Os produtos de limpeza são a segunda maior causa de intoxicação em ambientes domésticos — ficando apenas atrás dos medicamentos. Por este motivo, é preciso tomar alguns cuidados na hora de os usar.

“Os acidentes acontecem porque está disponível. Toda casa tem produto de limpeza”, afirma o toxicologista brasileiro Sergio Graff.

Um dos tipos de acidentes mais comuns é a ingestão dos produtos de limpeza. “Normalmente, esses acidentes ocorrem com crianças pequenas e animais domésticos”, refere o toxicologista.

Essas substâncias, em contato com os órgãos, queimam os tecidos internos. “O mais grave costuma ser a ingestão de soda cáustica. Não mata, mas a queimadura habitualmente é mais grave e pode fechar o esófago ou criar uma fístula [conexão entre partes do corpo que não têm ligação] para o pulmão”, afirma.

“Casos de fístula não são totalmente recuperáveis, são necessárias várias cirurgias e nunca volta a ser como era antes”, explica Graff.

A ingestão de soda cáustica aumenta em sete vezes o risco de desenvolver cancro do esófago, afirma o toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Além dos produtos com pH alto ou baixo, Graff alerta para o uso de cloro. “O cloro, na realidade, é um gás irritante, em ambientes pequenos e fechados a pessoa pode ficar maldisposta, normalmente quando vai lavar a casa de banho”, afirma.

As misturas de produtos de limpeza também causam intoxicações. Os médicos alertam que isso jamais deve ser feito.

“É comum misturar água sanitária com produtos à base de amoníaco. Isso pode levar a uma explosão que pode provocar cegueira e queimaduras graves. Infelizmente, esses casos são muito frequentes nas urgências”, acrescenta o médico do Hospital das Clínicas.

Inicialmente, o cloro vai irritar os olhos, nariz e boca, quando inalado. Irrita também os brônquios e o pulmão, levando até a uma bronquite ou, eventualmente, a uma pneumonia.

A chamada pneumonia química também é frequente em intoxicações por removedores (solventes e querosene), de acordo com Wong.
No caso de se sentir maldisposto, é preciso deixar o local onde o produto está a ser usado e procurar ajuda médica. Além disso, os toxicologistas recomendam que as limpezas sejam sempre feitas em ambientes onde haja circulação de ar.

“Se a casa de banho for muito pequena, o ideal é deixar o mais aberta possível e fazer pausas. Limpar um pouco, sair e depois voltar”, aconselha.

Segundo o alergista Octavio Grecco, membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), os produtos que provocam dermatite de contato irritativa são os que possuem pH muito alto ou baixo.

“Por serem muito ácidos ou cáusticos, esses produtos rompem a barreira cutânea, formando uma ferida similar a uma queimadura”, explica Grecco.

Produtos como solventes, soda cáustica e que contenham [url-nolink=/pt/medicamentos/DCI/hipoclorito-de-sodio/informacao-geral]hipoclorito de sódio[/url], como a lixívia, são os que mais causam dermatite.

Os sintomas da dermatite manifestam-se logo após o contato com a substância e são sensação de formigueiro, queimação, ardência, vermelhidão e, em casos mais graves, bolhas e úlceras. “Se não for tratado, pode até provocar uma necrose, mas não é comum”, afirma o alergista.

Grecco refere que, caso ocorra uma reação na pele após contato com algum produto, é importante procurar assistência médica imediatamente. O tratamento é feito como se de uma queimadura se tratasse.

Para casos em que não se formam bolhas, utilizam-se cremes hidratantes e analgésicos, caso haja dor. “Quando se formam bolhas, já se trata de uma queimadura de segundo grau e, dependendo da extensão da ferida, poderá ser necessária”, explica.

Para uma utilização segura dos produtos de limpeza, os médicos recomendam guardá-los fora do alcance de crianças e animais de estimação, ler os rótulos, utilizar luvas e fazer a faxina em ambiente arejado, com janelas e portas abertas e não utilizar produtos clandestinos.