Crianças têm acesso à tecnologia mais cedo do que deveriam
Quando a Internet, os tablets, os laptops e os telemóveis invadiram as nossas vidas, foram considerados por muitos uma ótima solução para entreter as crianças e mantê-las sob controle à medida que cresciam. Mas, como toda a nova tecnologia, trouxe vantagens mas também sérias desvantagens.
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Foi necessária uma geração de jovens para nos apercebermos dos danos da exposição aos ecrãs digitais desde muito cedo e o que o seu uso abusivo pode fazer ao desenvolvimento e à educação das crianças.
Um estudo publicado pela Sociedade Espanhola de Médicos de Atenção Primária apurou que 95% das famílias considera que o seu uso inadequado pode causar distúrbios de aprendizagem, sono e alimentação, além de criar dependência. No entanto, o mesmo estudo também revela que os pais não cumprem as recomendações para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros.
A investigação, que incluiu 1.500 famílias na cidade de El Prat, em Barcelona, permitiu descobrir que 68% das crianças tiveram o primeiro contacto com os ecrãs antes dos dois anos de idade. As recomendações atuais afirmam que estas nunca o devem fazer antes dos três anos de idade e apenas ocasionalmente até aos seis anos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estímulos constantes de luz e movimento influenciam diretamente a capacidade de concentração, resolução de problemas e controle de impulsos – e isso afeta o desenvolvimento do cérebro.
Os pais devem estar cientes do uso correto da tecnologia e, como educadores, ser um modelo para as crianças.
O tempo de utilização também não está a ser cumprido. Para as crianças com seis anos de idade o tempo de ecrã não deveria exceder uma hora por dia ou duas horas nos fins de semana. No entanto, o estudo mostra que 43,2% das famílias deixaram os seus filhos menores de 12 anos passarem de duas a quatro horas a ver televisão nos fins de semana. E 14% admitiram que as crianças o fizeram entre quatro a seis horas por dia.
Mas o problema nem são apenas as horas passadas em frente aos ecrãs, mas o contexto – 61% faziam-no enquanto comiam, algo que também é desencorajado. A distração faz com que as crianças não comam bem ou não tenham consciência do que estão a comer. Isso cria maus hábitos que mais tarde podem levar a um relacionamento doentio com a comida.
O estudo descobriu ainda que as crianças também têm telemóvel muito cedo – 33% entre os 10 e os 11 anos, o que não deveria acontecer antes dos 12 anos. Atualmente, a idade para os smartphones está nos 16 anos.
Um relatório recente do Ministério da Juventude revela que o acesso à Internet nos telemóveis deve ser impedido aos adolescentes e que o seu uso deve ser proibido a crianças menores de três anos.
As crianças devem aprender a regular as suas próprias emoções. Quando lhes damos um ecrã para se acalmarem e se entreterem num restaurante ou sala de espera, só estamos a prejudicar o seu futuro.