Sob o lema "250 anos de Medicina Veterinária ao Serviço da Saúde Animal e da Saúde Pública", decorreu, no passado dia 24 de Janeiro, a Cerimónia Oficial do Ano Mundial da Medicina Veterinária (AMV) que, este ano, escolheu a cidade francesa de Versalhes para divulgar o seu plano de atividades para 2011. Para além da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e do Comité Organizador da Vet2011, também estiveram presentes na abertura, os presidentes da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência a Cultura (UNESCO).
O objetivo é sensibilizar a opinião pública sobre a importância do médico veterinário e o seu contributo para a sociedade, uma profissão que já existe há mais de 250 anos.
Foi em 1761, em Lyon, que surgiu a primeira escola veterinária do mundo, razão pela qual os organizadores escolheram o solo francês como cenário para proclamar 2011 como o Ano Mundial da Veterinária.
Foi também em França que surgiu em 1764, a segunda escola para o ensino da profissão, numa cidade proxima de Paris denominada Alfort. Ambos os estabelecimentos de ensino foram criados pela mão de Claude Bourgelat que, ao mesmo tempo que criava a profissão de veterinário, era o primeiro a declarar que investigar a biologia e patologia animal era um grande passo para entender melhor o corpo humano e as suas doenças. É graças a este pioneiro na veterinária, advogado de profissão, que surge o conceito de biopatologia comparada, sem o qual a medicina moderna não teria surgido.
O ano de 2011 coincide também com os 300 anos da implementação das primeiras medidas para combater as doenças bovinas, elaboradas por médicos italianos. É por isso que, cinquenta anos mais tarde, as iniciativas de Bourgelat tiveram também o apoio de Luís XV, pois pretendia-se travar as epidemias que já naquela altura afetavam o gado.
A mortalidade animal pode ter muitas repercussões económicas, pois as perdas podem variar entre 25 a 33 por cento na produção de gado a nível mundial, pelo que a veterinária constitui um pilar na economia e saúde de cada país.
Por ocasião dos trabalhos de abertura, a Directorate General for Health and Consumer Policy (DG SANCO) e a OIE decidiram unir esforços com o objetivo de destacar o vasto e diversificado papel dos veterinários, cujas funções abrangem, não apenas os animais de estimação, como também todo o tipo de zoonoses, a disponibilidade de alimentos, a vigilância da qualidade e segurança alimentar, a prevenção de riscos associados às doenças dos animais, o controlo dos seus movimentos e produtos na cadeia alimentar, a proteção do ambiente e gestão de crises no caso de epidemias, sendo o veterinário um fator chave na luta contra a fome mundial.
A FAO salientou o papel desempenhado pela medicina veterinária, no sentido de prevenir o contágio dos animais às pessoas, como ocorre com a brucelose ou certos vírus de alguns tipos de influenza.
Os elogios também chegaram da boca de Bernard Van Goethem, diretor-geral adjunto da Cadeia Alimentar DG SANCO, referindo que os veterinários "têm estado na vanguarda da resposta no que respeita à saúde animal e às crises alimentares na Europa nos últimos 20 anos", sendo "justo", de acordo com aquele responsável, o "reconhecimento do papel fundamental do veterinário na proteção da cadeia alimentar".
Para além, da inauguração do Ano Mundial, também está previsto um conjunto de iniciativas ao longo de todo o ano, sendo de destacar, entre 12 e 16 de Maio, a Conferência Mundial sobre a Educação Veterinária, a decorrer no Campus da Faculdade de Veterinária de Lyon, em França.
Várias instituições internacionais de caráter científico, institucional e educacional, como a Comissão Europeia, a Associação Americana de Medicina Veterinária, a Federação das Associações Veterinárias Asiáticas, a Associação Pan-americana de Ciências Veterinárias ou a Federação dos Veterinários da Europa, vão realizar, a nível local, ações relacionadas com o papel da medicina veterinária na sociedade, assim como o reconhecimento do veterinário no bem-estar animal e na saúde pública.
Concurso fotográfico sobre o trabalho veterinário
Organizado pela Direção-Geral de Saúde e Proteção do Consumidor da comissão Europeia e a OIE, vai realizar-se o concurso fotográfico "Vets in your Daily Life", cujo tema será o trabalho desenvolvido pelo veterinário e suas repercussões na vida diária. O concurso destina-se a desafiar aqueles que possuem algum talento fotográfico a registar em papel o seu trabalho e, para isso, devem enviar três fotografias, nas quais apareçam com o animal de estimação ou em qualquer outra situação que mostre o veterinário em ação.
A data para a inscrição decorre até 31 de Março e o júri será constituído por fotógrafos profissionais e representantes da Comissão Europeia e da OIE que vão ter a tarefa difícil de escolher um vencedor por cada continente. No final, será selecionado apenas um vencedor que levará para casa equipamento fotográfico no valor de 2000 euros, embora os restantes finalistas sejam também premiados com metade daquele valor.
Os prémios serão entregues entre 19 e 20 de Maio, na mesma altura em que decorre a Conferência da Semana Veterinária Europeia, em Bruxelas.
Por cá, o Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, através da Direção Geral de Veterinária, já se associou aos festejos do Ano Mundial da Medicina Veterinária, estando previsto um conjunto de atividades a realizar durante o ano e que poderão ser consultadas no portal www.dgv.min-agricultura.pt.
Um pouco por todo o mundo, são muitas as ações para assinalar esta simbólica data que pretendem homenagear o galeno da veterinária, sendo de realçar o conjunto de seis vídeos que a organização elaborou, mostrando as numerosas funções do veterinário e o impacto do seu trabalho na vida das pessoas. Para Maria Zampaglione da OIE "os serviços veterinários são um bem público global" e os vídeos, segundo aquela especialista, "demonstram esse aspeto ao público em geral, de uma forma simples e direta".
Os organizadores já se preparam para realizar, com toda a pompa e circunstância, o encerramento do Ano Mundial da Medicina Veterinária que se realizará na Cidade do Cabo, na África do Sul, entre 10 e 14 de Outubro.
Até lá, esperam que esta iniciativa pioneira possa sensibilizar a população em geral sobre o papel do veterinário que vai muito além das visitas periódicas que se realizam ao seu consultório com a mascote de estimação. Em surtos epidémicos, onde estava em causa doenças transmissíveis ao homem, o veterinário esteve sempre do lado da barricada em que se tenta travar a propagação de doenças, como a tuberculose bovina e a brucelose, ou ainda a erradicação da febre aftosa e o controlo ou eliminação da raiva. Basta recordar doenças altamente contagiosas como a gripe das aves ou o pânico que gerou, ainda recentemente, a gripe suína.
Nestas situações, o responsável pela recolha de amostras, o envio aos laboratórios e posterior diagnóstico é o médico veterinário. E é também ele quem coordena as medidas previstas em planos de contingência que incluem o isolamento dos casos sob suspeita, de forma a garantir a segurança e a proteção de outros animais e das próprias pessoas. A fiscalização dos derivados do animal em toda a cadeia alimentar conta também com a presença do veterinário.
É por isso, que os organizadores do evento não deixam de salientar o contributo do veterinário na realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, em particular o seu papel na melhoria dos cuidados de saúde, no combate e propagação de doenças e, já agora, é o galeno de bata branca que tenta também salvar a vida do seu bichinho de estimação.
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