Os comprimidos, pílulas e similares são símbolos poderosos da sociedade contemporânea. Desde os medicamentos que salvam vidas, às drogas recreativas, esses pequenos objetos encapsulam a capacidade da ciência para alterar a realidade biológica e psicológica dos indivíduos.
Do ponto de vista tecnológico, o comprimido é uma conquista da ciência moderna, representando a capacidade de manipular a natureza em benefício próprio. No entanto, essa manipulação levanta questões sobre a artificialidade e a naturalidade da própria existência. Ao ingerirmos uma substância que pode alterar o nosso estado físico ou mental, estaremos a distanciar-nos da nossa natureza essencial ou, pelo contrário, estamos a explorar e expandir as possibilidades inerentes à nossa própria condição humana?
Na dimensão ética, os comprimidos são objetos multifacetados, na medida em que há dilemas sobre a distribuição equitativa de medicamentos, o acesso aos cuidados de saúde, a regulamentação das drogas recreativas, bem com a responsabilidade da indústria farmacêutica no seu conjunto. Além disso, existe a questão do uso de pílulas para fins não medicinais, como o incremento de performance cognitiva ou física, práticas que levantam preocupações sobre justiça, coerção e a definição do que é entendido como conceito de “normalidade”.
Em medicina, a autonomia é um princípio central na ética médica e filosófica. A capacidade de decidir sobre o próprio corpo e saúde é considerado um direito fundamental, contudo, a existência do comprimido coloca em xeque a verdadeira extensão dessa autonomia. De facto, quando tomamos uma pílula, estamos de certa forma a delegar poder a uma entidade externa, seja um médico, uma empresa farmacêutica ou a própria ciência. Esse ato voluntário de confiança e delegação leva-nos a questionar até que ponto somos realmente autónomos nas nossas decisões de saúde.
Frequentemente, a literatura e o cinema usam o comprimido como um símbolo para explorar temas existenciais. Um exemplo icónico disso é a pílula vermelha e a pílula azul usadas no filme “Matrix”, em que a escolha entre as duas pílulas representa a opção entre a realidade desconfortável e a ilusão confortável, um conceito que ressoa com a filosofia de Platão e o seu “mito da caverna”, onde a percepção da realidade é questionada. O mito da caverna é uma das passagens mais célebres da obra de Platão, o grande filósofo grego, que continua a ser uma metáfora relevante e poderosa para a condição humana e o processo de iluminação intelectual, através do qual somos desafiados a questionar as nossas percepções e a procurar uma compreensão mais profunda da realidade.
Os comprimidos também têm implicações profundas na nossa compreensão de identidade. Os medicamentos psicofármacos, por exemplo, podem alterar significativamente a personalidade de uma pessoa, o que pode levantar questões sobre a natureza da identidade, ou seja, será que somos definidos pela nossa química cerebral? Será que a alteração dessa química muda quem somos essencialmente? Estas são questões que filósofos, psicólogos e neurocientistas continuam a debater nos dias de hoje.
O comprimido, ou pílula, é uma das formas mais comuns e acessíveis de administração de medicamentos. A sua invenção e desenvolvimento representam um marco na história da medicina e da tecnologia, simbolizando a capacidade humana de manipular a biologia com o objetivo de melhorar a saúde e a qualidade de vida.
A invenção do comprimido como forma sólida de medicamento é atribuída ao farmacêutico francês Étienne-Prosper Berthélemy Cadet de Gassicurt no início do século XIX, sendo no entanto o resultado de contribuições de vários indivíduos ao longo da história. Nos seus variados formatos atuais, o comprimido é resultado do advento da Revolução Industrial, que proporcionou maior eficiência e padronização, além da sua produção em larga escala.
Na senda da inovação, o comprimido pode hoje assumir várias formas farmacêuticas de que se destacam os de Libertação Prolongada e Controlada, projetados para libertar os seus ingredientes ativos lentamente ao longo do tempo, melhorando assim a eficácia e a aderência ao tratamento; comprimidos com Revestimento Entérico, desenvolvidos para proteger os ingredientes ativos do ambiente ácido do estômago, permitindo que o medicamento seja libertado no intestino; Pílulas Digitais, que surgiram recentemente sob a designação de “pílulas inteligentes”, que incorporam sensores para monitorizar a ingestão e os efeitos do medicamento no corpo.
Os comprimidos, pílulas ou similares poderão ainda apresentar-se sob outras formas farmacêuticas, por forma a responder adequadamente a cada vez maiores exigências de conforto ou adaptabilidade a necessidades específicas. Alguns comprimidos sem ranhura podem ser fracionados, contudo, deverá ser consultado o farmacêutico sobre essa possibilidade, pois pode ser adequado utilizar um aparelho divisor para os cortar ao meio, ferramenta que pode ser adquirida na maior parte das farmácias.
Comprimidos em gel, drageias, cápsulas e comprimidos revestidos (medicamentos com libertação controlada de seus princípios ativos, que possuem uma absorção mais lenta e gradual), não podem ser fracionados e essa restrição deve constar na bula dos medicamentos conforme determinado pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P. (Infarmed).
Discorrer sobre comprimidos ou similares é um exercício que revela as complexidades e paradoxos da condição humana moderna. Esses pequenos objetos encapsulam questões profundas sobre autonomia, ética, tecnologia, identidade e realidade e, ao refletirmos sobre elas, não apenas ganhamos novas percepções sobre a nossa relação com a ciência e a medicina, mas também sobre a natureza da própria existência humana.
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