Tal como os humanos, também os cães gostam de brincar! E gostam tanto que levam a brincadeira para lá da adolescência. Se convive com cães sabe que muita da interação acontece naturalmente: atirar uma bola, brincar à apanhada e treinar alguns comportamentos com a ajuda de biscoitos são, provavelmente, atividades de que desfrutou com o seu cão, sem sequer pensar nelas.
Mas sabia que pode tirar partido dos comportamentos naturais do seu amigo e usar a brincadeira para o treinar ou encorajar as suas iniciativas?
No passado, treinar ou brincar com um cão eram coisas diferentes. O treino era considerado “trabalho duro” e a brincadeira era a recompensa de que cão e tutor desfrutavam quando o trabalho estava concluído.
Mas não há razão que o impeça de treinar o cão enquanto brinca com ele. Os jogos, aliás, podem estreitar os laços entre ambos, fortalecendo a relação, e encorajar o animal a estar mais atento aos sinais do tutor.
Isto torna-se possível porque o cão não sabe se está a brincar ou a aprender uma lição. Se o jogo for uma caça ao biscoito, por exemplo, o cão não vai distinguir se o está a ensinar ou não. Tem noção de que está a interagir consigo, de que a interação é positiva, e mal consegue esperar por encontrar o biscoito seguinte.
O elevado nível de concentração ajudá‑lo‑á a pensar bastante (pois os biscoitos estão escondidos em locais cada vez mais difíceis de farejar) e vai procurar a sua ajuda (pistas) para continuar a atividade que lhe está a agradar.
Sempre que o cão interage com o tutor está a “aprender a ler” melhor os seus sinais. Se brincar com ele com objetivos específicos, pode usar a brincadeira para canalizar a sua concentração. No processo vai emitir sinais cada vez mais claros acerca daquilo que quer que o animal faça e mostrar-lhe que obtém um resultado positivo sempre que o faz – isto é condicionamento operante no seu melhor.
O tutor deve, antes de mais, aprender a observar o animal enquanto o ensina. Os problemas entre os cães e as pessoas surgem, muitas vezes, porque uma das espécies não entende bem a linguagem corporal da outra.
Sendo bom observador vai familiarizar-se com o comportamento do animal, perceber se um jogo está a deixar de ser divertido, e estará mais atento a sensibilidades que precisem de ser geridas.
Tal como não há duas pessoas iguais, cada cão é um indivíduo com diferentes limites e níveis de entusiasmo. Um jogo de procurar um biscoito pode ser agradável para um cão mas excitar demasiado outro; um cão que por natureza gosta de ir buscar coisas pode adorar jogos que o ensinem a transportar diferentes objetos e um outro pode não se interessar por transportar seja o que for.
Diversão e educação ao mesmo tempo
Quando se trata de jogos e atividades para levar a cabo com os cães, as possibilidades são quase infinitas. Contudo, antes de começar, é essencial certificar‑se de que as brincadeiras serão seguras.
Quase todos os cães podem fazer jogos e aprender coisas enquanto se divertem mas, se está a treinar um cão muito jovem ou idoso, deve ter alguns cuidados.
Os cães em fase de crescimento (com menos de um ano e, em algumas raças, até aos dois anos) não devem saltar nem cansar‑se muito. O tutor deve usar o bom senso se o cão parecer exausto, pois um cão jovem nem sempre sabe parar.
Da mesma forma, não deve exigir demais de um cão idoso. A energia de um cão com dez anos não é igual à de um cão no auge da sua condição física e os animais mais velhos ou com artrites não devem ser sobre-excitados pois podem ferir‑se.
Para o educar, o tutor deve misturar aquilo que quer que ele aprenda com o que que ele adora fazer.
Deve manter o treino interessante, misturando elementos de rotina com desafios e surpresas e terá um amigo sempre jovem e feliz por passar mais tempo consigo.
Quando se trata de educar um cão, existem cinco comandos básicos importantes que todos devem aprender. São eles o “senta”, “fica”, “deita”, “vem” e “junto”.
Se o tutor realizar um bom treino com os comandos básicos, estará a criar as alicerces para um treino avançado, além de estabelecer um relacionamento livre de conflitos com o seu amigo de quatro patas.
Um dos mais importantes, pois pode inclusive salvar-lhe a vida, é o comando “vem”. Existem vários jogos que podem ajudar a ensinar-lhe este comando. Quando o animal já tiver aprendido o comando “senta” pode brincar às escondidas com ele chamando-o de forma divertida para que ele vá ter consigo.
Não deve desistir até ele chegar até si, devendo, depois, reforçar o feito com recompensas surpresa de alto valor.
Se estiver em família, podem aproveitar para fazer outro jogo engraçado. Distribuídos pelo espaço da sala devem chamar o cão aleatoriamente, e quando ele se aproximar da pessoa que o chamou esta deverá esticar a mão com uma boa dose de recompensas de alto valor e reforçar o comportamento.
O chamamento deve ser feito de forma aleatória para que o animal não perceba quem o vai chamar a seguir. A ideia é ele responder a uma chamada e não perceber quem é o próximo a dar-lhe comida.
Deve treinar o seu cão para responder de forma adequada e eficaz à chamada em sítios variados, com estímulos variados. Um cão com um bom chamamento pode acompanhá-lo para quase todo o lado, e sem trela.
Mas atenção, para o conseguir nunca deve punir o animal quando ele vem, não o deve chamar para fazer algo de que ele não gosta e muito menos para lhe aplicar um castigo. Isto só iria deitar a perder tudo o que lhe tinha ensinado.
Outras brincadeiras como por exemplo o lançamento da bola e do disco, de que tanto gostam, também o podem ensinar a ir buscar objetos e, com algum tempo e paciência, levá-los a depositá-los nalgum sítio específico. Isto seria o ideal para os ensinar a arrumar os seus próprios brinquedos.
Hoje em dia, os brinquedos e jogos específicos para cães são determinantes na sua educação, saúde e bem-estar. Podem servir, inclusive, para substituir a comida como recompensa no que diz respeito à aprendizagem dos comportamentos.
Muitos cães até trabalham mais entusiasticamente para brinquedos do que para recompensas alimentares, e ainda são excelentes formas para despender a energia acumulada ao longo do dia e prevenir a obesidade.
Se constatar que ele tem preferência por algum brinquedo, ou se gosta de correr atrás da bola para a apanhar, deve anotar a bola como uma opção que servirá como boa recompensa a usar nos treinos.
Os seus brinquedos favoritos devem ser guardados para as sessões de treino.
Depois das sessões, estes nunca devem ficar ao alcance do animal, pois tal como uma taça cheia de ração se torna desinteressante se estiver sempre à disposição, também o brinquedo se torna vulgar, e a brincadeira perde o interesse, se o cão lhe tiver acesso continuamente.
Brinquedos para cães e benefícios da brincadeira
Tal como os humanos, os cães precisam de exercer atividades que os estimulem fisica e mentalmente. Está provado que os animais que não brincam têm maior tendência para sofrer distúrbios comportamentais como ansiedade ou agressividade, entre outras patologias.
Hoje em dia, o mercado está inundado de jogos e brinquedos interativos – de todas as formas e feitios, cores e texturas – que fazem os cães pensar, melhoram o seu raciocínio, a obediência, e ainda estimulam a prática de atividades físicas.
Estes brinquedos vieram revolucionar a forma de diversão de muitos animais e tornaram-se grandes aliados no seu treino. São ótimos para o alívio do stress e da ansiedade, e distraem e entretêm aqueles que passam muito tempo sozinhos ou que são muito agitados.
Há vários tipos de puzzles, dos mais básicos aos dignos de verdadeiros Einsteins, em que os cães têm de descobrir como abrir diferentes peças para aceder à comida colocada no interior. Nas versões mais avançadas, têm que encadear comportamentos, retirando umas peças para poder mover outras e finalmente conseguirem chegar à recompensa.
Também há bolas que largam bocadinhos de comida quando roladas numa determinada posição; garrafas em que os cães têm de descobrir como puxar uma corda para aceder à guloseima no seu interior; brinquedos em que se colocam biscoitos específicos e muito atrativos, extremamente rijos, que os cães gastam horas a roer (e que beneficiam a sua saúde oral).
O lançador automático de bolinhas, por exemplo, é ideal para animais mais propensos para brincadeiras. Também há modelos mais simples, e não menos divertidos, como o lançador de petiscos, que alcança até 12 metros de distância e é ótimo para os que têm mais energia.
Quanto aos benefícios, para além de servir como treino físico, brincar permite praticar a coordenação motora e desenvolver algumas estruturas nervosas, como o cerebelo (envolvido na manutenção do equilíbrio), a massa muscular e as ligações entre o sistema nervoso e os músculos. Através da brincadeira, o animal explora os seus limites e capacidades, adquire flexibilidade física e mental e aprende a gerir situações imprevisíveis.
O tutor pode utilizar a brincadeira como ferramenta na educação do animal, para lhe ensinar controlo emocional, tolerância à frustração e a fazer pausas durante os divertimentos, que servem para que este aprenda a controlar o nível de excitação.
É importante não esquecer que o bom “professor” é o que sabe não só ensinar mas também aprender. Podemos aprender tanto, ou ainda mais, com os cães do que eles connosco.
Eles vivem num mundo feito para pessoas e seguem essas regras. Geralmente fazem-no com sucesso e muito melhor do que a maioria de nós, caso a situação se invertesse e fôssemos transportados para o mundo deles.
Não podem falar, mas observam e ouvem atentamente, e têm uma extraordinária capacidade de perdoar. Mesmo depois de errarmos ao ensinar-lhes algo simples, baralhando os sinais, emitindo linguagem corporal confusa e levantando a voz em vez de nos concentrarmos no que dizemos, os cães vão continuar a procurar instruções em nós, e a tentar compreender-nos.
Estas são mais do que boas razões para se dar ao trabalho de “aprender a ensinar” pacientemente o seu cão, não acha?