VARIZES - Mais do que um problema estético

VARIZES - Mais do que um problema estético

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Inestéticas, surgem nas pernas, entre as virilhas e os tornozelos, e dispensam apresentação. Três milhões de portugueses, dois dos quais mulheres, sofrem de varizes – uma Doença Venosa Crónica (DVC) muitas vezes negligenciada pelos doentes, que se preocupam mais pela questão estética, mas que, em situações mais graves, pode ser fatal.

Não é de agora que a humanidade se queixa de varizes. O primeiro registo que delas se conhece está gravado numa estátua trabalhada em mármore quatro séculos antes de Cristo, encontrada em escavações nas proximidades de Atenas, no interior de um santuário construído em homenagem ao herói Amynos.

A imagem atualmente exposta no Museu Nacional de Arqueologia da Grécia, retrata um homem que segura uma perna com veias dilatadas e tortuosas, e a peça representa o agradecimento de um doente após um tratamento bem-sucedido. Passados mais de dois milénios desde que a obra foi esculpida as varizes continuam a incomodar muita gente.

Em Portugal, a prevalência de DVC situa-se nos 20 e 25 por cento da população, sendo o sexo feminino o mais atingido numa proporção de 2:1. Se é parte deste número, e não está por dentro do assunto, não se preocupe, pois em poucos minutos todas as suas dúvidas ficarão esclarecidas.

Antes de mais, as varizes – também chamadas de varizes tronculares ou veias varicosas –, são veias doentes, dilatadas, tortuosas e superficiais que perderam a sua principal função de retorno venoso do sangue dos membros inferiores em direção ao coração. As veias mais acometidas são as dos pés, pernas e coxas.

A tarefa de retorno venoso é executada pelas veias por meio de válvulas venosas que direcionam o sangue para cima. Na pessoa normal a válvula abre para o sangue passar e fecha para não permitir que retorne. Em algumas pessoas, com o passar do tempo, vários fatores podem determinar ou provocar um mau funcionamento destas válvulas.

As veias perdem a sua elasticidade, começam a apresentar dilatação e as válvulas deixam de fechar de forma eficaz. A partir daí o sangue passa a refluir e ficar parado dentro das veias – o que provoca mais dilatação e mais refluxo. Esta dilatação anormal das veias leva à formação das varizes. Quase todas são inestéticas, mas não são todas iguais.

Tipos de varizes, sintomatologia e diagnóstico

Na grande maioria das vezes a principal queixa dos doentes é a estética (na posição de pé as veias ficam dilatadas, tortuosas e mais percetíveis), no entanto, a sintomatologia também inclui a presença de veias azuladas e muito visíveis abaixo da pele, agrupamentos de finos vasos avermelhados, ardor nas pernas e planta dos pés, inchaço, especialmente nos tornozelos ao fim do dia, prurido ou comichão, desconforto e dormência das pernas, dores, sensação de fadiga e pernas pesadas, pernas “inquietas”, e câimbras.

As suas causas não são completamente conhecidas mas crê-se que a hereditariedade e alguns aspetos relacionados com o comportamento tenham o seu peso. Para o agravamento da doença venosa contribui ainda a obesidade, o tabagismo, longas horas em pé ou sentado, o sedentarismo, a gravidez, as alterações hormonais e o envelhecimento.

As varizes podem surgir em qualquer parte do corpo: rosto, nariz, pescoço, tórax, costas, abdómen (barriga), membros superiores, bolsa escrotal (varizes escrotais), estômago, esófago, fígado, etc, no entanto, a maioria localiza-se habitualmente nos membros inferiores (nas pernas), podendo aparecer apenas numa perna ou nas duas, ou seja, pode ser bilateral.

Dependendo da fase de desenvolvimento, as varizes podem ser de pequeno, médio ou grande calibre. De acordo com o diâmetro venoso, podem classificar-se em três tipos: as veias varicosas, que sobressaem na pele e ficam protuberantes, com diâmetro acima de 3 milímetros, acometendo os troncos das veias safenas internas e/ou externas e as veias colaterais; as veias reticulares, que variam de 1 a 3 milímetros de diâmetro, não possuindo relação direta com os troncos principais; e as telangiectasias ou aranhas vasculares, popularmente conhecidas como “vasinhos”, cujo diâmetro não ultrapassa 1 milímetro.

A maioria dos estudos refere que são mais frequentes nas mulheres entre os 20 e os 50 anos de idade, tendendo a doença a agravar-se com o passar do tempo, mas também podem surgir na adolescência e em crianças.

Na verdade, o diagnóstico de varizes em grupos etários mais jovens é cada vez mais frequente e pensa-se que tenha como causas principais as alterações do estilo de vida da sociedade moderna.

Não são contudo um problema circulatório exclusivo do sexo feminino. Os homens também são atingidos pelo mal. Entre o sexo masculino o diagnóstico é feito, geralmente, mais tarde porque os homens observam menos as suas pernas, atrasam a ida ao médico e possuem pelos que dificultam a sua visibilidade.

O diagnóstico da doença é feito mediante a história clínica do paciente, ou seja, é realizado através da análise das queixas ou relatos do doente e pela observação, em particular do aspeto dos membros inferiores. O estudo das varizes deve ser realizado através de um exame designado de eco-doppler (ultrassom vascular). Este exame permite caracterizar a estrutura e localizar as veias e ainda definir qual a intervenção mais adequada para cada caso.

Se os métodos não invasivos não permitirem um suficiente esclarecimento diagnóstico e/ou orientação de tratamento é indicada a realização de uma flebografia. Podem ser necessários ainda exames mais complexos, logo, deve ser consultado um médico especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular, tanto para a solicitação como para a sua análise.

Tratamento e prevenção

As varizes não têm cura. Trata-se de uma doença crónica e evolutiva, mas que pode ser prevenida, através da adoção de algumas medidas simples no dia-a-dia que podem evitar o seu aparecimento, como por exemplo:

Hidratar o corpo diariamente; não usar calças de ganga muito justas, ligas, cintas, meias que sejam muito apertadas na zona do tornozelo ou botas apertadas; não estar muito tempo de pé, parado/a. É conveniente caminhar um pouco ou pôr-se em bicos de pés várias vezes; evitar estar muito tempo sentado e com as pernas cruzadas, especialmente se as cadeiras tiverem um rebordo duro. Movimentar as pernas regularmente; não tomar banho com água muito quente; evitar o excesso de peso, o tabaco e as bebidas alcoólicas; evitar a exposição prolongada ao calor.

Na praia, tentar caminhar à beira-mar; nos dias mais quentes, massajar as pernas com água fria utilizando o chuveiro, de baixo para cima, durante cerca de 2 minutos; consultar um especialista em Cirurgia Vascular se tiver algum dos sintomas anteriormente descritos, pois o tratamento da doença deve ser realizado por este profissional.

Dependendo de quão avançada estiver a doença venosa, o tratamento poderá ser conservador, abrangendo os cuidados diários de hidratação da pele, a administração de fármacos flebotónicos (que ajudam a circulação venosa) e o uso de meias elásticas ou ligaduras.

Nos casos mais graves, opta-se pelos tratamentos não conservadores que incluem a escleroterapia, a laserterapia (transcutânea ou endovascular), a radiofrequência e a cirurgia clássica (Stripping). De acordo com cada caso, o médico fará a opção terapêutica mais adequada.

A escleroterapia, também conhecida em Portugal por secagem, é um tratamento não cirúrgico das veias doentes. Consiste na injeção de um líquido esclerosante no interior da veia, causando esclerose (fibrose) da mesma, secando-a. É o tratamento adequado para os derrames ou vasinhos e para as veias reticulares. Realizado no consultório, este tratamento não necessita de anestesia e tem eficácia comprovada pelos longos anos de experiência.

Na escleroterapia com espuma (ou cirurgia de varizes com espuma) o líquido esclerosante é misturado com o ar ou outro gás para formar a espuma. A diferença é que a escleroterapia com espuma é aplicada em veias de maior calibre do que a efetuada com líquido.

A cirurgia de varizes a laser ou a radiofrequência consiste na colocação de um cateter no interior da veia que liberta calor, queimando-a. Estes métodos são utilizados para o tratamento de veias doentes de maior calibre. É uma intervenção que causa dor sendo, por isso, injetado anestésico local em torno da veia safena durante a cirurgia a laser/radiofrequência. Não necessita de anestesia geral.

À semelhança da técnica anteriormente descrita, a cirurgia de varizes por stripping também consiste na colocação de um cateter no interior da veia. É utilizada ainda no tratamento das veias de maior dimensão, como a veia safena. Nesta técnica o cateter remove a veia e não a queima. Com longos anos de utilização, esta técnica necessita de anestesia e, ao contrário das anteriores, é feita através de um corte na virilha.

O tempo de recuperação depende da cirurgia realizada e da atividade do doente.

Nas técnicas cirúrgicas pouco agressivas os doentes têm um período de recuperação de poucos dias. No caso da cirurgia clássica, em doentes com muitas varizes ou com muitas equimoses após o procedimento, o tempo de recuperação pode ser mais longo.

A maioria das pessoas dá mais atenção às varizes no verão, quando a roupa é mais leve, se vestem saias mais curtas, calções e se pensa nas idas à praia. Nessa altura surge o arrependimento tardio por ter protelado a ida ao médico e não ter feito o tratamento.

O inverno é a altura ideal para tratar as varizes, pois as temperaturas estão mais baixas e as pernas podem ficar escondidas e protegidas do sol – fundamental para diminuir o risco de pigmentação, evitar o escurecimento das cicatrizes e deixá-las menos percetíveis. Outra vantagem é que também se torna mais fácil e confortável usar a meia de compressão elástica que ajuda a acelerar a recuperação.

Tenha em mente que a cirurgia pode prevenir o aparecimento de complicações próprias da evolução da doença como o edema, as dermatites, pigmentações, úlceras varicosas e tromboflebites.

Tratar as varizes proporciona melhoria da saúde, bem estar e qualidade de vida, e ainda fica com umas pernas invejáveis para aproveitar o bom tempo em pleno. Pense nisso, não deixe que as varizes lhe estraguem outro verão!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
15 de Outubro de 2024

Mais Sobre:
DOENÇA SAÚDE ESTÉTICA

Referências Externas:

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