. Investigadores da Universidade Técnica de Munique (TUM), na Alemanha, em conjunto com uma equipa internacional de especialistas, descobriram que a doença provoca alterações no sistema imunológico no início da vida, supostamente mesmo em recém-nascidos.

MEDICINA E MEDICAMENTOS
INVISTA NA SUA SAÚDE
A promoção da saúde tem como base a aceitação de que os comportamentos em que nos envolvemos e as circunstâncias em que vivemos têm influência na nossa saúde. LER MAIS
A fibrose quística é causada por mutações genéticas hereditárias que prejudicam ou interrompem a produção da proteína CFTR. O trato respiratório é mais gravemente afetado – o muco torna-se tão viscoso que patógenos como bactérias não podem ser removidos pela tosse. O resultado geralmente é um ciclo mortal de infeção e inflamação.
Nos últimos anos, os médicos começaram a utilizar as chamadas terapias moduladoras de CFTR para melhorar a função da proteína, o que reduz a formação de muco e melhora significativamente a qualidade de vida dos afetados. No entanto, vários estudos clínicos mostram que a inflamação das vias aéreas continua a ocorrer com frequência. Nos pacientes mais velhos, o declínio da função pulmonar parece imparável.
O objetivo do estudo, publicado recentemente na revista Science Translational Medicine, era descobrir processos adicionais na fibrose quística. A equipa observou especificamente a forma como o sistema imunológico se comporta na fibrose quística antes do início do ciclo de infeção e inflamação.
Os especialistas descobriram que em amostras de sangue de crianças com fibrose quística e material biológico de porcos com o mesmo defeito genético, certas células do sistema imunológico inato são imaturas, o que as torna menos eficazes no combate às bactérias.
Porcos com a doença também revelaram um número aumentado e uma composição significativamente alterada de células imunológicas nos pulmões ao nascer. A forte semelhança entre os sistemas imunológicos dos porcos e dos humanos sugere que essa descoberta provavelmente também se aplica aos pacientes humanos.
Segundo a equipa, uma possível explicação para as mudanças no sistema imunológico pode ser um tipo de “programa de emergência”, que estimula o corpo a produzir um vasto número de células imunológicas particularmente rápido ou durante um longo período de tempo.
Uma consequência é a formação de células imunes imaturas, que podem contribuir para o ciclo fatal de infeções e inflamação na fibrose quística: embora as células imunes estejam presentes nos pulmões, são ineficazes e causam danos ao tecido pulmonar sem prevenir infeções a longo prazo.
Como as células imunes geralmente produzem apenas quantidades muito pequenas de CFTR, os investigadores acreditam que a influência da fibrose quística no sistema imunológico é indireta – o que pode explicar por que reações imunes defeituosas não podem ser bem tratadas com as novas terapias moduladoras de CFTR.
Ainda não se sabe exatamente por que razão as células imunes na fibrose quística mostram tais mudanças, no entanto, de acordo com o Prof. Nikolai Klymiuk, da TUM, observa-se que elas ocorrem no início da vida, e que persistem ao longo desta.
Para permitir que as pessoas com fibrose quística vivam sem sintomas, provavelmente será necessário atacar a doença a vários níveis. E este estudo poderá ajudar a entender melhor as causas do sistema imunológico defeituoso e a corrigi-las no futuro.