Mesmo entre estudiosos e investigadores não foi ainda possível estabelecer consenso relativamente ao potencial de envelhecimento do ser humano. É no entanto possível perspetivar com razoável segurança a evolução da esperança de vida nas próximas décadas, caso não surjam cataclismos, naturais ou artificiais, que influenciem ou travem essa tendência.
Desde há muito que os cientistas debatem se a expectativa de vida máxima do ser humano terá sido atingida ou não. A verdade é que um estudo levado a cabo entre pessoas italianas centenárias e divulgado no final de 2018 pela revista Nature, revela que a longevidade está a aumentar lentamente.
Com base nos dados de estudos realizados em mais de 3800 centenários italianos, entre os anos de 2009 e 2016, a Science vem confirmar essa possibilidade, tendo os pesquisadores descoberto que o risco de morte diminui, e até estabiliza, acima dos 105 anos de idade.
De facto, os investigadores constataram que à medida que envelhecemos a nossa saúde e os riscos de morte aumentam cada vez mais rapidamente, mas em idades extremas param de se agravar, estabilizando, em particular a partir dos 105 anos, segundo Kenneth Wachter professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, coautor do estudo.
No ranking de pessoas mais idosas do mundo, de que são conhecidos registos, permanece inalterado há mais de duas décadas o nome da francesa Jeanne Calment que, em 1997, morreu aos 122 anos e 164 dias. Desde aí que não são conhecidos registos oficiais de um ser humano que tenha conseguido ultrapassar os 119 anos, sendo que a japonesa Chiyo Miyako terá sido a que mais se aproximou tendo atingido 117 anos em 2018, ano da sua morte.
Segundo o Guinness World Records, a também japonesa Kane Tanaka, com 116 anos de idade, é atualmente a pessoa viva mais velha do mundo, ultrapassando assim a longevidade máxima atualmente estimada para o ser humano estabelecida em 115 anos, segundo um estudo publicado em 2016 pela revista Nature.
Para um significativo número de cientistas, a ausência de anciãos que superem essa idade, representa uma barreira de origem biológica inultrapassável e o facto de apenas uma pessoa ter ultrapassado a idade de 120 anos, indicaria que a humanidade já atingiu a sua longevidade máxima, independentemente de doenças que tenham, relacionadas com a idade.
Estima-se que existam cerca de 500 mil pessoas com mais de 100 anos em todo o mundo, número que se perspetiva duplique já na próxima década. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que a longevidade para as mulheres de países desenvolvidos possa atingir os 100 anos e cerca de 90 anos para os países subdesenvolvidos, sendo de menos 3 a 4 anos para os homens, em ambos os casos.
Evolução mundial da esperança de vida
De acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que contou com a colaboração de especialistas em história da economia num projeto que visa produzir estimativas sobre os níveis de bem-estar no mundo inteiro, desde o início do século XIX a esperança de vida à nascença da população da Europa Ocidental rondava os 33 anos e atingiu cerca dos 80 no ano 2000, um salto gigantesco, que ficou a dever-se essencialmente à melhoria das condições de vida.
No impressivo quadro feito à evolução da esperança média de vida à nascença, verifica-se que decorrido um século, em 1920, os australianos podiam esperar viver em média 61 anos, seguidos dos noruegueses com 59 anos. Já os portugueses viviam menos 25 anos que os australianos e menos 23 que os noruegueses, de acordo com as estimativas apresentadas, significando isso que a esperança média de vida em Portugal, em 1920 (o primeiro ano para o qual existem registos em Portugal) seria de apenas 35,6 anos!
No entanto, os portugueses nascidos em 2000 já podem contar viver 76,9 anos, ligeiramente abaixo da média da Europa Ocidental, que é de 79,7 e menos dois anos do que os noruegueses.
Entre nós
Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a esperança de vida à nascença em Portugal, regista aumentos em todas as regiões entre 2008-2010 e 2016-2018, tendo-se verificado o maior aumento na Região Autónoma da Madeira, que passou de 76,1 para 78,3 anos, significando que as pessoas podiam esperar viver à nascença, em média, mais 2,2 anos que no triénio 2008-2010.
Considera-se esperança de vida à nascença, o número médio de anos que uma pessoa à nascença pode esperar viver, mantendo-se as taxas de mortalidade por idades observadas no momento.
Segundo aquele Organismo, no triénio 2016-2018, a esperança de vida à nascença foi estimada em 80,8 anos para o total da população, sendo de 77,8 anos para os homens e de 83,4 para as mulheres, verificando-se assim que continua a ser superior para as mulheres, não obstante a diferença entre os géneros tenha vindo a atenuar-se, sendo atualmente de 5,7 anos que compara com 6,0 do triénio 2008-2010.
Por outro lado, a esperança de vida aos 65 anos, um outro conceito utilizado nos modelos matemáticos para estudo da mortalidade, atingiu cerca de 19,5 anos para ambos os géneros no triénio 2016-2018. Isto significa que um homem que hoje tenha 65 anos de idade poderá esperar viver, em média mais 17,6 anos e uma mulher com a mesma idade mais 20,9 anos, o que representa um ganho de 0,8 e 0,9 respetivamente em relação ao triénio 2008-2010, tendo sido registada entretanto uma diferença de longevidade entre homens e mulheres de 3,3 anos em 2016-2018.
Longevidade, a revolução prateada!
Vários fatores contribuem para o aumento da longevidade humana. Com os avanços da medicina e a relativa melhoria da qualidade de vida, as pessoas de um modo geral atingem níveis de idades cada vez mais elevados, como o demonstram as estatísticas.
As sucessivas alterações de hábitos adotados pelas pessoas com vista à otimização do seu estado de saúde e bem-estar, são os principais responsáveis, tendo como consequência natural uma vida mais longa e com saúde, pois não é desejável viver mais tempo em estado debilitado. É por isso necessário observar algumas condições e controlar alguns aspetos essenciais que em muito contribuem para aumentar a longevidade, e garantir uma boa qualidade de vida.
Alguns investigadores, defendem que com os avanços da medicina, uma boa percentagem do ser humano possui carga genética para viver com relativa saúde até aos 120 anos, idade como vimos já alcançada por alguns no passado. Independentemente da componente genética, por ora inultrapassável, o objetivo é conseguir atingir essa idade, mantendo uma qualidade de vida minimamente aceitável, sendo para isso necessária alguma autodisciplina para controlar alguns dos fatores como por exemplo a nutrição. Uma alimentação deficiente ou desequilibrada, constitui um dos principais fatores que afetam negativamente a saúde e por consequência a longevidade.
Em função da atividade e caraterísticas de cada indivíduo, os regimes alimentares devem ser seguidos com algum rigor, evitando-se os alimentos industrializados (fast food), os enchidos, as gorduras saturadas de origem animal menos saudáveis e os doces, que em muito contribuem para o aumento de radicais livres principais responsáveis pelo envelhecimento.
Além disso uma má alimentação pode também dar origem a uma infinidade de doenças que irão contribuir para a degradação da saúde em geral, sendo recomendável ainda que se dê atenção às quantidades de alimento ingeridas, em especial a partir dos 30-35 anos, dado que o organismo já não necessita das mesmas calorias que antes.
Outros fatores como bons períodos de sono, a prática de atividades de expressão artística como a pintura, o canto, a dança e a escrita, podem contribuir para uma vida mais longa e saudável. Vários estudos indicam que as atividades físicas como forma de evitar o sedentarismo, podem aumentar a longevidade desde que praticadas com moderação e são muito importantes para prevenir o aparecimento de doenças, em particular na velhice.
O consumo de algumas substâncias naturais como a cafeína, resveratrol, bem como outros alimentos como o peixe e frutos vitamínicos, não só contribuem para uma dieta saudável como para aumentar a expectativa de vida.
Por fim os hábitos saudáveis na velhice, através da manutenção de atividades gratificantes libertadoras de preocupações, associados ao apoio social e familiar sob todas as formas possíveis, sempre presentes entre os povos que apresentam os índices mais elevados de longevidade, são igualmente fatores determinantes para que o cérebro mantenha um fluxo de atividade agradável para a saúde mental.
Na velhice, pratique hábitos simples, alimente-se modestamente, liberte-se de preocupações e estabeleça uma rotina de visitas ao seu médico.
Etimologicamente, a palavra iatrogenia deriva do grego e refere-se a qualquer alteração patológica provocada no doente por ação dos profissionais de saúde.
O envelhecimento da população emergiu como uma realidade irrefutável nas sociedades ocidentais e globais, desencadeando uma série de novos desafios e oportunidades.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.