
HORA DOURADA, A PRIMEIRA HORA DE VIDA DO BEBÉ
GRAVIDEZ E MATERNIDADE
Tupam Editores
A transição do ambiente intrauterino para a vida extrauterina não é uma tarefa simples. O bebé deixa um lugar protegido, com regulação da temperatura, da iluminação e dos estímulos sonoros, com oferta constante de nutrientes, e depara-se com um ambiente com temperatura mais baixa, sob luz intensa e cheio de estímulos desconhecidos, sendo os primeiros 60 minutos após o seu nascimento muito importantes.
A hora dourada, também conhecida como “Golden Hour”, corresponde à primeira hora de vida do bebé e, como o próprio nome indica, é muito valiosa para a saúde e bem-estar da mãe e do recém-nascido. Durante este período, ambos costumam estar mais alertas e atentos, por isso é essencial para promover o vínculo entre a mãe e a criança.

Após o nascimento de um bebé saudável, o melhor lugar para ele estar é no aconchego do colo da mãe.
Este deve ser colocado de bruços e sem roupa, diretamente no abdómen ou peito materno, apenas com uma touca na cabeça e as costas cobertas, onde pode sentir e ouvir os batimentos do seu coração, que ele conhece. Isso traz-lhe segurança e pode auxiliar na estabilização dos batimentos cardíacos e outros parâmetros.
Este contacto pele a pele é precioso e ajuda o recém-nascido a regular a temperatura corporal e manter-se aquecido, fortalece o sistema imunitário através do contacto com a microbiota materna e favorece a construção do vínculo mãe-bebé, através do cheiro, toque e contacto visual.
Ao proporcionar a Hora Dourada à mãe e ao bebé, o clampeamento do cordão umbilical pode sofrer um “atraso”, o que não é problemático. Quando este é cortado após o 5° minuto de vida ou depois de ter parado de pulsar, é possível que o bebé tenha ganhado 100 ml a mais de sangue do que quando o cordão é cortado imediatamente, o que pode ser benéfico para a saúde do pequeno, especialmente na prevenção de doenças.
A avaliação inicial do recém-nascido não deve preocupar pois pode ser feita no ventre materno e os procedimentos de rotina (como pesagem, vacinas, entre outros) podem ser realizados após esta primeira hora.

O ideal é que os bebés que nascem bem comecem a mamar o mais cedo possível. Os estudos mostram que os recém-nascidos amamentados na primeira hora de vida têm 22% menos risco de mortalidade. O contacto pele a pele também permite que a amamentação possa ser estimulada nesta primeira hora, o que beneficia mãe e criança.
No caso da mãe, a sucção do recém-nascido faz com que o seu organismo liberte ocitocina, uma hormona que auxilia na contração do útero, o que ajuda na expulsão da placenta de forma fisiológica, e ainda diminui o stress e a perda sanguínea no pós-parto, protegendo-a de uma hemorragia uterina – uma das principais causas de mortalidade materna. Constituiu também um fator protetor à saúde mental da mãe reduzindo a prevalência de depressão pós-parto.
Importa referir também que, nesta fase o reflexo de sucção do bebé está mais ativo, e esse estímulo favorece a descida do leite, contribuindo para uma experiência de amamentação mais satisfatória. Além de diminuir os índices de mortalidade infantil, os estudos revelam que o ato de amamentar o bebé na primeira hora de vida eleva significativamente a probabilidade da amamentação se manter até os seis meses de vida.
Para o bebé, a amamentação na primeira hora permite que ele se alimente do colostro, um líquido de cor amarelada que desce antes do leite materno, e é rico em anticorpos e nutrientes – sendo considerado por muitos profissionais de saúde como a “primeira vacina” do bebé.

Apesar dos benefícios, há bebés que não aceitam mamar nas primeiras horas ou que têm dificuldades, mas não há problema. A amamentação e o vínculo entre mãe e bebé começa no nascimento e é beneficiado pela Hora Dourada, mas esse processo vai continuar a fortalecer-se nos meses seguintes.
Essa conexão é construída no dia-a-dia, no cuidado, no carinho e em todos os momentos que terão juntos.
Da mesma forma, a ausência da Hora Dourada também não prejudica o bebé ou a mãe. O desenvolvimento do recém-nascido ocorrerá naturalmente e não há evidências concretas de que não a ter experimentado possa afetar a sua saúde de alguma forma.
Para poder usufruir da Hora Dourada, a mãe deve incluí-la no seu Plano de Parto – o documento onde ficam registados todos os desejos da futura mãe quanto ao parto e o pós-parto –, ou informar o seu companheiro e a sua equipa médica.
No dia do parto, é esperar que a mãe tenha uma hora pequenina… e que a do recém-nascido seja dourada.