Sob uma perspetiva analítica, pode o fenómeno do vício em pornografia ser considerado um vício comparável a outras formas de dependência?
A pornografia em si mesma é um fenómeno cultural e de entretenimento, enquanto o vício em pornografia é uma condição comportamental caraterizada pelo uso compulsivo e problemático desses conteúdos, que afeta algumas pessoas, mas não todas, podendo levar a consequências adversas nas suas vidas.
Há determinadas caraterísticas do vício em pornografia, que podem ter implicações na saúde mental e emocional, havendo defensores e detratores da classificação desse comportamento como um vício legítimo. Algumas décadas atrás, a pornografia era uma indústria marginal, parte da contracultura e contava inclusive com ativistas da liberdade de expressão nos EUA, entre os seus defensores.
Atualmente, a pornografia encontra-se num cenário bem distinto de então, tendo-se transformado numa indústria multimilionária, que segundo especialistas movimenta um quinto de todas as pesquisas realizadas em smartphones, com particular incidência entre os mais jovens.
Na realidade, a massificação do uso daqueles equipamentos entre uma população cada vez mais jovem e a facilidade de acesso livre à pornografia através da internet, na últimas décadas, levantou questões sobre os potenciais efeitos nocivos desse hábito. Enquanto alguns especialistas argumentam que o vício em pornografia compartilha caraterísticas com outros vícios mais comuns, como o vício em substâncias químicas, outros afirmam que as diferenças fundamentais tornam esse comportamento menos suscetível de comparação.
O vício em pornografia é comummente associado a comportamentos compulsivos, perda de controle, aumento da tolerância e consequências negativas na vida quotidiana, caraterísticas que são semelhantes às observadas em vícios mais tradicionais, como o alcoolismo ou a dependência de drogas. A ativação do sistema de recompensa do cérebro através da libertação de dopamina é uma caraterística comum entre esses vícios, o que segundo investigadores, sugere uma base neurobiológica compartilhada.
Vários estudos têm demonstrado existir um impacto na saúde mental e emocional, através de uma correlação entre o vício em pornografia e problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. No entanto, a causalidade direta e a extensão desses efeitos ainda permanecem em discussão. A análise de pesquisas mais recentes pode lançar luz sobre a gravidade dessas consequências e a sua relação com outros tipos de vícios.
Em termos de comparação com outros vícios, os críticos argumentam que o vício em pornografia difere fundamentalmente deles, uma vez que não envolve uma substância química externa ao organismo e, além disso, a presença de pornografia na sociedade atual levanta questões sobre os limites da normalidade, versus patologia, muito embora se questione se a ausência de uma substância química externa invalida a possibilidade de classificar o comportamento como vício.
Longe vão os tempos em que o adolescente, e não só, precisava de enfrentar o vendedor da banca para poder comprar a Playboy ou entrar na área restrita dos clubes de aluguer de vídeo para, no recato de sua casa aceder aos conteúdos pornográficos. Atualmente tudo o que pode imaginar está acessível com um simples click no smartphone, ferramenta que se tornou geradora de uma compulsão em videojogos e pornografia.
Os principais sintomas de vício em pornografia são semelhantes aos de qualquer outra dependência designadamente: a pessoa não consegue deixar de ver ou abrir o smartphone sem deixar de aceder a conteúdos eróticos; tem momentos de ansiedade quando está em ambiente que não lhe permite o acesso a sites de pornografia; sente-se desmotivada por outras atividades ou conteúdos que não a pornografia; podem perder o interesse em praticar sexo ou a procurar estímulos reais com outra pessoa e no dia-a-dia podem esquivar-se a situações que levem ao ato sexual, preferindo manter-se no mundo da fantasia.
Geralmente tais situações conduzem os pacientes a disfunções sexuais, como dificuldade em atingir o orgasmo, redução significativa da libido, disfunção eréctil ou ejaculação precoce. Na literatura para o tratamento do vício em pornografia, ainda não existe um diagnóstico específico para essa dependência e o diagnóstico normalmente estabelecido de compulsão sexual ou vício pelo sexo é algo que em muito difere do seu conceito básico.
É um vício que acomete geralmente pessoas menos extrovertidas, com menor impulso sexual instintivo, mas com uma libido contida que acaba por ser direcionada de forma mais fácil para o imaginário. Além disso, este vício é um transtorno muito mais silencioso do que outros transtornos sexuais e em muitos casos pode levar anos até que a pessoa se aperceba que está com um problema.
O fenómeno do vício em pornografia é complexo e desafia as definições tradicionais atribuídas ao termo. O seu comprovado impacto na saúde mental e emocional é motivo de controvérsia entre psiquiatras e investigadores, com argumentos a favor e contra quando está em causa a comparação com outros vícios. Embora existam semelhanças notáveis, a questão permanece em debate, destacando a necessidade de mais pesquisas e discussões para melhor entender a natureza desse comportamento e o seu lugar no espectro do vício.
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