PESTE SUÍNA AFRICANA - Estratégias para prevenir

PESTE SUÍNA AFRICANA - Estratégias para prevenir

Doenças

  Tupam Editores

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A União Europeia confronta-se atualmente com uma situação de Peste Suína Africana (PSA) grave do ponto de vista da saúde animal, e com enorme impacto na economia dos países, o que determina a urgência de proceder à prevenção da disseminação da doença.

Até ao momento estão afetados nove Estados Membros, em concreto, Bélgica, Bulgária, Estónia, Letónia, Lituânia, Itália, Hungria, Polónia e Roménia. Na Ásia a situação em suínos domésticos é preocupante, especialmente em países como a China, Mongólia, Vietname e Camboja.

Portugal está ainda classificado como país livre da doença, mas a PSA esteve ativa entre nós durante cerca de 30 anos (tendo sido erradicada em 1996), e o risco de voltar é elevado devido ao aumento descontrolado de suínos selvagens (javalis). São para cima de 100 mil animais, e o número não para de aumentar!

Para impedir o regresso da PSA é crucial conhecer a doença e as medidas a adotar para prevenir a sua disseminação. Importa saber, para já, que o vírus não representa qualquer perigo para a saúde humana.

Não se trata de uma zoonose. Não é, no entanto, aconselhável ingerir a carne proveniente de animais infetados por poder causar intoxicação alimentar, vómitos e diarreia, entre outros sintomas.

A Peste Suína Africana é uma doença altamente contagiosa causada pelo vírus Asfivirus que atinge suínos de todas as idades, domésticos e selvagens, originando elevada mortalidade. Mas as consequências da PSA não se ficam por aqui.

O setor suinícola sofre graves perdas económicas devido à elevada morte dos suínos, ao abate compulsivo dos animais infetados ou suspeitos e às restrições ao comércio nacional e internacional. Por seu lado, o setor da caça experimenta restrições à caça e ao comércio da carne da caça, restrições à alimentação dos javalis e elevada mortalidade dos mesmos, originando perdas económicas relevantes.

Desde que a doença foi identificada, numerosos trabalhos de investigação têm vindo a esclarecer diferentes aspetos da biologia do agente etiológico bem como mecanismos da sua patogenia. No entanto, todos os esforços para a obtenção de uma vacina eficaz e segura se têm revelado infrutíferos, pelo que o controlo da doença se baseia exclusivamente na aplicação de rigorosas medidas de profilaxia sanitária.

É importante referir que a PSA é uma doença de declaração obrigatória. Em caso de suspeita de infeção devem contactar-se de imediato os serviços veterinários oficiais das Direções de Serviços de Alimentação e Veterinária Regionais (DSAVR) da DGAV.

Por existirem outras doenças com sinais semelhantes aos da PSA, como a Peste Suína Clássica (PSC), Salmonelose, Mal Rubro, Pasteurelose, Doença de Aujeszky, Síndrome Respiratório e Reprodutivo Suíno (PRRS) e outras septicemias, é necessário um diagnóstico laboratorial para a diferenciação entre elas.

Como se transmite/propaga e quais os sinais de PSA

O risco da introdução do vírus da PSA está associado a diversos fatores, tais como a entrada de suínos domésticos e selvagens infetados, de produtos ou troféus de caça contaminados, ou ainda ao contacto com alimentos e outros materiais contaminados.

Após a introdução do vírus, o risco de disseminação aumenta, designadamente por falhas na biossegurança das explorações suinícolas e nos transportes de suínos domésticos, bem como pela normal movimentação do javali, enquanto animal bravio. A elevada concentração de explorações caseiras e a elevada densidade das populações de javali também aumentam o risco de disseminação da doença.

A transmissão da PSA dá-se, então, por via direta – através do contacto com: suínos ou javalis infetados, ou com carcaças destes animais; secreções e excreções (corrimento nasal, ocular ou genital, fezes, urina e sémen); ou com sangue de animais infetados –,  e por via indireta – através do consumo de restos de carne ou produtos derivados (salsicharia) produzidos a partir de animais infetados; do contacto com vestuário, calçado, instrumentos, equipamentos, e viaturas contaminadas; a ainda através de certo tipo de carraças moles (Argasídeos) infetados.

Nos animais a doença pode surgir sob várias formas: hiperaguda, aguda, subaguda e crónica. O intervalo entre a infeção pelo vírus e o surgimento dos sinais clínicos é de três a quinze dias (três a quatro dias nas formas agudas).

Tanto nos suínos domésticos como nos selvagens os sinais clínicos das formas hiperaguda e aguda são os seguintes:
Na forma hiperaguda – morte súbita com poucos sinais;
Na forma aguda – febres altas (40 até 42˚ C), aumento da pulsação e frequência respiratória; Apatia, falta de apetite e descoordenação motora (um a dois dias antes da morte); vermelhidão cutânea nas pontas das orelhas, patas e barriga; vómito, diarreia por vezes com sangue, secreções oculares e nasais; abortos; morte em 6-12 dias (até 20 dias). Nos suínos domésticos a mortalidade pode chegar aos 100 por cento; e os sobreviventes ficam portadores do vírus para toda a vida.

As ações preventivas da doença devem focar-se, principalmente, na redução dos fatores de risco enunciados.

No que diz respeito aos javalis, a sobrepopulação nalgumas zonas da União Europeia tem excessivos impactos negativos de natureza sanitária, económica e ambiental nos setores da agricultura e da pecuária.

As causas do aumento da população de javalis prendem-se com a sua grande capacidade de reprodução e de adaptação a vários ambientes, naturais e humanizados, ao seu amplo e diversificado tipo de alimentação, assim como à disponibilidade de diversas fontes de alimento, nomeadamente produções cerealíferas, como o milho, que atraem a espécie.

A ajudar, a ausência de predadores naturais na maioria do território continental, pelo que a atividade cinegética constitui a principal forma de controlo destas populações.

Estratégias para impedir que a PSA regresse a Portugal

Tendo em conta a enorme importância económica e social da suinicultura em Portugal, torna-se necessário aumentar o nível de alerta para evitar a introdução do vírus no país.

Assim, a DGAV – nos termos do artigo 4º do Dec. Lei nº 39 209/53 de 14 de maio –, recomenda que seja reforçado o controlo sobre quaisquer transações não seguras de suínos domesticos e selvagens, produtos germinais (sémen) e produtos deles originados, oriundos da região norte e leste da Europa para o território nacional.

As medidas de biossegurança externas e internas das explorações de suínos portugueses devem ser reforçadas, logo, passa a estar interditada a introdução de animais de origem não segura.

É crucial fazer o reforço das cercas, e a desinfeção sistemática de todos os veículos que entrem nas explorações. Há que levar a cabo o cumprimento escrupuloso dos procedimentos de higiene profissional em todas as pessoas que entrem nas explorações de suínos e interditar a entrada de pessoas estranhas nas suiniculturas.

Os veículos que transportam animais vivos oriundos de regiões com a doença devem ser desinfetados com o maior rigor à entrada e à saída de estabelecimentos localizados no território nacional, devendo ainda abster-se de circular por diversas explorações com a mesma carga.

Todas as pessoas profissionalmente relacionadas com a suinicultura deverão abster-se, em absoluto, de frequenter explorações de suínos, matadouros e estabelecimentos de transformação de carnes de suínos e subprodutos que estejam localizados na região norte e oriental da Europa.

É importante fazer a desinfeção das rodas de todos os veículos de transporte de mercadorias e veículos ligeiros que transitem pelas estradas da Bélgica e regiões limítrofes antes de entrar em território nacional.

Os viajantes portugueses também não devem adquirir e transportar consigo para o país produtos de origem suína provenientes da Europa do norte e do leste como, por ex., carnes frescas, carnes transformadas.

Já os caçadores têm um papel chave na prevenção da introdução da PSA em Portugal.

Aqueles que participem em atos de caça nas zonas afetadas pelo vírus da PSA devem limpar e desinfetar escrupulosamente os equipamentos, o vestuário, calçado e eventuais veículos, salvaguardando o risco associado ao transporte de peças de caça, carne, produtos à base de carne e troféus a partir das zonas de risco e ainda absterem-se em absoluto de contactar com suínos domésticos em território nacional.

Em território nacional, devem ser intensificados os cuidados de biossegurança nos atos venatórios. Assim, os animais abatidos devem ser eviscerados nos locais apropriados que devem ser limpos e desinfetados de seguida.

As vísceras dos animais não devem ser abandonadas no local, devendo ser garantido o seu correto encaminhamento:
Enterramento em local apropriado, a profundidade suficiente para impedir a remoção por animais e coberto por cal viva ou outro desinfetante, seguido de uma camada de, pelo menos, 1 metro de terra; Encaminhamento para unidade de transformação de subprodutos de categoria 1 ou 2 aprovada; Encaminhamento para campos de alimentação de aves necrófagas licenciados.

Devem ainda identificar as carcaças dos animais abatidos com o selo oficial do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), e promover o exame inicial ou a inspeção sanitária dos animais abatidos.

Perante a observação de anormal ocorrência de javalis mortos os caçadores devem contactar de imediato os serviços da DGAV ou do ICNF.

A PSA é uma doença complexa desde a estrutura do vírus até à sua epidemiologia. Para fazer frente a esta ameaça é importante, acima de tudo, não subestimar a doença nem o vírus.

Os programas de deteção precoce e os planos de contingência devem ser revistos e atualizados e todos os membros da cadeia que lutam contra a PSA (produtores, veterinários, laboratórios privados e oficiais, funcionários florestais, investigadores, políticos, etc.) devem ser informados e devem trabalhar em conjunto.

Se não se reverter esta situação, há a probabilidade de a infeção se tornar endémica no javali europeu, que se converterá numa fonte recorrente de infeção para outros javalis, mas também para o porco doméstico.

Portanto, todo o setor suinícola corre um grande risco, que se deve reduzir na medida do possível. A palavra do momento é Prevenção!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
24 de Setembro de 2024

Referências Externas:

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