Que lembranças tem de sua avó? E da casa, e das receitinhas saborosas que ela fazia só para lhe agradar? E do seu avô, e dos seus ensinamentos sempre pertinentes, que ainda hoje segue? Possivelmente, é com carinho e nostalgia que a maior parte de nós se recorda dos seus avós.
Prata nos cabelos e ouro no coração, os avós deixam sempre uma marca indelével nos seus netos. Nos laços fortes e especiais que se estabelecem entre ambos não tem havido alterações, todavia os avós de hoje são bastante diferentes dos de outrora.
Ainda não há muito tempo, o perfil dos avós podia ser desenhado com estes a tirar água do poço, a lavar a roupa num tanque exterior à casa, de carrapito e avental branco a cozinhar no fogão a lenha, o avô sentado na cadeira de baloiço a ler o jornal, a jogar cartas à volta de uma mesa, e a visitar os amigos.
Atualmente existem as torneiras, as máquinas de lavar, fogões a gás, fornos elétricos e micro-ondas, computadores onde se joga às cartas, as notícias dos amigos chegam pelo telefone ou computador, e os avós são, entre outras coisas, mais longevos, porém jovens e mais ativos.
Esta geração de avós é a primeira na história que pode esperar ter, em média, vinte anos para ver os netos crescer e tornarem-se adultos.
Estão nos meados da vida, envolvidos em atividades profissionais e sociais, praticam exercício físico regularmente, são mais saudáveis, têm maior poder económico, mais educação e formação, e rendem-se ao papel de avós com satisfação. Não é raro vê-los a saltar e a jogar com os netos nos parques infantis – são companheiros e cúmplices, alinham nas brincadeiras e esforçam-se por agradar aos petizes.
Portugal é, aliás, um dos países da União Europeia onde se assume, de forma generalizada, que os avós estão disponíveis para prestar cuidados informais aos netos e onde esse apoio é dado de forma intensiva, perfazendo em média mais de 30 horas semanais. O facto de avós e netos viverem juntos favorece esse apoio, mas Portugal é um país de exceção, pois o apoio dos avós que vivem separados dos netos está ao mesmo nível dos que vivem debaixo do mesmo teto.
Existem, contudo, várias formas de se ser avó ou avô, e vários tipos de avós.
Os avós cuidadores são aqueles que se dedicam a tomar conta dos netos e a dar assistência à família, assumindo-se frequentemente como substitutos dos pais, pois vão levar e buscar as crianças à escola, cuidam delas durante as férias escolares, preparam-lhes as refeições e tratam do que for necessário para o seu bem-estar. Depois existem os avós companheiros ou envolvidos, que aproveitam o tempo que estão com os netos de uma forma mais descontraída e lúdica sem a preocupação de os educar, ou seja, dão um apoio complementar aos pais. Por fim, os avós distantes, que pelos mais variados motivos se encontram afastados do dia-a-dia dos seus netos.
Os papéis dos avós podem assumir diferentes formas distinguindo-se vários estilos de se ser avô: o lúdico (há predomínio da valorização da brincadeira, da satisfação e prazer mútuos e das atividades informais); o formal (existe uma definição clara de papéis, nomeadamente em relação aos dos pais, e adotam-se comportamentos convencionais, segundo as representações que têm do papel dos avós); o autoritário (colocam os netos e os pais destes numa situação de subordinação); o distante (os contactos com os netos são reduzidos e ocorrem ocasionalmente, por ex. em aniversários e festas); e o substitutivo (os avós assumem os cuidados e as responsabilidades educativas na ausência ou por incapacidade dos pais).
Não existem dúvidas sobre o papel central dos avós na vida dos netos e, quando os elos emocionais são fortes entre ambos, esta relação é extremamente benéfica e insubstituível.
Benefícios de uma ligação insubstituível
Ouve-se dizer muitas vezes que ser avó/avô é ser mãe/pai duas vezes, e é verdade! Quando os filhos nascem tanto o homem como a mulher mudam, mas quando os netos nascem essas mudanças são ainda mais visíveis.
Aprende-se a ser mais paciente e flexível, e a disponibilidade permite uma maior convivência e cumplicidade entre ambos – conseguem conversar, realizar tarefas juntos, partilhar momentos especiais, brincar... resultado: acaba por se fazer todas as vontades à criançada.
Os netos são a “vida” dos avós. Para além de representarem um tempo de renovação que os aproxima da juventude, os netos afastam a depressão e a solidão, dão-lhes estímulo físico, pois contribuem para que estes sejam ativos – ao brincar no parque, passear no centro comercial, etc; estímulo intelectual – graças às crianças aprendem novas expressões da moda, como funcionam e para que servem as novas tecnologias, como a internet, o computador e o telemóvel; e amor, uma vez que os avós retiram tanto amor da relação com os netos como aquele que dão. Os netos simbolizam ainda a continuidade do nome, dos genes, das memórias, dos valores e do património.
Mas os benefícios desta saudável convivência são mútuos. Na relação com os netos, os avós contribuem fazendo a transmissão das histórias familiares, das tradições, e de conhecimentos. A companhia da avó ou do avô faz com que a criança entenda como é ser mais velha e aprenda a respeitar os mais idosos, aceitando as suas diferenças e entendendo as suas limitações.
Os avós são confidentes, protegem, dão atenção, amor, carinho, segurança e estabilidade aos netos, inclusive a nível financeiro, desempenhando, muitas vezes, um papel essencial de apoio nessa área.
Os avós que têm um contacto diário com os netos, e que desempenham as mais variadas atividades – desde as tarefas do quotidiano até às tarefas lúdicas –, ocupam um lugar privilegiado na vida da criança podendo fazê-las viver experiências únicas que, mais tarde, serão lembradas com saudade e carinho.
Momentos que não se esquecem
As atividades mais simples do dia-a-dia são as que, na maior parte das vezes, favorecem a proximidade e aumentam a afinidade entre avós e netos. Uma tarde na cozinha é um ótimo exemplo. Levar os netos para a cozinha para ajudarem a preparar o lanche para um piquenique no parque, ou fazer um bolo para a sobremesa do almoço de domingo vai garantir momentos de diversão inesquecíveis para todos… e muita farinha por todo o lado.
Ajudar na horta é outra atividade divertida, educativa, e que deixa boas lembranças. Arrancar ervas, aprender a conhecer os legumes, plantar algumas sementes, apanhar frutas ou plantar uma árvore no quintal, e acompanhar o seu crescimento, dão imenso prazer às crianças. Ir à pesca ou andar de barco, descobrir a natureza – por exemplo num passeio pela floresta para que a criança observe os animais no seu meio natural –, são exemplos de atividades de que todos gostam e que podem partilhar com os avós.
Os álbuns de família e as fotografias antigas trazem recordações de bons momentos vividos e garantem algumas histórias e risadas. Contar aos netos como foi a sua meninice, como era no Natal, ensinar-lhes as canções da infância dos pais e mostrar-lhes alguns dos seus brinquedos permitem descobrir novas personagens e novas brincadeiras.
Falar-lhes dos jogos tradicionais de rua, ensinando-os a jogar, por exemplo ao jogo da macaca, às escondidas, ao pião, aos berlindes, e a saltar à corda.
Fazer caminhadas, uma caçada ao tesouro, acampar no quintal, ver o pôr do sol, ir ao cinema ou ao circo são mais alguns exemplos de atividades bastante enriquecedoras e inocentes que contribuirão para fortalecer os laços afetivos, para que a criança aprenda a valorizar a simplicidade e os bons momentos em família, e além disso, irá mantê-los afastados da consola e do computador.
Os netos ocupam um lugar muito especial no coração dos avós e vice-versa. Qualquer pessoa que teve a felicidade de ter uma relação próxima com os seus avós sabe da importância dessa proximidade. Um momento de brincadeira, uma frase marcante, um ensinamento…. Quem não guarda com carinho e uma dose de nostalgia pelo menos uma lembrança dos bons tempos passados com os seus avós?