Radão, também conhecido por radónio, é um elemento químico (Rn) - número 86 da Tabela Periódica dos Elementos Completa -, descoberto por Robert Owens e Ernest Rutherford em 1899. Trata-se de um gás pesado incluído na classe dos "gases nobres" que, através de materiais de construção, do solo e da água, se propaga em ambientes de convívio humano, podendo continuar o seu processo de fissão emitindo partículas alfa, beta e gama, libertando assim radioatividade para o meio ambiente.
De entre as radiações de vária natureza a que o ser humano está exposto ao longo da vida, o radão representa 54 por cento do seu total. De entre os vários isótopos emanados do rádio (88Ra), o radão é o mais estável, podendo ser usado como fonte de radiação em terapias contra o cancro e oferecendo algumas vantagens sobre o rádio.
Em ambientes onde se verifiquem concentrações elevadas de radão, o gás entra em contato com os pulmões por inalação, provocando contaminação radioactiva. Não obstante as partículas alfa emitidas pelo radão serem altamente ionizantes, têm fraco poder de penetração, não sendo por isso capazes de atravessar a pele humana ou uma simples máscara de protecção.
Esse escasso poder de penetração pode no entanto ocasionar sérios problemas quando o gás é inalado, já que as partículas, aprisionadas no corpo humano, nele depositam toda a sua energia, podendo provocar lesões ou patologias de gravidade indeterminada, de acordo com a quantidade inalada.
Não são conhecidas estatísticas de pormenor do efeito directo da inalação de gases de radão no desenvolvimento do cancro do pulmão. No entanto, estudos da OMS de Setembro de 2009 indicam que o radão é a segunda causa de cancro de pulmão, a seguir ao fumo do tabaco, sendo responsável por 6 a 13 por cento dos casos conhecidos em todo o mundo.
Nos EUA o radão é a segunda maior causa de morte de cancro do pulmão, atrás apenas do cigarro. Estudos da Environmental Protection Agency dos EUA (EPA), indicam que cerca de 20 000 pessoas morrem por ano devido a esse elemento químico natural.
Entre nós, a recente notícia de encerramento temporário de uma conhecida escola básica no centro do Porto, devido à detecção de elevadas concentrações de radão no seu interior, despertou a população para o problema.
A radioactividade foi descoberta pelo químico francês Henri Becquerel e anunciada em 1896 num encontro da Academia de Ciências de Paris. Becquerel descobriu que o elemento rádio libertava partículas para a atmosfera e atribuiu a esse fenómeno o nome de radioactividade. Pelo desenvolvimento de estudos sobre a matéria, foi premiado com o Nobel da Física em 1903, em conjunto com o casal Pierre e Marie Curie.
Em sua homenagem, foi estabelecido que a unidade de medida da concentração de radão no ar passasse a designar-se por Becquerel por metro cúbico (Bq/m3), correspondendo 1 Bq a uma desintegração nuclear por segundo. Actualmente, o limite máximo de exposição recomendado pela União Europeia é de 400 Bq/m3.
Características do gás e níveis de radiação
O radão caracteriza-se por ser um gás sem cor, cheiro ou sabor, sendo a principal fonte de radiação para o ser humano e seus níveis de concentração na atmosfera só podem ser conhecidos através de medições. Está presente em toda a superfície terrestre, não é tóxico, mas desintegra-se com facilidade dando origem a elementos radioactivos altamente nocivos para a saúde. Quando inalados, atingem aos brônquios, irradiam para os tecidos vizinhos e, no limite, causam tumores pulmonares.
Estudos mostram que, em cada cem pessoas expostas diariamente a mais de 400 Bq/m3, seis sofrem daquele tipo de cancro. Estas condições duplicam, na prática, o risco de contrair a doença, que no entanto se mantém superior nos fumadores.
A maioria da população portuguesa não está exposta a níveis excessivos de radão. A excepção abrange as populações que habitam as zonas graníticas do País, em particular os distritos da Guarda, Viseu, Vila Real, Castelo Branco, Porto, Braga e algumas zonas de Castelo Branco. O radão deriva da desintegração do urânio, com características associadas ao granito.
Diversos estudos levados a cabo pelo Laboratório de Radioactividade Natural, em Coimbra, têm colocado a Guarda no topo da tabela das cidades com maior radioactividade natural. Um deles, efectuado num universo de 160 habitações localizadas em 3 freguesias urbanas e 11 rurais, selecionadas aleatoriamente, num raio restrito de 8 Kms, confirma a existência de valores de concentração de radão habitacional acima do valor recomendado, revelando a existência de alguns "picos de concentração" superiores a 3000 Bq/m3, distribuídos pela área total do estudo, que perfazem um total de 7 por cento das habitações estudadas. Mostra ainda, que a distribuição percentual é semelhante, se os resultados obtidos forem agrupados por concentrações médias em trés patamares: até 400 Bq/m3; de 401 a 1000 Bq/m3 e superior a 1000 Bq/m3.
Em geral a concentração na atmosfera é baixa, mas em ambientes fechados como habitações, por vezes atinge níveis preocupantes. Os valores mais elevados podem ser encontarados em pisos inferiores, como caves, arrecadações e superfícies térreas, diminundo o perigo proporcionalmente à distância ao chão. O solo de granito é a principal fonte de radão, que se infiltra nos edifícios por fissuras e fendas no pavimento nomeadamente entre os azulejos ou placas e paredes, bem como nas uniões das canalizações.
As superfícies interiores das habitações revestidas de granito, como paredes e bancadas, também libertam quantidades significativas, sobretudo se houver pedras fracturadas não isoladas por verniz ou produto similar. Também as paredes de tijolo e cimento, em divisões pouco ventiladas, podem libertar radão se contiverem areia proveniente de zonas graníticas com elevado teor de rádio e urânio.
Radiações ionizantes e sua origem
Radioactivo de origem natural, o radão é um gás cujos átomos se desintegram dando origem a outros elementos também radioactivos, todos eles causando exposição do homem às radiações ionizantes. Sendo um gás inodoro, incolor e insípido, não é detectável pelos nossos sentidos.
Este gás provém das pequenas quantidades de urânio e rádio presentes, em proporções variáveis, na maior parte dos solos e rochas e, consequentemente, dos materiais de construção. A semi-vida do radão é de 3,8 dias, o que significa que esse é o tempo necessário para reduzir para metade a radioactividade produzida.
Factores que influenciam a libertação
A distribuição do urânio e rádio rochas e solos é muito irregular. As concentrações mais elevadas ocorrem, usualmente, em rochas graníticas de origem plutónica, sendo mais baixas nas rochas sedimentares como por exemplo os calcários. A exalação de radão para a atmosfera está ainda condicionada pela permeabilidade e porosidade dos solos e rochas.
Para além destas características do solo e das rochas, parâmetros meteorológicos, como a pressão atmosférica, humidade e temperatura, também influenciam a libertação do radão, motivo por que a a sua concentração na atmosfera não é constante, variando de uma região para outra e ao longo do tempo. É comum observar-se variações das concentrações de radão num mesmo local, quer diárias quer sazonais, com os níveis mais elevados a duplicarem os valores mínimos. Na atmosfera, o gás radão dispersa-se rapidamente e os níveis baixam geralmente para valores inferiores a 10 Bq/m3.
Porém, em espaços interiores o radão tende a acumular-se atingindo concentrações que podem ser muito superiores às concentrações observadas na atmosfera exterior contígua ao mesmo local, situando-se em valores superiores a 400 Bq/m3 ou atingindo mesmo 1000 Bq/m3 ou mais.
Os materiais utilizados na construção, o tipo e os hábitos dos moradores quanto à ventilação da casa, são factores que influenciam os níveis de radão no ar interior. Ocorrem igualmente, no interior dos edifícios, variações sazonais da concentração, inversas das verificadas no ar exterior, resultantes da maior ventilação habitualmente efectuada nos meses de Verão e mais reduzida no Inverno.
Risco de exposição
O principal elemento a contribuir para a exposição da população às radiações ionizantes, de origem natural e artificial é o gás radão ou radónio. O risco radiológico associado àquele elemento químico, deve-se sobretudo aos seus descendentes minerais sólidos - chumbo, polónio e bismuto -, formados no ar que, ao serem inalados irradiam para os tecidos do pulmão. As radiações emitidas por estes radionuclídeos podem provocar danos irreparáveis nos tecidos pulmonares induzindo o desenvolvimento de cancro.
Radão nos edifícios
Nas habitações, a entrada do radão dá-se habitualmente através das zonas de contacto com a superfície do terreno, sendo por isso vias preferenciais, fissuras na laje do pavimento e juntas de canalizações com deficiente vedação.
Adicionalmente, embora em menor percentagerm, também os materiais de construção podem contribuir para elevar os níveis de radão no interior dos edifícios. Há hoje uma maior tendência para que aumente o tempo de permanência dos indivíduos em espaços interiores, quer seja no local de trabalho, em casa ou na escola. Também os edifícios são melhor calafetados para maior estabilidade térmica e poupança de energia. Deste conjunto de factores resulta uma crescente exposição ao radão nos espaços fechados que constituem o nosso novo habitat.
Não obstante estudos em diversos países terem revelado que existe uma maior incidência de cancro de pulmão relacionada com a exposição a concentrações mais elevadas de radão no interior dos edifícios, o risco continua inferior ao do tabagismo activo.
Em estudos levados a cabo pelo Instituto Tecnológico e Nuclear abrangendo a monitorização de 4200 habitações, verifica-se que cerca de 60 por cento das concentrações de radão se situam abaixo dos 50 Bq/m3, encontrando-se os valores mais elevados em casas situadas em regiões graníticas. Em 2,6 por cento das habitações controladas, os níveis médios anuais de radão são superiores a 400 Bq/m3.
Valores limite de concentração
As directivas da União Europeia divulgadas pela EURATOM (The European Atomic Energy Community) recomendam que para as habitações já construídas, as concentrações médias anuais não ultrapassem os 400 Bq/m3 e que para futuras construções os níveis de radão sejam mantidos abaixo dos 200 Bq/m3.
Vários países como a Suiça, já adoptaram o valor de 200 Bq/m3 de radão nas habitações, como limite legal. Para podermos alcançar estes níveis, há que planear de forma mais cuidadosa a construção dos edifícios incluindo caixas de ar para melhorar a ventilação e dar atenção à escolha dos materiais de construção.
Esta é uma medida importante, sobretudo, nas regiões de radioactividade natural mais elevada, como as regiões graníticas.
Medidas a tomar
Para as habitações e edifícios a construir, há que cuidar da implantação da estrutura no terreno e escolher criteriosamente os materiais, privilegiando os que contenham baixos teores de radioactividade natural e excluindo da adjudicação das obas os sectores da construção civil que não tenham em conta o problema do radão. Nas zonas mais propícias à acumulação de radão, obrigar o construtor a instalar barreiras entre o solo e a casa, de forma a impedir a infiltração de radão no interior do edifício.
Para as habitações e edifícios já existentes, as acções de mitigação do radão podem incluir medidas simples, tais como:
- tapar todas as fissuras e orifícios existentes no pavimento ou juntas de tubagens, de modo a impedir as entradas do radão do solo para a zona ocupacional;
- ventilar bem todas as divisões da habitação, pelo menos, durante dez minutos por dia;
- não isolar hermeticamente as janelas, portas e persianas, de forma a favorecer um nível mínimo de ventilação permanente;
Se estas técnicas não forem eficazes e suficientes, poder-se-ão adoptar medidas correctivas baseadas em:
- colocação no pavimento de membranas que sejam impermeáveis ao gás radão;
- instalar ventilação mecânica de modo a diminuir a pressão existente no espaço subjacente à construção.
- efectuar medições, caso se suspeite de que as concentrações são muito elevadas.
Antes de empreender medidas de redução do radão, naturalmente que é essencial conhecer as concentrações existentes no interior dos edifícios.
O diagnóstico da situação é efectuado com a ajuda de detectores de radão a colocar nas divisões da casa ou edifício durante 2 a 3 meses. Os dosímetros utilizados para esse efeito são cedidos por entidades como o Instituto Tecnológico e Nuclear do IST, www.itn.pt ou pelo Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, http://www.dct.uc.pt por exemplo, que os enviará por correio, devendo os mesmos, ser devolvidos pela mesma via, após análise em laboratório. Cada análise custa cerca de 50 euros e todo o processo se mantém confidencial.