A espécie Homo sapiens, a que pertencemos, insere-se no grupo mais alargado dos mamíferos que, entre outras particularidades se caracteriza pela presença de pelos. Esta caraterística, por vezes excessiva, é uma preocupação diária de mulheres e homens que permanece, pelo menos, desde a Grécia antiga.
Seja por razões de ordem estética ou higiene pessoal, desde os tempos mais remotos que a espécie, particularmente do género feminino, procura formas de se livrar desse "problema".
Viajando um pouco pela história, em 2000 a.C. as mulheres gregas extraíam os pelos com as suas próprias mãos, ou utilizavam cinzas quentes sobre a pele para os queimar. As sacerdotisas dos templos de Creta, que usavam o método, ingeriam uma bebida forte, que lhes entorpecia o corpo uma espécie de anestesia para atenuar o sofrimento.
Foi também na Grécia antiga que foi desenvolvido o primeiro utensílio usado na depilação o estrigil que consistia numa pequena vara de 16 a 30 centímetros de comprimento com ponta curva. A pele era untada com pastas à base de vegetais, cinzas e argila que, após algum tempo, eram retiradas utilizando aquele instrumento. Esta operação era realizada numa espécie de sauna, num ambiente com muito vapor de água, sendo os pelos mais resistentes extraídos com o auxílio de pinças.
Porém, foi o Egipto o berço da estética corporal. Ali se desenvolveu a cera egípcia, utilizada por este povo no ato de extração da pelugem. Cleópatra retirava os seus incómodos apêndices com faixas de tecidos finos banhados em cera quente; os romanos, por sua vez, usavam composições de substâncias, algumas das quais contendo soda cáustica como ingrediente principal.
No ocidente, durante a idade média, estes atos eram considerados pecaminosos pelo que se deu uma regressão nestas práticas que podiam levar à condenação por heresia, pagando a vaidade com a própria vida.
No séc. XVI, Pero Vaz de Caminha, em carta dirigida ao rei de Portugal, fazia alusão às mulheres índias desta forma: "Ali andavam entre eles três ou quatro moças… suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha". Imaginava-se, então, que a genética as havia feito nascer sem pelos púbicos, vindo depois a descobrir-se que os rapavam com a espinha do peixe pirarucu (peixe–lixa).
No entanto, só no século XX a depilação se torna uma questão de higiene, bom gosto e elegância. Nos anos 20 e 30, apenas era feita nas pernas, não se dando atenção às axilas ou à zona púbica. Mas, à medida que as roupas foram ficando mais curtas e justas, e o corpo mais exposto, foi-se percebendo que não era nada agradável mostrar axilas e pernas peludas, contrariando assim a tendência de desprendimento que o movimento hippie dos anos 60 tentou implementar.
Nas duas últimas décadas deste século generaliza-se a prática da depilação, que tem uma aceitação total, e passa a ser feita nas pernas, axilas, braços e, por vezes, na região púbica de mulheres e homens.
Mas, sendo assim, os pelos espalhados por todo o corpo não fazem falta. Então porque razão se nasce com eles?
Os pelos começam a formar-se ainda no útero materno. É nessa altura que nasce o cabelo, os pelos do nariz, braços e pernas, além dos cílios e das sobrancelhas. Num adulto o seu número pode atingir mais de cinco milhões e só não crescem nas palmas das mãos e nos pés.
Os pelos nascem na camada "intermédia" da pele, a derme, onde cada um possui uma glândula sebácea (na sua raiz). Crescem ininterruptamente cerca de 7 mm por mês, caem e voltam a renascer de tempos a tempos. As suas funções são diferenciadas: alguns protegem áreas do corpo e outros servem para estabilizar a temperatura. Os cílios e as sobrancelhas, por exemplo, são pelos especializados em proteger os olhos da poeira e do sol; os do nariz retêm as partículas estranhas transportadas pelo ar antes que consigam invadir os pulmões; e os do couro cabeludo garantem um certo isolamento térmico.
É facto conhecido que quando se corta um pelo não se consegue a sua eliminação pois a sua zona de crescimento continua intacta. Só quando se elimina a raiz ou, mais concretamente, o folículo em que nasce se consegue a sua destruição definitiva.
Durante o seu desenvolvimento, verifica-se alternância das fases de crescimento e de repouso. A atividade de crescimento de cada folículo piloso é individual, existindo a cada instante uma quantidade de pelos nas diferentes fases de repouso, crescimento e desprendimento.
A fase de crescimento, ou anagénese, dura cerca de três anos, embora com variações individuais ou relativas à sua localização. Nesta altura o crescimento da pelugem é contínuo, embora a velocidades diferentes consoante a estrutura genética e individual, a zona do corpo ou fatores alimentares.
A fase seguinte, regressão ou catagénese dura aproximadamente três semanas e caracteriza-se por uma paragem da atividade folicular.
Por fim, a fase de repouso, ou telogénese, quando a inatividade do folículo piloso é total, mantendo-se nesse estado durante três a quatro meses. Após este período todo o ciclo recomeça.
A remoção de pelos pode ser realizada de duas formas que, embora semelhantes, comportam importantes diferenças. Trata-se da depilação e da epilação.
Depilação é a técnica pela qual é eliminada a parte aérea do pelo, ou seja, a parte externa (haste), sem remoção da raiz.
As formas mais conhecidas e usadas são a lâmina de barbear, os cremes e sprays depilatórios, a pedra-pomes e a lixa.
Vista por muitos como um dos métodos de depilação menos eficazes, a lâmina é uma excelente aliada das mulheres práticas. Rápida e indolor, a ferramenta precisa, no entanto, de ser usada de forma cautelosa. É muito importante manejá-la com delicadeza e sensibilidade das mãos pois é fácil fazer cortes, ferimentos e provocar irritação da pele. Pelo facto de cortar os pelos pelo meio, estes voltam a crescer rapidamente, mais volumosos e fortes, dois a três dias depois.
Os cremes e os sprays depilatórios atuam por destruição da fibra capilar atacando quimicamente a queratina dos pelos. São normalmente destinados à depilação das pernas e cavidade axillar mas, não sendo agressivos, podem também ser utilizados para aplicações faciais na estética feminina.
A eficácia do depilatório depende do poder do agente ativo, do tempo de contacto e da temperatura a que se aplica. Os pelos são posteriormente eliminados com água ou um pano humedecido. É igualmente um procedimento rápido, que não implica um tamanho mínimo dos pelos mas, tal como a lâmina, de curta duração. Nestes procedimentos podem desenvolver-se alergias, pelo que é importante fazer um teste numa pequena área da pele antes da utilização e ler atentamente a literatura dos produtos.
Usadas nas pernas, a pedra Pomes e a lixa atuam por dermoabrasão. São meios económicos e autênticos depilatórios, não sendo no entanto aconselhados para peles finas; neste método, deve ser aplicado posteriormente um creme antissético para evitar o desenvolvimento de foliculite.
Uma grande parte das pessoas, contudo, recorre mais frequentemente a outra técnica, designada por Epilação. Esta permite a extração duradoura e/ou permanente do pelo, a partir da destruição parcial ou total do bulbo capilar, impedindo o nascimento posterior. As ceras (quente ou fria), as depiladoras eléctricas, laser, fotodepilação (luz pulsada), eletrólise, a linha, e a pinça são algumas das opções.
Destas, uma das mais utilizadas é a cera. Apesar de ser um método doloroso, a cera retira, pela raíz, pelos de praticamente todas as áreas do corpo, que só reaparecem após 15 a 20 dias.
Para a depilação com cera fria ou quente é necessário que os pelos estejam longos para se obter um melhor resultado. A utilização de cera quente, além de mais económica, é mais vantajosa, pois ajuda na abertura dos poros, facilitando a extração, devendo todavia controlar-se a temperatura a fim de evitar queimaduras, manchas e até derrames.
Tal como a cera, as depiladoras elétricas também extraem o pelo pela raíz, mantendo a pele sem pelugem durante duas a quatro semanas. Fáceis de transportar em viagem, alguns dos modelos também possuem um sistema de massagem suave. As mulheres mais sensíveis podem sentir alguma dor que, com o uso continuado, acaba por desaparecer.
A depiladora elétrica permite fazer a depilação na maioria das partes do corpo, incluindo as zonas genitais, de forma segura e sem dor significativa, mas não deve ser utilizada na face. Outra das vantagens da depiladora elétrica é o seu custo. Enquanto a depilação a cera necessita de sessões contínuas, mais ou menos espaçadas, com a depiladora elétrica o custo é apenas o da compra do aparelho.
Muito em voga atualmente, a depilação definitiva, ou melhor… duradoura, tem cada vez mais adeptos. A depilação a Laser, a Fotodepilação e a Electrólise são as alternativas com maior eficácia na remoção dos incómodos pelos.
A depilação a laser é um método seguro, eficaz, mas dispendioso, o que tem sido um obstáculo à sua massificação. Existem vários tipos de Laser (Alexandrite, Neodimio-Yag, Rubi, Díodo, entre outros) com vários comprimentos de onda e energia, mais potência e capacidade de destruição que outros, que funcionam para todo o tipo de peles, mesmo as muito pigmentadas.
A depilação é realizada em várias sessões, normalmente mensais ou a cada dois meses, devido ao ciclo de crescimento do pelo, sendo necessário cerca de 4 a 7 sessões para se obter uma redução permanente, próxima de 80 por cento. E o mais agradável é a inexistência de pelos entre as sessões!
Os efeitos secundários do procedimento são mínimos e temporários e incluem dor ligeira, vermelhidão, inchaço e hiperpigmentação da pele; em casos raros pode ocorrer a longo prazo, descoloração permanente da pele.
A fotodepilação é uma técnica efetuada com aplicações de luz intensa sobre a pele, também conhecida como IPL (Intense Pulsed Light) ou luz pulsada intensa. Desenvolvida posteriormente aos sistemas laser, esta tecnologia utiliza luz de cores diferentes e um comprimento de onda variável e mais curto que os restantes lasers.
É um método menos dispendioso mas igualmente seguro e rápido. Pode tratar grandes áreas do corpo em poucos minutos e, várias zonas numa só sessão. O número de sessões depende de fatores como o fototipo da pele, área a tratar, características do pelo, sexo, idade e estado hormonal. Tal como no laser, em alguns casos podem surgir algumas reações como vermelhidão, ardor e comichão na área tratada, que desaparece em poucas horas.
A Eletrólise (também chamada eletrocoagulação ou depilação elétrica) é o método menos recente. Em termos básicos, são utilizadas agulhas de fino calibre, que descarregam um choque elétrico de baixa intensidade, destruindo as células regenerativas do pelo, progressivamente e de forma definitiva.
O método pode ser usado em qualquer tipo de pele e pelo, sendo indicado principalmente para tratar pequenas áreas como o rosto, queixo e pescoço. Apesar de não ser tão confortável como os métodos anteriores, não desenvolve qualquer problema ou irritação; é porém muito dispendioso e demorado, com sessões quinzenais e resultados definitivos visíveis somente após um ano.
A linha é uma técnica criada pelos antigos egípcios, que consiste na utilização de um pedaço de linha de costura, com o comprimento de 80cm a 1metro. Usando o indicador e o polegar das duas mãos, a profissional cruza a linha sobre os pelos formando um "X", movimentando-a junto à pele. Desta forma os pelos enrolam-se na linha, sendo arrancados pela raíz.
A sequência de movimentos firmes da mão permite arrancar com maior eficácia os pelos no rosto e sobrancelhas sem comprometer a estrutura da pele. Não provoca hematoma ou flacidez e, quando realizada em intervalos de 30 a 40 dias, pode diminuir progressivamente o número de pelos na zona, sem risco de os tornar espessos.
A utilização da pinça é adequada para a remoção de alguns pelos que se mantêm após a depilação realizada por outros métodos, e ainda na remoção de pelos no contorno das sobrancelhas.
Ao longo dos tempos muitas foram as estratégias utilizadas para exterminar os indesejáveis pelos. Seja por razões estéticas, de higiene, ou até pela prática desportiva, a depilação ganha cada vez mais adeptos. No entanto, apesar da ampla variedade de opções em todo o mundo, ainda não é conhecido nenhum método de depilação definitiva, mas apenas duradoura, o que exige alguma manutenção.
Desde a velhinha lâmina de barbear até aos mais recentes métodos, existem vantagens e desvantagens que importa conhecer para que o resultado final seja sempre satisfatório e nunca frustrante. Até porque investir na imagem e bem-estar é o que de melhor o ser humano pode fazer para construir a sua autoestima! Afinal, se gostarmos realmente de nós… quem não gostará?