O PARTO

O PARTO

GRAVIDEZ E MATERNIDADE

  Tupam Editores

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O nascimento, ou parto, é provavelmente o acontecimento mais importante na vida de todos os seres vivos, pois significa a perpetuação das espécies. No ser humano representa o culminar de uma gravidez em que os novos seres deixam o útero da mulher para se tornarem indivíduos.

Desde a conceção ao parto decorrem normalmente 9 meses, iniciando-se o cálculo do período de gestação de acordo com o primeiro dia do último ciclo menstrual e, cada uma das semanas que passa representa um progresso importante para a formação do feto.

No primeiro mês, após a fecundação, inicia-se o processo de desenvolvimento para a formação do bebé a partir do zigoto, que se instala no útero após uma série de complexas divisões celulares. No mesmo período, inicia-se também a formação da placenta que passa a envolver o embrião com o líquido amniótico, auxiliando na alimentação do embrião e protegendo-o em caso de acidente ou queda da mãe.

Durante o processo de crescimento, o embrião atravessa dramáticas alterações e, ao terceiro mês de gestação, inicia-se o período de desenvolvimento fetal, que é marcado pela formação do esqueleto, das costelas e dos dedos das mãos e pés, bem como dos restantes órgãos internos.

Ao nono mês, o bebé já tem todos os órgãos formados, mede entre 45 a 55cm e já consegue controlar a respiração, pelo que, por volta da 40ª semana está preparado para nascer, podendo o parto ter início a todo o momento.

Segundo estatísticas divulgadas pela ONU, registam-se em todo o mundo cerca de 180 nascimentos por minuto, contra 102 óbitos durante o mesmo período, estimando-se que em 2016 tenham nascido cerca de 135 milhões de novos bebés, na sua maioria de parto natural, entre as 37 e 42 semanas de gravidez, verificando-se porém uma pequena percentagem de nascimentos fora daquele intervalo, com maior incidência contudo para os que nasceram antes das 37 semanas.

Nos países mais desenvolvidos, a maioria dos partos é realizada em hospitais dos serviços nacionais de saúde ou privados, enquanto que nos países em desenvolvimento os nascimentos ocorrem geralmente em casa com o apoio de parteiras ou, em regiões mais remotas, mesmo sem elas.

As dúvidas sobre o parto

A gravidez e tornar-se mãe, são fases marcantes na vida de qualquer mulher e envolvem toda a família. No entanto, muitas mulheres, ainda hoje chegam ao consultório médico cheias de dúvidas e medos no que se refere ao parto e em particular às dores de parto, principalmente quando a gravidez se aproxima do fim e a hora e o nascimento está próxima.

Esses receios derivam na maior parte dos casos de falta de informação e aconselhamento, levando muitas vezes algumas mulheres cheias de vida e plenas de saúde, a submeterem-se ao parto abdominal ou cesariana, que é na prática um procedimento cirúrgico idêntico a qualquer outro e não uma modalidade de parto como muitas mulheres acreditam ser, sem necessidade e com os inconvenientes que derivam de uma cirurgia. Por outro lado, o parto vaginal normal em que o principal fator de sucesso é a própria natureza feminina, é um processo natural de nascimento que deve ser incentivado ao longo da gravidez por forma a preparar o organismo, física e mentalmente, para o desenlace, pelos benefícios que proporciona.

A taxa de cesarianas é considerada internacionalmente um indicador da qualidade dos cuidados de saúde. Em Portugal, segundo dados da OCDE relativos a 2014, cerca de 33 por cento dos partos são realizados por cesariana, o que nos coloca na penúltima posição de entre os 28 países da UE, logo a seguir à Itália com 38%. Tendo por objetivo melhorar este indicador nacional, foi promulgada legislação no sentido de reduzir essa taxa para níveis aceitáveis, recomendados pela OMS, já que a realização de cesarianas sem necessidade técnica, acarreta riscos acrescidos para a mãe e para o feto.

Por efeito dessas medidas legislativas implementadas a partir de 2013 e de normas de orientação da Direção-Geral da Saúde (DGS), foi criada a Comissão Nacional para a Redução da Taxa de Cesarianas, prevendo um plano de formação e treino dos profissionais de saúde no âmbito do Serviço Nacional da Saúde (SNS), a ser implementado através de um sistema informatizado de controlo dos dados obstétricos.

A medida, com fraco efeito nos hospitais e clínicas privadas, teve no entanto um efeito positivo nos hospitais do SNS logo no primeiro ano com uma queda de 10 por cento e tem vindo a cair gradualmente a partir daí, mas continuamos com uma taxa ainda elevada e superior à média europeia, que segundo o portal da Pordata se situou em 32,9 por cento em 2015. A redução foi no entanto suficiente para que Portugal fosse utilizado internacionalmente como exemplo de que é possível reduzir a taxa de cesarianas sem afetar a mortalidade perinatal.

Opções de parto

Munida de toda a informação disponível ao longo da gravidez, após treino e aconselhamento profissional adequado, cabe exclusivamente à futura mãe escolher a forma de parto que objetiva e subjetivamente mais confiança lhe oferece, tendo sempre em mente que a forma de parto preferencial deve ser o parto normal, pela via vaginal, como é recomendado a nível internacional pelas várias entidades de saúde. Porém, a cesariana pode ser a opção indicada, por razões médicas relativas a potenciais problemas na gravidez, ou simplesmente a pedido da gestante.

Das duas formas de parto possíveis, a mãe deve ter pleno direito de escolher a via que pretende para si, mas cabe ao obstetra esclarecer exaustivamente as vantagens do parto normal, antes de aceitar a realização de cesariana sem uma clara e inequívoca indicação médica.

Geralmente as mães que optam pela cesariana, fazem-no por temerem as dores do parto, por traumas psicológicos devido a históricos de familiares ou amigos, ou por pressões externas para que a gravidez tenha o seu término em data específica. Porém todos essas questões podem ser facilmente contornados com a devida orientação médica e esclarecimento dos prós e contras do parto por cesariana.

Os partos vaginais podem diferenciar-se em partos vaginais cirúrgicos, que são normalmente realizados com intervenções médicas mais ou menos complexas e especializadas como a indução anestésica, administração de oxitocina (hormona que induz as contrações uterinas), espisiotomia (incisão vaginal), e os partos vaginais naturais – apenas com intervenções minimamente invasivas e absolutamente indispensáveis, podendo em alguns casos ser ministrada uma injeção epidural para redução das dores.

O parto normal pode ser realizado em maternidades onde há mais recursos de assistência para a mãe e recém-nascido, mas há cada vez mais mães que optam por ter o bebé no próprio domicílio podendo aí ser usadas as mais variadas posições, desde deitada, de cócoras ou utilizando uma cadeira de parto. Há também a possibilidade de ser realizado em meio aquático, que diminui a dor e o tempo do trabalho de parto, porém para que seja seguro, é importante que o parto na água seja combinado entre os pais e o hospital ou clínica onde o bebé irá nascer, meses antes do trabalho de parto ter início.

Muito embora a atividade não esteja regulamentada no nosso país, existem profissionais de saúde especializados que assumem prestar assistência ao domicílio a parturientes, incluindo apoio pré-natal, parto e acompanhamento pós-parto, a exemplo do que se pratica nalguns países europeus do norte da europa e Reino Unido.

O parto normal nem sempre é aconselhável ou sequer possível, sendo nestes casos inevitável o recurso à cirurgia abdominal para retirar o bebé. Por se tratar de uma cirurgia invasiva, a recuperação da mãe é bastante mais lenta que no parto normal, mas é atualmente considerado um procedimento bastante seguro. Apesar de tudo, o melhor tipo de parto é o que, para além da segurança, garante conforto e bem-estar à parturiente e ao seu bebé. Daí que o período pré-natal seja muito importante pois fornece informações essenciais que ajudam o médico a decidir, em concordância com o casal, a opção de parto mais adequada para aquela gestante em particular e seu bebé.

O exercício

Dada a imprevisibilidade da evolução do parto, devido à sua própria natureza, é muito importante que a futura mamã esteja preparada para as contingências, fortalecendo os músculos da zona pélvica, através de movimentos e exercícios físicos variados.

Para esse efeito contribuem os conhecidos exercícios de Kegel que consistem em pequenas contrações internas dos músculos que compõem o pavimento pélvico e dão suporte à uretra, à bexiga, ao útero e ao reto, contribuindo para o seu fortalecimento e melhorando a circulação sanguínea em redor do reto e da vagina, ajudando assim a prevenir as hemorroidas. Além disso, este tipo de exercício facilita a cicatrização caso seja necessário levar pontos no períneo após o parto e mantém a elasticidade o que por sua vez facilita o nascimento do bebé.

Acresce que há também evidências de que um pavimento pélvico mais fortalecido encurta o período expulsivo para o bebé nascer, a fase de "fazer força". Os exercícios de Kegel são muito simples e podem ser executados em qualquer lugar, sentada em frente do computador, a ver televisão ou mesmo numa fila de supermercado e consistem no seguinte:

- contrair os músculos em volta da vagina como se estivesse a tentar interromper o fluxo urinário, tendo sempre em conta que o tempo de contração deve ser superior ao de descontração, em cada uma das séries de exercícios a executar;
- manter a contração firmemente durante 4 a 5 segundos, relaxando em seguida os músculos lentamente e repetir pelo menos 10 vezes;
- tentar executar duas séries pelo menos duas vezes por dia, de manhã e à noite, podendo no entanto praticar-se com mais frequência se isso for confortável e não se verificar excesso de esforço.

Outros exercícios como o movimento pélvico ou "postura do gato", manter-se de cócoras, na pose de alfaiate ou sapateiro, ajudam igualmente a melhorar a postura, abrir a pelve e a relaxar as articulações dos quadris por forma a preparar o parto, além de fortalecer de uma forma geral a musculatura da região. Espalhados pelo país, existem hoje centros especializados de preparação para o parto e parentalidade, recuperação pós-parto e serviços específicos para os pais e bebés, que podem ajudar na preparação.

A hora chegou

O parto propriamente dito é dividido em várias etapas: dilatação, expulsão, dequitação da placenta e primeira hora do puerpério ou estabilização da mãe. O momento é definido, quando a mulher começa sentir contrações uterinas dolorosas que irradiam no sentido descendente do abdómen, ou seja de cima para baixo. Isto porque as contrações têm início na parte mais superior do útero, dirigindo-se para o colo uterino.

É uma dor do tipo cólica, que vai e vem sensivelmente a cada 10 minutos e não melhora em nenhuma circunstância. Além disso o canal vaginal começa a dilatar-se, considerando-se que a mulher entrou em trabalho de parto, quando a dilatação atinge cerca de 2cm de diâmetro e está associada a contrações uterinas e ao rompimento da bolsa amniótica. O momento da expulsão fetal ocorre quando o colo uterino atinge uma dilatação de cerca de 10cm.

Finalmente, no decurso da primeira hora pós-parto, cessa a hemorragia, ocorre a regularização do fluxo sanguíneo, recuperação dos sinais vitais, volume sanguíneo e homeostasia uterina. Após este período de estabilização da mãe, e durante 6 a 8 semanas do pós-parto o corpo retorna ao estado normal de pré-gravidez.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
24 de Setembro de 2024

Referências Externas:

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