MEDICINA DESPORTIVA

MEDICINA DESPORTIVA

MEDICINA E MEDICAMENTOS

  Tupam Editores

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A Medicina do Exercício e do Desporto, ou Medicina Desportiva (MD), é uma das especialidades médicas mais antigas de que se tem conhecimento, existindo relatos que datam de vários séculos antes de Cristo, demonstrando utilizações terapêuticas do exercício físico.

Em Portugal, é uma especialidade médica reconhecida pela Ordem dos Médicos apenas desde 2009, não sendo uma mera área do conhecimento ligada ao desporto, como geralmente se crê.

A designação, herdada do inglês "Sports Medicine" não será, talvez, a mais feliz, pois sugere uma ligação exclusiva a modalidades desportivas, que não é a essência em que assenta a especialidade. Mais adequado seria uma "Medicina do Exercício", pois traduziria mais adequadamente uma prática que acompanha não só as elites desportivas, como a população em geral. Na realidade, a atividade física pode ser praticada de forma indiferenciada, e os problemas de saúde que se colocam a um entusiasta da corrida antes de uma maratona são tão complexos como os que um atleta olímpico em véspera de competição enfrenta.

Âmbito e formação específica da MD

Trata-se de uma especialidade médica que se ocupa da prevenção, profilaxia, diagnóstico e tratamento das diversas patologias relacionadas com o exercício físico e a prática desportiva em todos os grupos etários;

Pelas suas características específicas, a MD apresenta uma estreita ligação com várias especialidades médicas e tem um papel fundamental no desenvolvimento dos programas de exercício e desportivos da população;

Vem assumindo, cada vez mais, um papel primordial na prevenção de doenças cardiovasculares, metabólicas, neoplásicas, psiquiátricas entre outras, através da prescrição da prática do exercício físico regular;

Possui um caráter multidisciplinar, abrangendo todos os grupos etários e todos os níveis de prática de exercício e prática desportiva, recorrendo a várias técnicas de diagnóstico, terapêutica e de investigação que requerem uma aprendizagem profunda;

Trata-se de uma área que tem que ser impulsionada em termos quantitativos e qualitativos, exigindo-se ao médico interno uma sólida aprendizagem nas várias áreas do conhecimento médico relacionado com o exercício físico, de forma a permitir uma boa prática da medicina.

Definição, objetivos e vantagens da MD

Várias são as definições que têm sido propostas para a MD. A Federação Internacional de Medicina do Desporto (FIMS), adotou em 1977 a definição: "Medicina Desportiva é uma especialidade que inclui segmentos teóricos e práticos da medicina com o objetivo de investigar a influência do exercício, do treino e do desporto sobre as pessoas sadias ou doentes, com a finalidade de prevenir, tratar e reabilitar."

Em 1990, W. Hollmann num trabalho publicado no "Livro Olímpico de Medicina Desportiva" propôs as aplicações mais importantes da MD, que seriam: tratamento médico e reabilitação das lesões e doenças relacionadas com a atividade física e o desporto; exploração médica antes de se iniciar uma atividade física ou desportiva para detetar qualquer alteração que poderia manifestar-se ou piorar com a prática dessa atividade; investigação médica e fisiológica do rendimento para avaliar a capacidade funcional dos sistemas cardiocirculatório, respiratório, músculo-esquelético e do metabolismo energético; avaliação funcional específica para o tipo de prática desportiva; aconselhamento e orientação médica sobre o estilo de vida e nutrição em relação à atividade físico-desportiva; assistência médica para o desenvolvimento de métodos ótimos de treinamento; controle científico do treino.

Ao longo dos últimos 30 anos, esta área da medicina assumiu um relevo significativo no contexto médico.

Não restam dúvidas de que na área desportiva o seu contributo é decisivo, mas é nos aspetos preventivos da saúde das populações que, hoje em dia, se assiste ao contributo da MD como meio para aumentar a qualidade de vida.

A investigação existente na MD ao longo das últimas décadas tem sido extraordinária e tem permitido melhorar as diferentes técnicas médicas de avaliação e tratamento dos desportistas, assim como a implementação de medidas para o aumento das condições de vida das populações.

Quer a nível Europeu ou Mundial, o papel da MD ultrapassou há muito o "apenas" conceito do tratamento das lesões desportivas. A MD atua essencialmente como medicina preventiva, em três grandes vertentes:

– Na prevenção primária caracterizando os fatores individuais e os fatores externos de risco. Avaliação médica prévia, com o contributo de várias áreas científicas.

– Na prevenção secundária, implementando medidas de correção aos fatores de risco diagnosticados na prevenção primária. É neste contexto que a prevenção secundária assume hoje um especial relevo.

A recomendação específica do exercício físico/desporto não só como forma de melhoria da qualidade de vida das populações, mas também como prevenção de doença.

– Na prevenção terciária onde são corrigidas as disfunções e lesões contraídas durante o exercício físico/desporto.

Muitas vezes os verdadeiros objetivos da MD são confundidos de tal forma que um elevado número de pessoas ainda acredita ser o Ortopedista o agente que pratica a especialidade, quando afinal este é apenas um segmento da MD.

Um dos principais objetivos de uma Consulta de Medicina Desportiva ou da realização de exames médicos ao praticante desportivo é a identificação de problemas médicos que possam limitar a participação/competição ou que coloquem o praticante em risco médico acrescido.

Outro objetivo importante consiste na análise do historial de lesões ou a constatação de desiquilíbrios ou alterações que coloquem o praticante desportivo em risco aumentado de lesões, as quais, quando detetadas, podem ser passíveis de elaboração de intervenções preventivas.

É evidente que pela sua área de atuação, esta especialidade se encontra em constante contacto com outros profissionais do desporto – como fisioterapeutas, treinadores pessoais, treinadores de equipas, nutricionistas –, e que sem esta interação os seus objetivos ficam comprometidos, uma vez que a terapêutica prática a ela inerente necessita do apoio e da reunião de esforços por parte do médico, doente e do staff profissional que o acompanha.

Além disso, no caso de indivíduos praticantes ocasionais de desporto, a consulta existe ainda para promover um aconselhamento médico-desportivo adequado e para o rastreio de eventuais contraindicações à prática desportiva.

A consulta conta ainda, quando necessário, com a estreita colaboração da já mencionada Ortopedia, Cardiologia, Medicina Interna, Medicina Física e Reabilitação, Pediatria, entre outras especialidades.

Entre as várias vantagens das consultas, contam-se a prevenção do agravamento de condições médicas pré-existentes; adaptação da prática desportiva à existência de limitações médicas ou morfológicas; promoção da prática desportiva duradoura; reabilitação de lesões desportivas, quando existam, e manutenção de registos clínicos dos praticantes.

É da responsabilidade do médico especialista em MD uma correta prescrição de exercício, de preferência inócuo, e caso existam lesões a ele associado a deteção e o tratamento mais adequado.

O Exame Médico Desportivo na prevenção de lesões e a morte súbita

A prática de uma modalidade desportiva, arte marcial ou de exercício físico implica o aumento da atividade do aparelho locomotor. Os músculos, tendões, ligamentos, articulações e ossos (unidade motora) são chamados a dar resposta, expondo o aparelho locomotor a lesões que podem ocorrer quando menos se espera.

As lesões do aparelho locomotor podem ser musculares, articulares, ligamentares e tendinosas. No domínio da traumatologia desportiva, estas podem também ser classificadas como agudas, crónicas e lesões de acumulação traumática.

As mais comuns são as lesões musculares, embora as lesões ligamentares – nomeadamente a entorse do tornozelo, que representa a lesão mais frequente na prática desportiva – sejam também muito frequentes.

Já as lesões de acumulação traumática, também designadas lesões de sobrecarga, decorrem da prática de exercício em condições de fadiga, em que o organismo é novamente solicitado sem que tenha decorrido o tempo de repouso necessário.

É inteiramente da responsabilidade médica – do Exame Médico Desportivo (EMD) – proteger a saúde do praticante desportivo, não só desaconselhando ações que levem ao agravamento de condições minor, mas compatíveis com a prática desportiva ajustada ou sem limites, mas também diagnosticar, tratar e reabilitar a lesão desportiva, de modo a que o retorno seja o mais funcional possível e a probabilidade da recidiva seja muito residual.

Vários estudos apontam igualmente para a importância do EMD na perspetiva músculo-esquelética. O componente músculo-esquelético é importante no EMD, pois muitas vezes revela alterações, devendo ser realizado por pessoal qualificado.

Contudo, a morte súbita (MS) de causa cardíaca no atleta jovem é o evento mais trágico no desporto, com consequências devastadoras para a família, para o médico da equipa e para a comunidade local.

Relativamente rara é, contudo, a principal causa de morte do jovem atleta durante o exercício físico. Para além de trágico, despoleta sentimentos de preocupação na sociedade, motiva ampla discussão e é sempre de difícil entendimento e aceitação.

O efeito mediático amplifica ainda mais o drama e sobrecarrega principalmente os médicos, que se vêm obrigados a responder a questões para as quais, muitas vezes, não têm resposta. A identificação prévia de atletas portadores de patologia cardiovascular para a qual o exercício físico intenso pode não só acelerar a doença, como também ser o desencadeador de arritmias malignas, constitui uma intervenção estratégica.

Segundo a Sociedade Europeia de Cardiologia existe grande interesse na avaliação médico-desportiva na perspetiva da identificação de doenças cardiovasculares responsáveis pela morte do atleta no campo e da desqualificação dos atletas em risco, sendo sua estratégia reduzir a ocorrência de MS.

Sistemas de apoio médico ao atleta lesionado

A lesão desportiva é uma eventualidade sempre presente na vida do atleta e constitui o seu acidente de trabalho mais comum. O atleta profissional, mas também o atleta inscrito nas federações desportivas, é um atleta de rendimento físico, desportivo, sujeito a elevadas cargas físicas e fisiológicas decorrentes do treino e competição intensos.

A sobrecarga biomecânica, em intensidade e frequência, obriga a uma atenção especial à lesão desportiva, pelo que o diagnóstico, tratamento e reabilitação são conceitos muito reforçados perante a lesão do atleta. Deve ter-se em conta que as lesões podem ser o fator principal de afastamento dos atletas da sua modalidade desportiva. Esse afastamento é prejudicial pois, para além de influenciar diretamente o seu desempenho físico e técnico, afeta-o negativamente a nível psicológico.

Por vezes, chega a ser necessário recorrer a estratégias e processos mentais de êxito, com o objetivo de melhorar a sua performance e rendimento. Para qualquer atleta e em qualquer desporto são necessárias cinco componentes para atingir o máximo rendimento ou ótima performance: física, técnica, tática, mental e pessoal.

Apesar de não poder dissociar-se os processos mentais e físicos, os atletas e os seus treinadores passam grande parte do tempo, apenas preocupados com a prática dos aspetos técnicos do modalidade, preocupando-se menos com o treino integrado dos processos mentais na atividade desportiva.

Esta ausência do treino dos processos mentais não tem a ver com relutância, mas com falta de conhecimento de como a praticar, desenvolver e levar em consideração os processos mentais.

Em qualquer desporto o treino dos processos mentais torna-se necessário para complementar e potenciar as outras áreas e assim poder atingir o melhor rendimento possível ou ótima performance em treino e competição.

Como respondem o Sistema Nacional de Saúde e os seguros desportivos, que acompanham o atleta nestas situações?

Caso os atletas de Alta Competição (AC) tenham um problema de saúde, precisam de resposta e atitudes imediatas para a sua resolução. Os Centros de Medicina ainda não possuem meios humanos e técnicos em toda a sua diversidade para colmatar os problemas que possam ocorrer.

Quanto aos Seguros Desportivos, o seguro de acidente desportivo tem uma vertente predominante de lesão aguda e os atletas sofrem de lesões crónicas, de sobrecarga. Para além de considerarem o atleta de AC de risco elevado, as seguradoras querem assistir diretamente o atleta, não aceitando a decisão dos médicos das Federações ou do próprio Centro médico. A agravar a situação, nestes casos, nem sempre os valores do plafond são suficientes para todas as necessidades de uma época.

Assim sendo, se os centros médicos não são capazes de prover todos os cuidados aos atletas, se não existe seguro de saúde que assegure as suas necessidades e se o SNS não existe para o atleta, é urgente e necessário criar um sistema nacional médico-desportivo que resolva os problemas diários dos atletas de AC.

Seja através de um sistema de seguro de saúde, seja através da parceria com outras unidades de saúde (por exemplo Centros de Medicina com Centros de Saúde), e na proximidade das Federações dos atletas.

É facto assente que a prática desportiva ou exercício físico deveria ser parte integrante do nosso dia-a-dia, como forma de combater o sedentarismo e o stress. O exercício físico, ou o desporto de competição, representa para todos a busca de prazer, saúde e bem-estar.

Divirta-se a fazer desporto… atualmente é uma necessidade de saúde pública!

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