Tumores crescem mais nas moscas-da-fruta fêmeas. E nos humanos?
As moscas-da-fruta são um modelo de investigação biológica frequentemente usado devido à sua similaridade genética com os humanos. Um estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade Tulane, nos Estados Unidos, revelou novas perceções sobre como as diferenças biológicas entre os sexos podem influenciar o crescimento dos tumores.
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O estudo, publicado na revista Science Advances, permitiu descobrir que as moscas-da-fruta fêmeas tinham uma resposta imunológica inata mais forte aos tumores do que os machos. Essa resposta acelerou o crescimento dos tumores ao desencadear uma via de sinalização entre as células. Os especialistas constataram que os tumores das fêmeas cresceram 2,5 vezes mais do que os tumores dos machos no mesmo período de tempo.
Foi possível verificar que, uma vez formado o tumor, as células imunes das moscas-da-fruta fêmeas (hemócitos) produziam mais um sinal de resposta inflamatória do que os machos. Essa proteína sinalizadora, denominada Eiger, é comparável a uma proteína semelhante nos mamíferos, que também regula o sistema imunológico e as respostas inflamatórias.
Embora a inflamação seja frequentemente eficaz no combate a invasores externos, muita inflamação pode criar um ambiente que permite que os tumores prosperem.
Para Wu-Min Deng, autor correspondente, foi uma surpresa ver que as fêmeas apresentavam tanta diferença no tamanho dos tumores. A questão que se põe é: será que essa diferença também se verifica nos humanos?
Geneticamente, muitas dessas vias de sinalização são bem preservadas entre mamíferos e insetos, logo, a descoberta é altamente relevante para o conhecimento do desenvolvimento do cancro.
O cancro é uma doença sistémica que afeta todo o organismo. O estudo revelou um mecanismo que envolve o microambiente tumoral local e múltiplos órgãos que regulam as diferenças específicas do sexo no crescimento tumoral ao nível sistémico.
O próximo passo dos investigadores é determinar se a tendência para o crescimento do tumor é regulado por hormonas ou cromossomas sexuais – um trabalho que pode lançar mais luz sobre porquê e como crescem os tumores.
Entender essa diferença pode tornar possível aprender a controlar esse crescimento do tumor e descobrir como os tumores trabalham para matar os seus hospedeiros. Se se conseguisse identificar uma forma de bloquear esse processo, poder-se-iam encontrar pistas sobre como prevenir e potencialmente curar o cancro.