Em Portugal, o interesse pela reabilitação e pela fisioterapia – as áreas da medicina veterinária que permitem resolver as desordens de movimento – tem vindo a expandir-se, principalmente na classe dos animais de companhia.
O facto fica a dever-se à maior ligação dos tutores com os seus animais. Cada vez mais os proprietários consideram o seu animal como parte integrante da família e, por isso, procuram um tratamento médico individualizado e de excelência, investindo na sua recuperação até que se esgotem todas as possibilidades terapêuticas.
A fisioterapia veterinária é uma poderosa ferramenta no tratamento e reabilitação animal. A ciência visa o movimento e a integridade muscular como pontos principais para a qualidade de vida do paciente. O objetivo é manter, preservar e restaurar as alterações dos sistemas musculoesquelético e locomotor geradas por doenças neurológicas e ortopédicas.
Pretende-se eliminar a causa da disfunção, realçar os sinais clínicos e o alívio da dor, que interfere com o bem-estar dos pacientes animais, e tem capacidade para causar imunosupressão, inapetência, caquexia ou dor, que pode conduzir à redução ou mesmo desuso dos membros.
Reduzir a inflamação, melhorar a irrigação sanguínea, promover a cicatrização, estimular o sistema nervoso, prevenir a neuropraxia e o entorpecimento muscular. Prevenir ou minimizar a atrofia de músculos, cartilagem, ossos, tendões e ligamentos, evitar aderências e a retração dos tecidos, e reduzir contrações e a tensão muscular.
Esta área da medicina também permite o controlo de peso em animais em que se verifique excesso, a melhora específica e geral de aptidões cardiovasculares, permite prevenir o aparecimento de doenças secundárias, diminui o uso de medicamentos anti-inflamatórios, diminui o esforço físico e providencia efeitos psicológicos positivos aos pacientes e aos tutores.
A fisioterapia tem dado um apoio fundamental à cirurgia ortopédica, sendo inclusive algumas reabilitações apenas possíveis com o apoio desta especialidade.
A nível cirúrgico constata-se cada vez mais uma consciência dos cirurgiões em relação aos passos a seguir nos períodos pré e pós cirúrgicos relacionados com a reabilitação, e que vão permitir um melhor retorno à função e uma recuperação mais rápida após a intervenção.
Apesar de ser mais frequente em cães e gatos, a fisioterapia e a reabilitação podem e devem ser aplicadas em todos os animais, inclusive nos cavalos, que são bastante sensíveis às terapêuticas de reabilitação e nos quais é possível alcançar excelentes resultados.
Algumas das técnicas de reabilitação podem ser aplicadas também a pequenos mamíferos, em especial aos coelhos, que se revelam colaborantes nas sessões.
A fisioterapia veterinária como grande aliada na reabilitação animal
A fisioterapia veterinária, ou fisioterapia animal, surgiu inicialmente como uma adaptação das técnicas utilizadas na fisioterapia humana.
Durante as sessões podem ser combinados diversos métodos da área médica e da fisioterapia animal, dependendo da patologia do animal. Muitas vezes, são ensinadas aos tutores algumas técnicas para realização diária da fisioterapia nos pacientes.
Um dos métodos utilizados na fisioterapia veterinária é a termoterapia. Esta consiste no uso terapêutico de agentes físicos ou meios de aquecimento e arrefecimento do corpo do animal.
A aplicação de frio (Crioterapia) tem, evidentemente, efeitos fisiológicos contrários à aplicação de calor, contudo ambos são ideais no combate à dor e à diminuição do grau de espasmo muscular. O frio, em geral induz vasoconstrição, diminuindo o fluxo sanguíneo no local. Ajuda na redução de edema, alivia a dor, e reduz espasmo muscular.
A aplicação de calor é indicada após a resolução da inflamação aguda. Ela faz com que ocorra a vasodilatação, melhora o fluxo sanguíneo nos tecidos superficiais, alivia a dor, provoca o relaxamento muscular, aumenta a velocidade de condução do impulso, altera o limiar de excitabilidade, aumenta a oxigenação, e facilita a cicatrização.
O ultra-som terapêutico é a técnica mais usada em animais domésticos para aquecer os tecidos mais profundos. À medida que as ondas vão sendo absorvidas no músculo, vão transformando a energia mecânica em calor.
Podem ser usados dois modos de transmissão de ultrassons: o modo contínuo, em que a energia é constantemente produzida; e o modo pulsátil, que torna possível escolher a duração do período de transmissão e do período de pausa, o que permite a utilização de intensidades mais elevadas.
A massagem tem sido parte integrante e natural da fisioterapia, da medicina do desporto e da reabilitação humana. Os animais também respondem bem ao procedimento, o que nos leva a pensar que a consideram reconfortante.
A sessão deve ser realizada num ambiente calmo, numa superfície confortável que permita ao animal relaxar mais facilmente. O próprio terapeuta deverá apresentar-se calmo e confiável de modo a transmitir alguma tranquilidade ao animal e tentar estabelecer algum contacto inicial com ele de modo a induzir relaxamento entre ambos.
As massagens estão indicadas para aliviar a dor, em local com tensão muscular, problemas articulares, aderências, regulação da tonicidade muscular, prevenção ou recuperação de lesões, entre outros problemas.
Existe uma grande diversidade de técnicas possíveis de aplicar em medicina veterinária, no entanto, as mais eficazes são o deslizamento superficial ou “Effleurage”; a massagem mais profunda ou “Pétrissage”; a fricção; a percussão; e agitar, uma técnica usada para relaxar a musculatura e para complementar outros exercícios.
Os exercícios terapêuticos – cinesioterapia são uma parte fundamental na reabilitação física de um paciente em condições crónicas e no pós-operatório, e fazem também parte de um plano de tratamento para casa, onde os proprietários são os principais responsáveis pela evolução do seu animal.
A cinesioterapia inclui três tipos de exercícios terapêuticos, os exercícios passivos, os exercícios ativos e os exercícios ativos assistidos.
Os exercícios passivos são realizados quando não existe ROM (amplitude articular) autónoma nem contração muscular voluntária, sendo a amplitude de movimento articular realizada pelo técnico de reabilitação. Os exercícios ativos assistidos são praticados quando não existe ROM autónoma mas existe contração muscular voluntária e são realizados no treino de fisioterapia intermédio.
Os exercícios ativos são efetuados em situações em que existe contração muscular voluntária, não existindo ROM autónomo. São importantes para o treino de coordenação, estimulando os impulsos propriocetivos.
A hidroterapia ou terapia aquática tem vindo a tornar-se muito importante na reabilitação de pequenos e grandes animais. É considerada por muitos como o melhor método de fortalecimento muscular; aumento da mobilidade; melhoria da condição corporal, da circulação sanguínea e da capacidade cardiorespiratória; para reduzir ou prevenir a atrofia, espasmos musculares, hipertonicidade e o edema.
Para a realização de exercícios dentro de água, a passadeira subaquática (Underwater Treadmill) é o equipamento mais valioso, permitindo adaptar a cada animal as condições mais favoráveis, desenvolvendo a sua força muscular e aumentando o ROM.
Não havendo possibilidade de usar uma passadeira, exercícios como manter-se em estação na água, a colocação de obstáculos e o simples caminhar na água podem ser realizados num lago ou lagoa.
O exercício da natação também é uma mais valia para o animal, pois é um excelente exercício para o fortalecimento dos músculos e para aumentar o ROM das articulações.
Para além destes métodos, a estimulação elétrica corresponde a uma modalidade de fisioterapia e reabilitação muito vantajosa no tratamento de várias doenças ortopédicas e neurológicas, principalmente aquelas que causam dor aguda e crónica ou atrofia muscular.
Existe uma diversidade de tipos de estimulação possíveis através da aplicação de uma corrente elétrica, cuja resposta vai depender de parâmetros de estimulação como, intensidade, frequência e duração do pulso.
Este método está indicado em situações de atrofia muscular resultante de situações neurológicas; alterações musculares como ruturas; cicatrização de fraturas (por indução da osteogénese); problemas circulatórios; maneio da dor aguda ou crónica resultante de problemas neurológicos, como síndrome de cauda equina, síndrome de Wobbler, hérnias discais e musculoesqueléticos, como artrite, espondilose, espondiloartrose, após cirurgias ortopédicas e para promover um aumento da força muscular.
Apesar dos vários métodos de fisioterapia e reabilitação veterinária, em alguns animais a doença é progressiva, razão pela qual muitos clientes procuram tratamentos alternativos.
Métodos alternativos: a acupunctura
Os métodos alternativos têm como objetivo recuperar a homeostase de todo o organismo, proporcionando condições ótimas para a recuperação funcional do tecido.
Vista como medicina complementar, a acupunctura veterinária é em muitos casos o único meio de tratar alguns pacientes.
Segundo a ciência médica ocidental, e de acordo com os pontos usados, a acupunctura induz a libertação de certas hormonas, como o cortisol, ou de substâncias analgésicas como endorfinas (analgésico endógeno) e serotonina, estimula nervos, aumenta a circulação sanguínea de diversos órgãos e induz vários mecanismos anti-inflamatórios.
A acupunctura veterinária tornou-se conhecida pelo uso de agulhas na estimulação de pontos de acupunctura com o intuito de minorar a dor ou aliviar a função dos vários sistemas do corpo de um animal.
Os pontos de acupunctura estão normalmente localizados em depressões palpáveis e histologicamente consistem em três terminações nervosas livres, pequenas arteríolas, pequenas veias e vasos linfáticos.
Este método está indicado nas patologias mais comuns da medicina veterinária como o alívio da dor (aguda e/ou crónica), afeções motoras dos membros anteriores, paralisia e paresia dos membros posteriores e a indução de respostas nervosas autónomas.
Nas lesões músculo-esqueléticas degenerativas e/ou da coluna vertebral; patologias dérmicas, respiratórias, reprodutivas e do trato gastrointestinal; geriatria (medicina preventiva e qualitativa) e em casos de alterações de comportamento.
Já lá vai o tempo em que os animais tinham problemas ortopédicos e ficavam debilitados devido à ausência de tratamentos adequados para a recuperação.
Na última década a fisioterapia e a reabilitação veterinária têm-se afirmado em Portugal, fazendo com que um número cada vez maior de médicos veterinários procure especialização na área, considerada uma das mais promissoras.
Os benefícios da fisioterapia são diversos, contudo, esta deve ser praticada apenas por pessoas com conhecimentos veterinários precisos. Para reabilitar são exigidos conhecimentos cardíacos, ortopédicos e neurológicos e embora as enfermeiras veterinárias ou técnicos especializados sejam essenciais e primordiais na área, devem ser chefiados por um médico veterinário da área da reabilitação.
O futuro desta área deve passar pelo trabalho intenso, baseado na formação e na especialização dos seus profissionais.