Só 2% dos gastos da saúde são feitos na área dos diagnósticos
Um estudo da NOVA-IMS confirma que os decisores políticos não percecionam o real valor da área de diagnóstico in vitro. Cerca de 70 por cento das decisões clínicas são baseadas nos resultados dos meios de diagnóstico.

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“Cerca de 70 por cento dos diagnósticos são feitos com base nos resultados de diagnóstico laboratorial”, revelou Fernando de Almeida, presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e coordenador da Task Force de testagem, no arranque da sessão organizada pela Roche Diagnósticos e a NOVA-IMS para debater o valor do diagnóstico e o seu impacto no cidadão e na saúde.
No entanto, tal como acrescentou Nazli Sahafi, diretora-geral da [url-nolink=/pt/medicamentos/laboratorios/roche-farmaceutica-quimica-lda/informacao-geral]Roche Diagnósticos Portugal[/url], apenas dois por cento dos gastos em saúde são feitos com o diagnóstico. A este acrescentou outros números: menos 29 milhões de testes de diagnóstico feitos em 2020, o que significa uma redução de 30 por cento face ao ano anterior; entre os quais menos 140 000 rastreios ao cancro do colo do útero e menos 125 000 pessoas que fizeram exames para deteção para o cancro colorretal.
A importância do diagnóstico é, de resto, reconhecida por todos, como confirma o estudo realizado pela NOVA-IMS relativamente à forma como os diferentes atores percecionam o seu valor na discussão sobre a sustentabilidade dos serviços de saúde.
Coube a Guilherme Victorino, diretor da Nova Innovation & Analytics Lab e Professor Convidado da NOVA-IMS, a apresentação dos dados, que mostram não só o valor do diagnóstico para os doentes, profissionais de saúde e sistemas de saúde, assim como o seu contributo para o futuro da medicina personalizada, mas mostram ainda um consenso, partilhado até mesmo pelos decisores políticos: de que estes não percecionam o real valor do diagnóstico, havendo o apelo a mais formação sobre o tema.
Parte do estudo faz uma revisão da literatura publicada até ao momento, tendo o investigador destacado exemplos como o impacto da testagem de HPV para o rastreio do cancro do colo do útero na redução da incidência e mortalidade da doença em 30 e 70 por cento, respetivamente, e redução de custos em 24 por cento para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), face à citologia, o método clássico de rastreio.
Outro exemplo apontado é o doseamento de um biomarcador, o NT-proBNP que se colocado à disposição do médico de família poderia acelerar o diagnóstico de insuficiência cardíaca, patologia responsável pelo maior número de internamentos, e assim reduzindo os custos atuais com a gestão da doença em pelo menos meio milhão de euros.
A contribuição extraordinária sobre os fornecedores da indústria de dispositivos médicos do SNS foi também abordada no estudo, no qual alguns peritos, durante um focus group, apresentaram algumas sugestões para a sua dedução, tais como: aplicação numa base progressiva, funcionamento da taxa como forma de pagamento da dívida total de fornecimentos de dispositivos médicos para DIV, utilização da taxa para a criação de uma bolsa de investigação para aumentar a visibilidade
de Portugal nesta área.
O trabalho apresentou, ainda, outras recomendações mais gerais sobre o diagnóstico, que passam pela introdução de novos modelos de interação entre os diferentes atores; pela avaliação inclusiva e abrangente em relação ao impacto no sistema de Saúde; alinhamento da visão dos diferentes intervenientes; maior autonomia das instituições para inovar e a consolidação de uma visão baseada no valor.
A confirmação desta assunção do valor do diagnóstico prosseguiu durante o debate. João Almeida Lopes, presidente da APIFARMA, aproveitou para salientar que, quando o diagnóstico não é bem feito, “além de não ser bom para a saúde do doente, isso significa que se está a desperdiçar recursos, a alargar os tempos de tratamento e a não fazer as coisas bem. Quando queremos tratar bem um doente, temos de diagnosticar bem”. Ainda assim, a importância dos diagnósticos não é proporcional à relevância dada a nível político, o que Almeida Lopes justifica com a complexidade da saúde e um “desconhecimento” dos decisores políticos.
Tamara Milagre, presidente da EVITA (Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes relacionados com Cancro Hereditário), conhece bem a importância do diagnóstico, essencial nos casos de cancro hereditário, “que representam dez por cento de todos os cancros e que têm o maior potencial de prevenção ou deteção precoce. O diagnóstico é fundamental e salva a vida de famílias inteiras”, refere, salientando a importância da prevenção. “Se não investirmos na prevenção da doença, vamos ser atropelados pelos custos enormes que as doenças vão causar, ainda mais agravados pela pandemia”.
Uma posição com a qual Maria Antónia de Almeida Santos, presidente da Comissão Parlamentar para a Saúde, concordou. “Vivemos um tempo difícil, mas é o tempo da ciência e, a partir de agora, haverá uma maior consciencialização de que a ciência tem de estar presente nos orçamentos, nas nossas vidas, não só como tratamento, mas como prevenção e meio de poupança de recursos. Um diagnóstico bem feito e a tempo é um motivo para podermos pensar que se vão poupar recursos no futuro”, afirmou, salientando os passos já dados, a nível legislativo, nesta área.
Presente no debate, Luís Marques Mendes, advogado e comentador político, salientou os dados do estudo, que, segundo o próprio, elenca os benefícios do que chama “uma espécie de revolução no domínio do diagnóstico”. E destacou, ainda, a oportunidade do momento em que é apresentado, quando se prepara para ser aplicado em Portugal o Plano de Recuperação e Resiliência, entretanto aprovado pela Comissão Europeia. “Esta é uma oportunidade para explicar aos decisores políticos que, com os princípios da ciência e inovação, vamos dar um passo à frente” no que diz respeito à área do diagnóstico.
Diogo Serras Lopes, secretário de Estado da Saúde, encerrou o encontro, reconhecendo que “os diagnósticos precoces são vitais” e merecem, por isso mesmo, “uma atenção especial no Plano de Recuperação e Resiliência”. Porque, realçou, “apostar no diagnóstico precoce é apostar na promoção da saúde e na gestão integrada da doença”. E se dúvidas houvesse, a pandemia atestou a importância do diagnóstico: “Realizámos 14 milhões de testes até ao momento, 1,4 por pessoa, um número muito impressionante. A evolução nesta área foi brutal”.