O documento de identificação é o primeiro rasto da nossa existência! Ninguém hoje se pode imaginar sem bilhete de identidade ou cartão do cidadão. O nosso primeiro registo é a certidão de nascimento onde é exarada toda a informação referente à nossa origem, nomeadamente nomes dos progenitores e seus ancestrais, a data, hora e local de nascimento.
Com a recente aprovação da Lei nº 8/2017 da Assembleia da República de 3 de março, que concede aos animais um estatuto jurídico "reconhecendo a sua natureza de seres vivos dotados de sensibilidade", a necessária identificação torna-se mais precisa e reforça a necessidade de controlo, dado que os níveis de responsabilidade de cada um de nós na proteção dos nossos companheiros, foram aumentados.
Nos cães o Pedigree é a certidão de nascimento, a árvore genealógica onde constam os nomes dos pais, avós e bisavós, além de outros detalhes do animal.
O termo deriva do francês antigo "pied de grue" (pé de grou), porque aquela ave ao deslocar-se deixa um rasto com 3 traços para a frente e um para trás, correspondente aos dedos das patas, em tudo semelhante à forma das árvores genealógicas: Pedigree é, pois, a árvore genealógica do animal.
O documento de registo tem por finalidade atestar e garantir que determinado exemplar animal pertence a uma distinta raça, ou seja, atesta e garante que o exemplar é de "raça pura".
Um cão de raça pura é aquele que descende de gerações onde não houve cruzamentos com indivíduos de outras raças ou origens e que, quando cruzado com outro animal da mesma raça, dá origem a indivíduos exclusivamente da sua linhagem. Esta pureza da estirpe é comprovada através dos registos no LOP. O termo pode não ser tão familiar como Pedigree, contudo é o seu equivalente em português.
LOP – iniciais de Livro de Origens Português – é o registo genealógico para a identificação dos cães de raça pura existentes em Portugal. Foi criado em 1932, sendo seu fundador, gestor e depositário o Clube Português de Canicultura (C.P.C.).
Por esta altura já outros países europeus detinham livros de origem há algum tempo (desde o século XIX), nomeadamente a Alemanha – país onde se fundaram alguns dos primeiros clubes de raças caninas conhecidos.
Em finais do mesmo século eram muitos os países com sociedades caninas e clubes de raça, mas cada um mantinha um sistema de classificação de raças próprio.
Com o intuito de racionalizar estas diferenças e uniformizar o conceito das várias raças em todos os países foi instituída a Federação Cinológica Internacional (F.C.I.), que é atualmente a autoridade máxima no reconhecimento de novas raças, revisão dos standards, etc.
O CPC, através da 1ª Comissão (Livro de Origens), é a única entidade competente para aceitar ou recusar os pedidos de registo no LOP, ou cancelar os já existentes. O registo no LOP tem como objetivos principais, instituir as medidas necessárias para conservar puras todas as raças caninas, classificar as raças portuguesas, inscrever e catalogar os animais de raças puras e cumprir e fazer cumprir os regulamentos nacionais da especialidade e da FCI.
A admissão de cães de qualquer raça ou variedades animal oficialmente reconhecida ao LOP, é estritamente reservada aos que se encontrem devidamente identificados e que obedeçam a uma das seguintes condições:
– Os seus progenitores estejam também registados no LOP;
– A sua progenitora esteja registada no LOP e o seu progenitor esteja registado num Livro de Origens reconhecido;
– Estejam registados num Livro de Origens reconhecido pela FCI;
– Tenham a sua ascendência traçada, sem interrupção, até à terceira geração inclusive, desde que a pureza de sangue dos ascendentes possa ser demonstrada perante a 1ª Comissão e a seu contento;
– Tenham a sua ascendência traçada sem interrupção até à 3ª geração no Registo Inicial (R.I.), que tenham obtido a qualificação de "excelente" em qualquer exposição autorizada pelo CPC e que tenham idade superior a 15 meses;
– Que sejam de Raça Portuguesa, com ascendência registada, que tenham obtido a qualificação de "Excelente" em qualquer exposição organizada ou autorizada pelo CPC e que tenham idade superior a 15 meses.
Como referido, para que um cachorro possa ser registado no LOP é condição essencial ser filho de pais com LOP. No entanto, no caso das raças portuguesas, existe a possibilidade de um cão sem LOP ser apresentado aos juízes da respetiva espécie para que seja avaliado.
Se a avaliação for positiva e o exemplar se enquadrar no padrão da raça, o CPC poderá atribuir a esse animal um Registo Inicial (livro de registo auxiliar, anexo ao Livro de Origens). A partir daí, esse cão passará a ser o fundador da sua própria linhagem, sem quaisquer ascendentes registados.
A inscrição de uma ninhada no LOP é pedida pelo criador e não pelo dono do animal. Por isso, ao adquirir um cachorro de raça pura, este já deverá estar obrigatoriamente inscrito no LOP. O registo provisório que é entregue ao novo proprietário obriga-o a efetuar o registo de propriedade e a colocar-lhe um microchip identificativo junto do CPC.
No registo definitivo efetuado posteriormente deverão constar o número de registo, nome do animal (já escolhido pelo criador, mas passível de ser alterado pelo CPC a pedido do novo dono), títulos em exposições, a raça e respetivo número standard na FCI, cor e/ou variedade, data de nascimento e sexo, número de microchip, nome e morada do criador e proprietário, árvore genealógica do cão até aos bisavós, com os nomes dos animais, títulos em exposições e números de registo, bem como o resultado do despiste da displasia da anca (caso o tenha feito e o dono tenha solicitado a sua inclusão no registo).
O registo dos animais no LOP certifica única e exclusivamente que o cão é de raça pura, não garantindo no entanto o seu estado de saúde. Cabe ao criador responsável dar garantias de saúde e temperamento (submetendo os seus reprodutores a exames de despiste das doenças genéticas a que a raça é propensa, selecionando para reprodução apenas os animais de temperamento amigável) assim como de conformação, ou seja, cruzando apenas animais que se enquadrem no standard da raça.
O facto de um cão ter LOP não certifica que é "um bom exemplar", garante somente que é um exemplar autêntico de determinada raça.
As raças portuguesas são todas elas muito antigas, tendo sido utilizadas ao longo do tempo, essencialmente na pastorícia, nas zonas centrais do país, com funções de guardas de rebanho e caça, o que levou à sua preservação genética devido à sua concentração nessas regiões.
Em Portugal estão reconhecidas pelo CPC onze raças portuguesas de cães, muito embora apenas oito estejam reconhecidas e devidamente documentadas pela FCI.
Cão d’Água (Standard FCI Nº 37)
Em risco de extinção no início do século XX, o Cão d’Água é considerado muito afável, ativo, inteligente e com um olfato excelente. É uma raça oriunda do litoral português, que se fixou na região do Algarve, onde acompanhava os pescadores diariamente, para os auxiliar nas mais diversas funções.
Atualmente, deixou de ser necessária a tosquia do pelo longo e encaracolado, já que a raça é utilizada apenas como cão de companhia. De temperamento meigo e muito obediente, o Cão d’Água é um ótimo nadador, sendo o companheiro ideal para quem gosta de praticar desportos náuticos.
Cão de Castro Laboreiro (Standard FCI Nº 170)
Originário da Serra da Peneda, mais exatamente da aldeia de Castro Laboreiro, este cão faz parte das raças portuguesas mais antigas, sendo conhecido pelas suas vocalizações características. Apesar do ladrar alto e forte, da sua expressão severa e alguma agressividade para com os estranhos, o Castro Laboreiro é um cão dócil, brincalhão e bastante familiar. Possui um pelo duro, resistente e liso, de cor parda com cambiantes de preto, castanhos e avermelhados.
Cão da Serra de Aires (Standard FCI nº 93)
A origem do Cão da Serra de Aires não reúne consenso, existindo diferentes teorias quanto aos seus antepassados. De porte médio, com pelo duro e comprido, que se assemelha ao da cabra, o Serra de Aires é exímio na condução e vigia do gado.
A raça é especialmente popular no Alentejo, sendo conhecida e apreciada pela sua vivacidade e inteligência.
Cão da Serra da Estrela (Standard FCI nº 173)
É uma das raças mais antigas da Península Ibérica e, desde sempre, cativou a atenção dos pastores pela valentia com que defendia os rebanhos dos lobos e raposas. Atualmente, é uma das raças portuguesas mais populares, sendo o Serra da Estrela visto como um cão extremamente leal e dócil, sobretudo com as crianças, ainda que saiba fazer bom uso do seu porte poderoso para defender quintas e habitações.
Cão de Fila de São Miguel (Standard FCI nº 340)
O Cão de Fila de São Miguel surgiu na ilha de São Miguel, Açores, sendo um cão de guarda e de condução de gado por excelência.
Conhecido por "cão das vacas", este animal possui um porte médio, mas robusto, cabeça quadrada e maxilares muito fortes e apresenta pelo curto, denso e áspero em cores que variam entre o dourado, amarelo ou cinzento. Temperamento extremamente dócil para com os donos, embora possa ser agressivo para estranhos.
Perdigueiro Português (Standard FCI nº 187)
Altamente sociável, afetuoso e leal, o Perdigueiro Português é muito mais que um cão de caça, sendo um magnífico cão de companhia.
O seu temperamento fácil faz desta raça uma boa companhia, tanto para crianças como para outros animais. De porte médio e robusto, amarelado, com manchas na cabeça, peito e extremidades, tem um olhar expressivo e muito meigo, é um cão altamente sensível, com capacidades notáveis para a caça. Não é, no entanto, recomendável como cão de guarda.
Podengo Português (Standard FCI nº 94)
Introduzido na Península Ibérica pelos Fenícios e Romanos, o antepassado do Podengo foi cruzado posteriormente com os cães dos mouros, dando origem ao atual Podengo Português. Podengo Pequeno, Podengo Médio e Podengo Grande são as três variantes desta raça, que alterna entre o pelo liso e o pelo cerdoso. Vivaz e corajoso, com orelhas eretas e cauda em foice, este animal apresenta, de uma maneira geral, formas muito bem proporcionadas e musculadas.
Utilizados como cães de guarda e de caça, os Podengos são dotados de grande inteligência, sendo uma raça bastante popular, especialmente no norte do país.
Rafeiro do Alentejo (Standard FCI nº 96)
Acredita-se que o Rafeiro do Alentejo tenha as sua origens em cruzamentos de cães Serra da Estrela com cães do Alentejo. De compleição forte e corpulenta, pelo curto e espesso, tem como característica física distinta, uma cabeça que recorda a de um urso, com maxilares muito desenvolvidos.
Sendo um cão imponente, forte e agressivo para estranhos, rapidamente se tornou num excelente cão de guarda, ainda muito utilizado para vigiar herdades e quintas, especialmente na planície alentejana. O Rafeiro do Alentejo consegue ser um amigo fiel e dócil, especialmente para crianças.
Em processo de reconhecimento por parte da Federação Cinológica Internacional encontram-se as raças Barbado da Terceira e Cão de Gado Transmontano e o Cão do Barrocal Algarvio.
Somente nas últimas décadas as raças portuguesas de cães começaram a ganhar notoriedade e a conquistar países além-fronteiras.
Inicialmente populares pelas suas capacidades de trabalho, com especial destaque para as atividades de condução e vigilância de gado, as raças de cães portuguesas são agora reconhecidas e procuradas também pelos seus temperamentos dóceis e pela forma leal e afetuosa com que se ligam aos seus donos.
Um bom exemplo a mencionar é Bo, o cão d’Água selecionado pelo ex-presidente Obama como membro da família e tornar-se o companheiro das suas filhas.