Livro “Na Loucura da Dúvida” alerta para real impacto da POC
A Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC), depressão e ideação suicida são as principais condições exploradas no livro “Na Loucura da Dúvida”, com relatos reais escritos na primeira pessoa pelo pseudónimo de Eva Monte.
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Uma obra literária que aborda uma patologia que afeta cerca de um a três por cento da população mundial e que tem como objetivos dar a conhecer a perturbação obsessivo-compulsiva e promover a procura de ajuda profissional mais precoce.
A POC é uma perturbação potencialmente grave que, como o próprio nome indica, se carateriza essencialmente pela presença de dois fenómenos: as obsessões e as compulsões. Uma patologia muitas vezes subdiagnosticada, visto que é encarada como uma mania, imaginação ou uma fraqueza.
“No meu livro descrevo o que foi viver, desde muito jovem, na sombra da POC. Partilho os episódios depressivos a que me aduziu, devido à exaustão a que conduz, e, em detalhe, relato o último episódio depressivo que se começou a manifestar em 2011 e que me conduziu a um estado grave, incapacitante e resistente ao tratamento, em 2012”, afirma Eva Monte, pseudónimo da autora.
Esta obra aborda a fundo as principais características da POC ajudando a mais facilmente reconhecer os principais sintomas desta doença: as obsessões e as compulsões. O doente, na POC, devido a uma anomalia no funcionamento cerebral vê-se impossibilitado de rebater a dúvida, o que o leva a repetir atos compulsivos numa tentativa de dissipar a ansiedade gerada por pensamentos obsessivos que não consegue abandonar e refutar devidamente.
“A POC não é um traço de personalidade, é uma doença incapacitante e geradora de um elevado sofrimento. Vivida muitas vezes em segredo, o doente fecha-se no seu mundo de obsessões e compulsões pela vergonha que advém da noção que tem do seu desajuste. Urge, na sociedade e nos serviços de saúde, que se leve à luz do dia o que é esta perturbação e que se unam esforços para que se encontrem formas de chegar aos doentes nas fases mais precoces da doença diminuindo o seu sofrimento e evitando que recorram à assistência médica apenas em casos graves, fases tardias da doença, altamente incapacitantes em que o prognóstico é francamente pior”, reforça ainda Eva Monte.
“É importante sensibilizar para o conhecimento e aceitação da doença mental para esclarecer, promover a aceitação e incentivo ao tratamento no doente, conduzindo-o precocemente à intervenção terapêutica e, assim, à cura. E a realidade é que nas últimas décadas tem existido uma evolução nas ofertas de tratamento na área da psiquiatria, e a POC e a depressão não são uma exceção”, refere Ricardo Moreira, psiquiatra no Centro Hospitalar Universitário de São João no Porto (CHUSJ).
Atualmente, os especialistas têm ao seu dispor algumas alternativas terapêuticas farmacológicas (quer em monoterapia, quer em associação), com eficácia demonstrada no tratamento da POC, em conjugação com a Terapia Cognitiva Comportamental, ferramenta inquestionável e essencial no tratamento desta patologia.
O livro “Na Loucura da Dúvida” demonstra ainda que, nos casos mais graves e resistentes ao tratamento convencional, é possível ajudar os doentes com POC, através da DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda), que consiste na realização de uma neurocirurgia para implantação de elétrodos de neuromodulação cerebral.
Ricardo Moreira reforça ainda que “este é um tratamento muito utilizado por exemplo na Doença de Parkinson, mas inovador na área da Psiquiatria. Trata-se de uma técnica neurocirúrgica moderna realizada por estereotaxia, com riscos reduzidos para os doentes”.
“Uma das principais vantagens está relacionada com o facto dos parâmetros de neuroestimulação serem individualizados para cada doente e controlados pelo médico, o que permite minimizar os efeitos secundários e maximizar os efeitos terapêuticos da estimulação cerebral. Este tratamento tem mostrado resultados promissores no tratamento da POC grave e resistente ao tratamento convencional, assumindo-se como uma opção terapêutica válida para casos clínicos que antes apenas tinham como solução o sofrimento crónico ou a neurocirurgia clássica (frequentemente associada a sequelas importantes e irreversíveis)”, acrescenta.