SÍNDROME DE MUNCHAUSEN, UMA DOENÇA QUE SIMULA DOENÇA

SÍNDROME DE MUNCHAUSEN, UMA DOENÇA QUE SIMULA DOENÇA

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Há quem tenha medo de ter doenças (hipocondria), mas também há quem as provoque. A Síndrome de Munchhausen, também conhecida como transtorno factício, é um transtorno psicológico onde os indivíduos fingem ou causam a si mesmo doenças ou traumas para conquistar a atenção e a simpatia de quem os rodeia.

As pessoas com este tipo de transtorno inventam repetidamente doenças e andam de hospital em hospital em busca de tratamento. Normalmente possuem conhecimento das práticas médicas, sendo capazes de manipular os seus cuidados para serem hospitalizados e submetidos a exames, tratamentos e até cirurgias de grande porte.

Para os profissionais de saúde são um mistério, pois os resultados radiográficos e laboratoriais podem ser inconsistentes com a história e o exame físico. Por ser difícil de identificar, a suspeita desta síndrome surge quando a pessoa não apresenta qualquer melhora dos sintomas, mesmo com o tratamento adequado, ou quando aparecem incoerências entre os sintomas apresentados ou os dados fornecidos pela pessoa ao longo do tempo.

A doença é mais comum em mulheres, em pessoas com traços de personalidade antissocial e borderline, e naquelas com alguma experiência na área da saúde. A etiologia é multifatorial, tendo origem principalmente nos seguintes pilares:

Fatores psicossociais: stressores prévios como abandono, perdas, abusos, traumas ou mesmo prazer em enganar os médicos. Através da invenção de uma doença médica, esses pacientes conseguem receber atenção e, às vezes, cuidados dentro da comunidade de saúde que talvez não tivessem em casa.

Neurocognição: disfunção no hemisfério cerebral direito – alterações na capacidade de organização conceitual, gestão de informações complexas e comprometimento de julgamento.

Alterações neuroanatómicas: o que pode incluir lesões na substância branca, atrofias corticais frontotemporais e hiperperfusão do tálamo.

Normalmente a causa da síndrome é a necessidade de atenção e simpatia da equipa médica – enfermeiros e médicos. Aliás, estes pacientes estão muito presentes entre a equipa médica que os acompanham.

Mas para alguns especialistas, as causas vão mais além e podem estar relacionadas com o prazer em enganar indivíduos considerados mais importantes e poderosos.

Na grande maioria dos casos, os pacientes apresentam queixas somáticas relacionadas a uma doença médica. Embora a apresentação do transtorno possa variar bastante, algumas das apresentações são mais comuns, como dor abdominal, fraqueza, náuseas, vómitos, dor no peito.

Não é incomum que o paciente propositadamente induza sintomas, como comer comida estragada, drogas, toxinas ou crie lesões na pele para causar feridas. O uso de sangue intencionalmente na urina também é muito comum, assim como a injeção propositada de insulina e o uso de laxantes para induzir diarreia. Convulsões, psicose, fraqueza e ideação suicida também são relatados.

O diagnóstico costuma ser um desafio e é puramente clínico.


Os profissionais de saúde devem observar o paciente, conversar e analisar. É importante estar atento a algumas características que podem auxiliar no diagnóstico.

Por exemplo, pacientes com histórias dramáticas, inconsistentes, e sempre à procura de novos hospitais devem ser monitorizados com cuidado. Em geral, estes pacientes também apresentam histórico de internamentos frequentes.

A maioria possui bons conhecimentos das terminologias médicas e faz uso delas. Há mesmo casos de pacientes que sentem orgulho em ser “um desafio médico”, visto que os seus sintomas são inespecíficos e difíceis de confirmar com exames laboratoriais ou radiográficos.


Ao suspeitar da síndrome de Munchausen, devem ser seguidas algumas estratégias na condução do caso.


O tratamento do transtorno é feito através da terapia e, em casos graves, do internamento dos pacientes em instituições psiquiátricas uma vez que são ameaças a si mesmos. A mera sugestão de encaminhamento psiquiátrico pode levar alguns pacientes a apresentar piora dos sintomas.

Por ser um transtorno no qual o paciente cria os sinais e sintomas, os tratamentos convencionais são praticamente ineficazes. Os estudos mostram que os antidepressivos e/ou os antipsicóticos não têm benefícios contra a doença.

Para estes pacientes recomenda-se atenção multidisciplinar, incluindo psiquiatra, psicólogo, prestador de cuidados primários e assistente social. É essencial abordar as necessidades emocionais subjacentes do paciente para determinar a motivação para a síndrome de Munchausen.

A terapia cognitivo comportamental é a mais eficaz, mas ainda tem baixo índice de aceitação e resposta. Em alguns casos, direcionar a terapia para traumas de infância pode ajudar. Também é importante avaliar a presença de outras comorbilidades psiquiátricas associadas.

A jornada para fazer a pessoa concordar que precisa de tratamento psicológico pode ser desafiadora, no entanto, a terapia é a melhor estratégia para assegurar o bem-estar físico e psicológico do paciente, assim como a sua segurança.

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