As reações alimentares adversas são um problema comum nas crianças, atingindo cerca de 6 a 28% delas. Estas reações podem ser diferenciadas, de uma forma geral, entre alergias e intolerâncias alimentares. É muito fácil confundir-se uma alergia com uma intolerância alimentar, no entanto, existem diferenças que tornam possível separar claramente as duas patologias.
Os sintomas e a sua perceção até podem ser semelhantes, mas enquanto uma alergia a um alimento resulta numa forte resposta imunitária, a intolerância alimentar não envolve mecanismos do sistema imunitário e manifesta-se maioritariamente no trato gastrointestinal. Neste artigo serão abordadas as intolerâncias alimentares.
Intolerância alimentar é o nome dado a um conjunto de reações que sucedem após a ingestão de um dado alimento. Estas podem estar relacionadas com a digestão ou transformação dos alimentos, ou, por exemplo, surgir como reação a determinados compostos que se encontram ou que foram adicionados aos alimentos.
Apesar de ter causas multifatoriais, a intolerância alimentar pode ser adquirida congenitamente ou durante a vida. Estima-se que a prevalência de qualquer tipo de intolerância alimentar seja entre 20 e 35%, com variações de país para país. Em Portugal, um quarto da população apresenta um qualquer tipo de intolerância alimentar.
Estas doenças são comuns na infância devido à imaturidade do sistema digestivo da criança, que não processa corretamente certos alimentos, e também devido a diferentes processos virais que modificam a permeabilidade intestinal. Normalmente, manifestam-se com a introdução de alimentos após a amamentação.
Importa referir que os sintomas associados a uma intolerância alimentar não se manifestam logo, aliás surgem frequentemente com algum atraso, podendo passar-se horas ou dias após a ingestão do alimento que os desencadeou. Estes podem incluir: queixas digestivas, como distensão e/ou dor abdominal, flatulência, diarreia; dores de cabeça e enxaquecas; aftas e úlceras na boca; e fadiga e alterações comportamentais.
De entre as intolerâncias mais comuns nas crianças, o destaque vai para a intolerância à lactose. Esta ocorre quando o organismo é incapaz de digerir a lactose, um tipo de açúcar presente no leite e nos produtos lácteos. Isto deve-se à dificuldade do intestino em produzir uma enzima chamada lactase, que é responsável pela digestão da lactose. Como a lactose não é totalmente digerida, permanece no intestino, passa para o cólon e acaba por ser fermentada pelas bactérias que constituem a nossa flora intestinal, causando desconforto gástrico, inchaço, gases ou diarreia.
A intolerância ao glúten também é frequente. O glúten é uma proteína presente em alguns cereais, como o trigo, a cevada, o centeio, a aveia ou a espelta. A ingestão de glúten pode provocar diferentes patologias em determinadas pessoas: doença celíaca, alergia ou intolerância ao glúten.
A intolerância ao glúten caracteriza-se por sintomas digestivos relacionados com o consumo de glúten, que desaparecem quando este é retirado da alimentação e voltam a aparecer se este for introduzido novamente. Os sintomas mais comuns incluem diarreia crónica, perda de peso, fadiga e problemas de crescimento.
Com um quadro sintomático semelhante à intolerância à lactose, a intolerância à frutose, mais conhecida como má absorção de frutose, resulta da incapacidade de digerir a frutose, um açúcar naturalmente presente nas frutas, vegetais, mel e outros açúcares. Esta é uma patologia metabólica gerada por uma alteração genética. Por ser complicado excluir a frutose da dieta, os pais devem contactar um nutricionista para obter aconselhamento profissional adequado à situação.
A intolerância à sacarose é a incapacidade ou a capacidade reduzida do organismo digerir a sacarose, conhecida como o açúcar de mesa comum. Essa condição é devida à ausência ou redução dos níveis de sacarase e isomaltase, enzimas digestivas responsáveis pela digestão de certos açúcares. A ruptura do processo digestivo e o desconforto gastrointestinal é o resultado após a ingestão de alimentos contendo a substância.
Embora existam vários casos, a intolerância à levedura não é das mais conhecidas. Presente no pão e na cerveja, este microrganismo é o responsável pela fermentação destes alimentos.
Quanto a aditivos alimentares, os sulfitos, benzoatos e glutamato monossódico são alguns dos que têm maior suscetibilidade de causar uma reação.
Se uma criança apresentar sintomas, os pais devem consultar o médico que a acompanha, para se excluírem outras possíveis causas. As dietas de eliminação são a forma mais comum de identificar intolerâncias, e consistem em remover os alimentos que poderão causar intolerância durante um período de tempo e depois voltar a introduzi-los por fases. Manter um diário alimentar também poderá ajudar a identificar os alimentos problemáticos.
Convém referir que as intolerâncias alimentares podem depender da dose consumida. Assim, é possível que, após o período de exclusão, a criança volte a tolerar uma determinada quantidade do alimento.
Identificar e gerir corretamente estas intolerâncias é essencial para garantir uma alimentação segura e saudável. Se suspeitar que a criança pode sofrer de alguma destas doenças, não hesite em procurar o conselho de um profissional de saúde para que seja estabelecida uma dieta adequada. Tenha em mente que cada caso é único e que as necessidades dietéticas podem variar. É essencial adaptar a estratégia de gestão da intolerância alimentar às necessidades individuais de cada criança.
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