Deu-lhe muitos anos de alegria, porém, já não é aquele filhote ativo e cheio de energia que era! Já não vê tão bem, já não corre depressa, cansa-se com facilidade, e está mais mal humorado. A velhice chegou, e o seu amigo entrou na “terceira idade”.
É natural, é inevitável, mas não deixa de ser uma fase muito delicada e especial para os animais, e o momento em que mais precisam do carinho, amor e atenção do tutor.
À semelhança do que acontece com o ser humano, à medida que o animal vai envelhecendo o seu corpo vai-se desgastando e, com o passar dos anos, passa por mudanças na sua condição física, na sua saúde e também no comportamento, o que vem acentuar a necessidade de um acompanhamento médico-veterinário regular, e de cuidados especiais, de forma a proporcionar-lhe qualidade de vida.
Devido ao tipo de ambiente que habitam, alimentação adequada e cuidados gerais a que são sujeitos durante toda a vida, mas principalmente à consciencialização dos tutores para a importância dos cuidados de saúde, assim como aos progressos da medicina veterinária, o número de animais de companhia idosos tem vindo a aumentar exponencialmente.
A vida média de um cão ou gato é de 12 a 14 anos (com alguma variabilidade consoante o tamanho das raças). Geralmente, considera-se que o cão de raça pequena e o gato são seniores a partir dos sete anos, enquanto que as raças grandes são seniores por volta dos seis anos de idade.
No que respeita a longevidade, os cães de raças pequenas vivem mais do que os de raças grandes, e os gatos vivem mais do que os cães.
A velhice afeta cães e gatos da mesma forma que influencia o comportamento e saúde dos humanos. É importante conhecer os sinais de velhice dos animais de companhia para reconhecer sinais de doença ou simplesmente ajustar brincadeiras e atitudes às mudanças pelas quais todos passam nessa fase.
Mudanças decorrentes do envelhecimento
Tal como nos seres humanos são inúmeros os efeitos da idade nos animais mais velhos, e até as doenças que os afetam são semelhantes às nossas. As doenças mais frequentes nos cães e gatos idosos são a obesidade, o cancro, as doenças cardiovasculares, as doenças orais, as infeções urinárias e a insuficiência renal crónica. Além disso, os cães seniores também podem desenvolver diabetes mellitus, hipotiroidismo e hiperadrenocorticismo, enquanto nos gatos seniores é comum o hipertiroidismo.
De entre as várias alterações associadas ao envelhecimento, destaque para um aumento da percentagem de gordura corporal, uma diminuição da capacidade de resposta do sistema imunitário e do número de células do sistema nervoso.
A nível do sistema músculo-esquelético dá-se uma diminuição do tecido ósseo e da massa muscular, o que torna os ossos mais frágeis e suscetíveis a fraturas; a cicatrização óssea é mais demorada; dá-se uma diminuição da função muscular, relacionada não só com a diminuição do número de células musculares, como também pelo desenvolvimento de fibrose e diminuição do aporte de oxigénio aos músculos.
Surgem ainda doenças articulares como a doença articular degenerativa (artroses) e as artrites, como resultado da “menor” alimentação das células articulares. Muitas vezes estas lesões articulares são agravadas pelo excesso de peso dos animais.
Nos sistemas cardiovascular e respiratório dá-se uma diminuição da função cardíaca e da capacidade pulmonar. Nos animais idosos há uma maior incidência de doenças cardíacas como as cardiomiopatias e a endocardite, de arritmias e hipertensão sistémica.
Mas as mudanças não ficam por aqui. Associadas ao envelhecimento também ocorrem as cataratas; perda de audição e de visão; ganho ou perda de peso; doenças orais (estomatites, gengivites, tártaro, doença periodontal); perda de pelo; pele mais fina, seca e hiperpigmentada; unhas quebradiças; obstipação; vómitos e diarreia; sensibilidade a mudanças de temperatura; aumento do consumo de água e da micçao; incontinência urinária; cancro da mama nas fêmeas e doenças da próstata nos cães machos; alterações comportamentais como o desenvolvimento de fobias ao ruído, alteração nos padrões de micção e defecação e mudanças nos padrões de sono; confusão e desorientação; e disfunção cognitiva canina.
É importante frisar que a maioria dos problemas relacionados com a idade têm maior facilidade de resolução se diagnosticados atempadamente. Assim, o dono deve estar atento para perceber os sinais de que o seu “velhote” não está bem.
Beber e urinar mais do que o normal, perda ou ganho de peso, diminuição ou perda do apetite, apetite exagerado, vómito, diarreia, dificuldade em urinar/defecar, ou faze-lo em locais inapropriados, coxear, perda de visão, feridas na pele, mau hálito ou babar exagerado, aumento/arredondamento do abdómen, aumento ou diminuição da atividade normal, perda ou enfraquecimento do pelo, ofegar excessivo, dificuldade em mastigar o alimento seco, sangue nas fezes/urina, colapso súbito ou fraqueza, convulsões, tosse ou engasgo, língua de cor azulada, intolerância ao exercício, respiração pesada ou rápida em repouso, ou alterações comportamentais ou de rotinas, são alguns dos sinais que devem preocupar o tutor e o devem levar a consultar um médico veterinário – a pessoa indicada para fazer o diagnóstico e instituir o plano de tratamento mais adequado.
A consulta de geriatria e outros cuidados a ter com o animal idoso
Infelizmente os animais não falam e por isso não nos conseguem dizer onde dói, que andam enjoados, ou que têm uma sede incontrolável, por isso deve-se estar atento a todos os sinais de que algo não está bem.
Pensar que “é da idade”, e por isso normalizar a situação não é opção. Entre os vários cuidados a ter com um animal idoso, um dos mais importantes é a realização de um Check-up geriátrico anual, ainda que este lhe pareça perfeitamente saudável.
Na consulta de geriatria o veterinário faz uma avaliação física e do estado de saúde do animal, e procede à realização de análises de rotina nomeadamente análises bioquímicas, hemograma, análise de urina e eletrocardiograma.
Caso seja detetado algum problema médico, o veterinário poderá requisitar outros exames mais específicos como Raios X, ecografia abdominal, ecocardiografia entre outros, para o diagnóstico de doenças.
O objetivo principal desta consulta é prevenir ou diagnosticar as doenças que mais afetam os animais nesta fase, promover uma melhor qualidade de vida e simultaneamente reduzir, a médio prazo, a despesa em consultas veterinárias, intervenções cirúrgicas e medicamentos. Além disso, o acompanhamento clínico do animal é fundamental para maximizar a sua esperança média de vida.
É ainda feito um aconselhamento dos cuidados de saúde, nutrição e bem-estar que o tutor deve ter especificamente nessa fase.
Quanto à nutrição, é importante frisar que um animal geriátrico necessita sempre de alimentação específica e, se sofrer de alguma patologia, a alimentação deverá ser adaptada à sua situação clínica.
Se o animal for obeso, após conselho veterinário, deve igualmente ser estabelecido um plano de nutrição adequado. O importante num programa de perda de peso é equilibrar a quantidade de alimento e o tipo de dieta com o seu nível de atividade física.
Nesta fase, o exercício físico é importante para fortalecer os ossos e para manter um bom tónus muscular, no entanto deve ser feito de forma regular e controlada, com passeios lentos, de curta duração 4-5 vezes ao dia.
Os cuidados de higiene oral são mais importantes que nunca, uma vez que 70 por cento dos gatos e 80 por cento dos cães seniores têm doença periodontal.
As consultas ao veterinário devem ser mais regulares e incluir uma limpeza oral, devendo o tutor ser instruído para o poder fazer em casa.
Também não deverão ser descuidados os protocolos de vacinação e desparasitação pois, tal como os animais jovens, os mais velhos têm o sistema imunitário mais frágil.
Os cuidados com o meio-ambiente são igualmente importantes. O ideal para um animal sénior é estar num ambiente interior aquecido e aconchegante. A cama deve estar ao nível do chão, ser feita de materiais suaves, almofadados e facilmente laváveis. Poderão colocar-se botijas de água quente por baixo da cama de forma a manter o local quente, em especial durante as noites, e nos gatos e cães de raça pequena.
O piso por onde o animal circula deve ser antiderrapante e macio e os que tenham mobilidade reduzida e dor articular devem evitar a descida e subida de escadas. Deve, por essa razão, manter-se o animal no piso térreo ou colocar rampas antiderrapantes, não muito inclinadas, sobre as escadas.
Por vezes é difícil aceitar que os nossos amigos de quatro patas já não são tão felizes como antes e que estão a envelhecer mas, tal como os mimámos quando eram uns filhotes fofinhos, na fase geriátrica também precisam de cuidados especiais e, mais do que nunca, de nós.
Devem ser tratados com carinho, paciência, respeito e consideração pois já não ouvem, veem, ou caminham como antes, necessitando de ajuda para se locomoverem. Jamais devem ser abandonados à própria sorte, ou serem punidos por problemas originados pela velhice.
No fim da sua vida merecem ser poupados a dores ou desconfortos, para poderem morrer dignamente ao lado da família. E quando o momento chegar, não devemos fechar os olhos, nem virar-lhes as costas, pois a presença dos donos é importante. Fiquemos ao lado deles até ao fim… afinal ninguém gosta de partir sozinho.
Não nos esqueçamos que os animais investem todo o seu amor e vida no tutor e famílias, por isso é justo retribuir esse amor incondicional o melhor que pudermos.