Se para os humanos longe vai o tempo em que o ditado “gordura é formosura” era considerado verdadeiro, o mesmo se aplica aos animais. A obesidade nos nossos queridos companheiros de 4 patas surge como um problema de saúde emergente, e apesar de não haver estudos sobre a temática em Portugal estima-se que cerca de 50 por cento dos cães e gatos adultos apresentem, pelo menos, excesso de peso.
Ao longo dos séculos de domesticação os cães acabaram por se tornar os animais de estimação mais privilegiados entre todos os outros. Durante esse tempo o cão pôde usufruir de muito conforto, status social e luxo ao lado dos seus tutores; contudo, para além de desfrutarem das coisas boas da vida, essas regalias acabaram por contribuir para que partilhassem também todos os maus hábitos.
Tal como os seres humanos, os cães aprendem depressa, podendo adquirir bons e maus hábitos com a mesma rapidez. Um deles é a sobrealimentação. Tal como nós, os animais podem sofrer com a falta de uma alimentação equilibrada, e uma das consequências diretas é a obesidade.
Mas, enquanto nós podemos escolher o nosso estilo de vida, e o que comemos, os animais apenas se alimentam do que lhes é servido, adaptando-se ao estilo de vida do seu dono, mesmo tendo de reprimir os seus instintos. E isto, por muito que nos custe, significa que somos os principais responsáveis pela obesidade canina.
A obesidade é a acumulação excessiva de gordura no organismo causada, normalmente, pelo desequilíbrio entre o consumo energético (muita quantidade de alimento ou com muitas calorias) e o gasto energético (falta de atividade física).
As calorias ingeridas que não são gastas armazenam-se sob a forma de gordura, levando ao aumento de peso e a alterações na composição corporal do animal. Para o tutor, contudo, nem sempre é fácil aperceber-se se o seu cão está em risco de se tornar obeso – o que só agrava o problema.
Identificar a obesidade e as consequências da doença
Quando se tem um cão de raça pode-se aceder com alguma facilidade à altura e peso ideal do animal tendo, assim, linhas que o ajudem a perceber se ele está, ou não, gordo. Não sendo o caso, a forma física de todos os cães pode ser estimada colocando a mão na zona das costelas.
Estas não devem ser visíveis, ou seriam sinal de magreza, mas devem poder ser sentidas se se esfregar levemente a ponta dos dedos. No entanto, uma avaliação meramente física pode ser bastante subjetiva, e é muito difícil que um leigo identifique a obesidade canina apenas com o olhar e o toque.
Para um estudo mais preciso, deve consultar-se um veterinário que, através do exame biométrico, faz uma avaliação clínica básica sobre o estado geral de saúde do animal que inclui a verificação do perfil lipídico, peso, altura, e índice de massa corporal (IMC), entre outros.
A análise do IMC do animal pode ser subdividida e entendida como:
Extremamente magro: as costelas e ossos são proeminentes, não existindo nenhuma dobra abdominal, e a perda de massa muscular é aparente;
Magro: costelas, extremidades ósseas e área lombar são visíveis; a cintura é bastante fina e a curva abdominal é aparente;
Ideal: as costelas têm uma camada fina de gordura, apresentando cintura e curva abdominal marcada;
Acima do peso: camada de gordura densa e dificuldade para apalpar as costelas. As dobras de gordura nas costas e na base do rabo são visíveis. Cintura marcada não aparece;
Obeso: cães com grande depósito de gordura no tórax e na base do rabo; a espinha dorsal fica bastante curvada por causa do peso do abdómen.
Considera-se que um cão é obeso quando o seu peso corporal é superior a 20-30 por cento da sua massa corporal (dependendo das características do próprio cão). Algumas raças de cães raramente ganham peso a mais, como por exemplo, os cães nórdicos, mas há outras que são suscetíveis à obesidade como as raças Basset Hound, Beagle, Bichon Frisé, Cairn Terrier e outros terriers de porte pequeno, Caniche Toy, Cocker Spaniel Inglês e Americano, Dachshund, Dálmata, Dogue Alemão, Springer Spaniel Inglês e Galês, Golden Retriever, Labrador Retriever, Mastiff, Pug, São Bernardo, Schnauzer Miniatura, Shih Tzu e Weimaraner, entre outros.
Para além da raça, a doença é multi-fatorial, ou seja, envolve outros fatores, tais como a idade, sexo, esterilização, tratamentos contracetivos, doenças endócrinas, medicamentos e certos hábitos, como o sedentarismo.
E ainda que a obesidade sozinha não leve ao óbito, aumenta sensivelmente o risco de algumas doenças graves e de muitos outros problemas de saúde que tornam a vida do animal difícil e, dependendo da complexidade, podem, sim, levá-lo ao óbito. A doença contribui para:
Risco aumentado em cirurgias – necessidade de uma maior dose de anestesia e menor visibilidade dos órgãos envolvidos em massa gorda;
Maior pressão sobre o coração, pulmões, rins e articulações – quase todos os órgãos do cão têm de aumentar o seu ritmo de atividade para manter o maior volume de massa do animal.
Agravamento de doenças articulares – o aumento de peso faz com que o cão tenha de forçar mais as articulações para se movimentar. A artrite, que provoca dores intensas, pode-se desenvolver devido ao aumento da pressão sobre joelhos, anca e cotovelos. A condição é ainda mais preocupante nas raças de porte grande que já são predispostas a desenvolver displasias.
Desenvolvimento de problemas respiratórios em tempo quente e durante exercício – num cão obeso os pulmões têm menos espaço para se encherem de ar e têm, em contrapartida, de aumentar a sua capacidade de captação de oxigénio para fornecer ar ao maior número de células no corpo.
Desenvolvimento de diabetes – a doença pode obrigar a injeções diárias e levar à cegueira. A incapacidade de produção de insulina para processar os níveis aumentados de açúcar está por detrás do seu desenvolvimento.
Aumento da pressão sanguínea que pode originar problemas cardíacos – o coração é um órgão bastante afetado pela obesidade, pois tem de aumentar a sua capacidade de distribuição de sangue a muitos mais sítios que se foram criando com a acumulação de massa. Como o sangue tem de percorrer um caminho mais longo, a força ou pressão com que é bombeado tem de aumentar.
Aumento da probabilidade de desenvolver tumores – estudos recentes associam o desenvolvimento de cancro, sobretudo mamário ou no sistema urinário, à obesidade.
Perda de eficácia do sistema imunulógico – as doenças virais parecem afetar de forma mais agressiva os cães com excesso de peso.
Problemas gastrointestinais – a diarreia e o aumento de flatulência ocorrem mais frequentemente em cães obesos, uma situação que não é agradável nem para o cão, nem para o dono.
Perante os problemas enunciados, se um animal estiver nem que seja 15 por cento acima do seu peso ideal, já é obeso. É altura de agir!
Conhecer as causas para tratar a doença
A maior parte dos casos de obesidade canina é provocada, tal como entre os humanos, por alimentação inadequada ou excessiva, aliada à falta de exercícios físicos. Entre os animais, contudo, a situação não é reversível de forma espontânea, uma vez que o cão, por si só, é incapaz de reduzir a quantidade e selecionar a qualidade do alimento que ingere. Por isso, é tão importante a sensibilização precoce dos tutores dos animais com excesso de peso ou obesos.
Estes animais devem ser acompanhados por veterinários pois as flutuações de peso podem ser perigosas. Cada um deve ter um plano adaptado ao seu caso específico para poder emagrecer de forma saudável.
O primeiro passo para ajudar um cão a perder peso é cortar em todas as guloseimas que lhe dava.
O cão não precisa delas e apenas estão a prejudicar a sua saúde. Se ele já ganhou o hábito de comer sempre que o dono petisca, então pode sempre substituir essas guloseimas por fruta – a maçã é uma boa opção.
A ração deve ser medida antes de lhe ser dada, mas calcular a quantidade indicada a olho não é a melhor solução. Existem copos medidores que permitem com facilidade recolher a comida do recipiente e medi-la.
Nos casos mais graves pode ser necessário que o cão faça dieta. Isto pode passar pela diminuição da quantidade ingerida – a solução mais penalizadora para o animal, que vai sentir fome –, ou pela troca de ração.
Existem rações específicas de dieta, mas só devem ser utilizadas se forem aconselhadas pelo veterinário pois a sua composição é diferente das rações ditas normais, e podem levar a deficiências nutricionais se os animais não necessitarem desse tipo de dieta. Contudo, os cães que não estão apenas com excesso de peso, mas que já se encontram no quadro clínico da obesidade, geralmente têm de alterar a ração que consomem.
Animais obesos são menos ativos do que animais com o peso ideal, e quando se trata de perder peso, o exercício tem um papel especial.
Os passeios são a melhor forma de exercício que um cão obeso pode ter. Não se deve, contudo, esforçar demais o animal nem insistir numa corrida. Se o passeio for demasiado curto, repete-se mais tarde.
Deve aproveitar-se o fim e o início do dia para o fazer, uma vez que as temperaturas altas tornam a atividade ainda mais penosa.
As brincadeiras são também uma ótima forma de exercitar o cão. Buscar o pau costuma ser bastante popular entre a maior parte das raças, e não é demasiado cansativo para o dono.
Acima de tudo é importante perceber que a obesidade não é uma questão estética – e gosta do seu cão mesmo “redondinho” –, mas uma questão de saúde.
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Fique atento ao seu animal e não descuide as visitas regulares ao veterinário. Cuide bem de quem tanto o ama!
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