Compostos do vinho do Porto poderão tratar doenças da pele
Cientistas da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) lideraram um projeto de investigação que identificou um conjunto de moléculas, a partir do vinho do Porto, que podem ser usadas no desenvolvimento de fármacos para tratar doenças de pele como o cancro da pele ou a psoríase.
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Os investigadores Joana Oliveira e Iva Fernandes conseguiram identificar cerca de 20 moléculas que revelaram potencial para um futuro fármaco – um hidrogel – que poderá ser aplicado na terapia fotodinâmica (PDT). Esta terapia recorre a emissões de luz e é totalmente não invasiva.
“Este projeto está a hemi-sintetizar uma biblioteca de pigmentos azuis, derivados do vinho, e a usá-los em novas formulações, aproveitando as suas propriedades físico-químicas e bioactividade para a PDT da pele”, começa por explicar Joana Oliveira, investigadora no Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV-REQUIMTE), sediado no Departamento de Química e Bioquímica (DQB) da FCUP.
Desta síntese de pigmentos azuis e destas moléculas identificadas, fazem parte as portisinas, assim batizadas por terem sido descobertas originalmente no vinho do Porto.
As portisinas, originalmente identificadas nos laboratórios do LAQV-REQUIMTE na FCUP durante trabalhos levados a cabo pelos docentes do DQB Nuno Mateus e Victor Freitas, começaram por ser testadas na área alimentar. Por ter sido desenvolvido um método de produção em laboratório destas moléculas, os investigadores começaram a tentar estudar possíveis aplicações terapêuticas.
“Acreditamos que estas moléculas podem ser usadas no desenvolvimento de um hidrogel incolor para aplicação na pele durante as sessões de terapia fotodinâmica. O hidrogel é a formulação mais fácil para aplicação na pele, e o facto de ser incolor não impede a entrada da luz”, nota Iva Fernandes, investigadora do LAQV-REQUIMTE, em declarações ao jornal Expresso.
Foi então que surgiu, no âmbito do projeto WINPUT, a ambição de desenvolver um hidrogel que absorve a luz no comprimento de onda correspondente à cor vermelha (comprimentos de onda acima dos 600 nanómetros). De acordo com as investigadoras, este hidrogel funciona como veículo de transporte até aos locais no interior da pele onde estão as células doentes.
E como funciona no nosso corpo? “Com a luz vermelha, as células ficam excitadas e passam a produzir oxigénio singleto e outros tipos de [url-nolink=/pt/medicamentos/DCI/oxigenio/informacao-geral]oxigénio[/url] que acabam por destruir as próprias células”, sintetiza Joana Oliveira.
Será este oxigénio singleto o “assassino” das células doentes. Para evitar o efeito indesejado sobre as células saudáveis, as investigadoras retiraram e converteram as características que distinguem as células doentes em vantagens terapêuticas.
Como as células doentes têm o metabolismo muito mais rápido vão ser mais rapidamente afetadas por este oxigénio que consomem. Para além disso, o oxigénio singleto desaparece rapidamente. Desta forma, os efeitos nas células saudáveis são assim minimizados.
Os próximos passos dos investigadores serão os testes laboratoriais com células que estão na origem de doenças e inflamações da pele humana. Só com estas primeiras fases de testes cumpridas, eventualmente, poderão ser feitos os primeiros ensaios clínicos com humanos.
O projeto WINPUT – Síntese de piranoflavílios azuis inspirada na química do vinho para a Terapia Fotodinâmica tópica é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e deverá terminar em setembro.
Este projeto tem uma instituição parceira pertencente ao LAQV – REQUIMTE da Universidade de Aveiro através dos investigadores Maria do Amparo Faustino e Augusto Tomé.