O século XIX viu nascer a palavra bactéria. O microbiologista alemão, Christian G. Ehrenberg, baptizou estes pequenos seres de bacterium, palavra que em grego significa pequeno bastão, aludindo às características físicas de algumas bactérias. Porém, estas foram detectadas pela primeira vez, por Antoni van Leeuwenhoek, cientista e construtor de microscópios holandês, em 1683.
Foi também no século XIX que se tornaram visíveis para o resto do mundo. Louis Pasteur e Robert Koch, foram os cientistas que mais contribuíram para esta visibilidade, tendo sido os primeiros a atribuir-lhes a responsabilidade por várias patologias.
As bactérias são organismos unicelulares, procariontes - não têm um verdadeiro núcleo celular nem organalos -, pertencentes ao reino monera. Inicialmente foram agrupadas com os fungos. Porém, em 1894, Ernst Haeckel inseriu-as no reino protista e, hoje em dia, fazem parte de um dos três domínios do sistema de classificação cladístico.
Relativamente à sua forma, estas agrupam-se no grupo coco - forma esférica -, no grupo bacilo - forma de bastonete -, no grupo vibrião - forma em vírgula -, no grupo espirilo - forma em espiral ou ondulada - e no espiroqueta - com uma pronunciada forma em espiral.
Relativamente à sua formação, apenas os bacilos e os cocos formam colónias. As bactérias podem, assim, pertencer ao grupo dos diplococos - se tiverem uma forma esférica e se se agruparem aos pares -, ao grupo do estreptococos - se se formarem como se fosse um colar de cocos -, ao dos estafilococos - se se agruparem de uma forma desorganizada - e ao da Sarcina - quando se agrupam de forma cúbica com 4 ou 7 cocos.
Com o decorrer dos tempos descobriu-se que nem todas as bactérias eram nocivas ao ser humano. As bactérias que vivem no nosso intestino protegem-nos de outras bactérias patogénicas e produzem vitaminas essenciais à vida.
Entre as bactérias mais patogénicas estão aquelas que provocam a pneumonia, a amigdalite, a meningite, a tuberculose, o tétano, a disenteria, a sífilis e a gangrena. As bactérias também provocam doenças transmitidas através dos alimentos contaminados. A mais perigosa e letal bactéria deste grupo é a clostridium botulinum, que mata rapidamente, logo após o aparecimento dos primeiros sintomas.
Em 1928, Alexander Fleming notou, por acaso, durante uma experiência, que uma das suas culturas de bactérias tinha parado de crescer porque havia sido contaminada por uma espécie de fungo. Estava lançada a base para o primeiro antibiótico - a penicilina.
A penicilina revolucionou não apenas o mundo dos microorganismos, como também o dos seres humanos. Doenças até então consideradas mortais, passaram a ser curáveis.
Porém, apenas quatro anos após as companhias farmacêuticas, em 1943, terem iniciado a produção em grande escala da penicilina, um pouco devido às urgentes necessidades da guerra, começaram a surgir outros tipos de micróbios que se lhe tornaram resistentes.
A primeira bactéria identificada, que lhe resistiu foi a Staphylococcus aureus. Esta bactéria, apesar de inofensiva, quando cresce demais ou produz uma toxina, pode causar doenças tais como a pneumonia ou a síndrome do choque tóxico, doença potencialmente fatal.
Esta resistência depressa se generalizou a outras bactérias. A resistência aos fármacos resulta da transferência de traços genéticos entre as bactérias, quer elas sejam da mesma espécie, quer sejam de espécies diferentes.
Há três formas de uma bactéria se tornar resistente a um antibiótico: através de uma mutação espontânea do ADN bacteriano - como no caso da tuberculose - através de transformação - a bactéria incorpora moléculas de ADN no seu núcleo e começa a desenvolver novas características, como no caso da gonorreia - ou através de um plasmídeo, a forma mais perigosa de resistência aos antibióticos, uma molécula de ADN capaz de autoreplicação e de migrar de um tipo de bactéria para outro.
Um exemplo deste tipo de resistência foi a epidemia que em 1968 foi responsável pela morte de 12.500 pessoas na Guatemala devido a diarreiaShigella. O micróbio que lhe deu origem albergava um plasmídeo que mostrou ser resistente a 4 diferentes tipos de antibióticos.
Apesar de a resistência bacteriana ser um fenómeno natural, alguns cientistas acreditam que o seu rápido desenvolvimento se ficou a dever à complacência que existiu nos anos 80, época em que se pensava que as infecções bacterianas estavam erradicadas. Em consequência disso, a indústria farmacêutica não direccionou a sua actividade para a descoberta de novas moléculas, concentrando-se, antes, noutras áreas de investigação, como a virologia. Factores sociais, como o aumento das transmissões infecciosas e o uso inapropriado e excessivo de antibióticos, também contribuíram para o agravamento da situação.
Hoje, em muitos países europeus, os antibacterianos são a segunda classe de medicamentos mais prescrita, imediatamente a seguir aos analgésicos. Este uso desmedido e inadequado, quer na medicina humana e veterinária, quer na agricultura, tem vindo a contribuir para um célere aumento da prevalência de micróbios cada vez mais resistentes aos medicamentos.
"Em geral, quanto mais for utilizado um antibiótico específico, maior é o risco de emergência e propagação da resistência contra ele, tornando assim o medicamento cada vez mais inútil."
Uma das mais nefastas consequências da resistência é o aparecimento de novas estirpes que são resistentes a vários antibióticos simultaneamente. Os números são aterradores: a pneumonia ainda é a doença mais mortífera do mundo, vitimando cerca de 3,5 milhões de pessoas, anualmente. Segundo o Eurobarometer 2001, 70% dos agentes patogénicos responsáveis pelas infecções respiratórias são resistentes a um dos principais fármacos comumente recomendados para esta patologia.
Nos países desenvolvidos, cerca de 60% das infecções hospitalares são provocadas por micróbios resistentes. Actualmente, as duas bactérias que encabeçam a lista são a Enterococcus, resistente à vancomicina, e a Staphylococcus aureus, resistente à meticilina.
Apesar da inevitabilidade da resistência bacteriana, há medidas que se poderão tomar para abrandar o ritmo do seu desenvolvimento.
As autoridades competentes estão a atacar o problema em várias frentes, desde melhorar o controlo da disseminação de infecções, passando pelo desenvolvimento de novos antibióticos, até ao seu uso de uma forma mais apropriada. De acordo com um artigo publicado no New England Journal of Medicine, pequenas melhorias no sistema de saúde pública também poderiam fazer milagres na prevenção de infecções.
Urge, no entanto, o desenvolvimento de novos antibióticos para tratamento dessas infecções com eficácia. O ritmo acelerado que se está a imprimir na decifração dos genomas humano e microbiano está a contribuir de forma decisiva para promover as investigações de novas moléculas com aquela finalidade.
Actualmente, a classe dos antibacterianos está dividida em 13 subclasses - penicilinas, cefalosporinas, monobactamos, carbapenemo, associações de penicilinas com inibidores das lactamases beta, cloranfenicol e tetraciclinas, aminoglicosídeos, macrólidos, sulfamidas e associações, quinolonas, antituberculosos, antilepróticos -, mas espera-se que com a chegada dos novos antibióticos de quarta geração outras classes surjam. De realçar que já existem no mercado cefalosporinas de quarta geração, desenvolvidas há mais de uma década e cujo espectro de actividade é extensível a bactérias gram-positivas e gram-negativas.
Presentemente, uma equipa de investigadores da Universidade de Wisconsin-Madison está a desenvolver novos compostos que poderão vir a eliminar as infecções por bactérias, mais virulentas.
Também a União Europeia tem vários projectos de investigação em desenvolvimento, nesta área, mantendo sob a sua alçada os projectos EURIS, o ARPAC, X-BT e o DEAR.
O projecto EURIS tem como objectivo "descobrir como se poderiam reduzir as estirpes resistentes da Streptococcus pneumoniae nos centros de dia frequentados por crianças".
O projecto ARPAC "está a recolher dados sobre o consumo e a resistência aos antibióticos nos patogénicos", de modo a "desenvolver estratégias harmonizadas de prevenção e controlo da resistência aos antibióticos nos hospitais europeus.".
Por sua vez o X-BT visa o desenvolvimento de novos compostos farmacológicos para tratar a tuberculose, uma vez que a resistência bacteriana aos fármacos disponíveis para tratamento da tuberculose está a aumentar.
Quanto ao projecto DEAR propõe-se a aplicar "a dinâmica da evolução da resistência antimicrobiana aos medicamentos".
É necessário unir os esforços de todos nesta batalha, pois as doenças infecciosas não conhecem fronteiras e é urgente ganhar esta luta.
A doença celíaca é um distúrbio digestivo e imunológico crónico que danifica o intestino delgado, desencadeada pela ingestão de alimentos contendo glúten.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.