Todos os nascimentos despertam a mesma curiosidade: a quem sai o bebé? É mais parecido com o pai ou com a mãe? Mal o pequeno abre os olhinhos, querem descobrir que características foram herdadas de cada lado da família. Se os olhos têm a cor verde como os do avô, se o nariz é o da mãe ou se ficará careca como o pai, quando crescer.

Mas porque é que as crianças se parecem com os seus pais, irmãos, avós ou até com familiares afastados? Isto acontece porque estas herdam determinados traços característicos que lhes são transmitidos de geração em geração, através de genes herdados. Esta característica está associada ao que chamamos de hereditariedade.

A informação responsável por essas características encontra-se codificada dentro dos genes. Cada indivíduo que nasce é o resultado de uma mistura única dos genes do pai e da mãe. Ninguém é igual a ninguém. Mas o que recebemos realmente de cada um dos progenitores?

Antes de mais, herdamos dois conjuntos de genes: um da nossa mãe e outro do nosso pai. A distribuição é bastante equilibrada, mas há uma diferença muito pequena entre homens e mulheres. As mulheres herdam 50% do seu ADN das suas mães e os outros 50% dos seus pais, já os homens herdam cerca de 51% da mãe e 49% do pai.

É o pai que determina essencialmente o género da criança, que é definido pelos cromossomas X e Y – XX para as meninas e XY para os meninos. Todos os óvulos têm um cromossoma X e, dependendo do cromossoma do espermatozoide do pai (X ou Y), o embrião desenvolver-se-à em menino ou menina.

Quanto às características físicas, existem algumas pelas quais se pode agradecer (ou culpar) a mãe. Estas incluem a cor e textura do cabelo, assim como a linha do cabelo, embora o pai também tenha um papel importante na cor e textura. Além do cabelo, a pele e até as varizes, podem ser herdadas da mãe. As mulheres ainda podem herdar da sua mãe o momento em que começam a menstruar e até quando entram na menopausa.

Os pais têm maior participação na altura dos filhos do que as mães. Ambos os genes de altura dos pais são transmitidos para a criança, mas os genes IGF (Insulin-Like Growth Factor) do pai têm uma influência maior na estimulação do crescimento e, portanto, na altura.

A inclinação para ganho de peso também pode ser herdada geneticamente. Todos possuímos dois tipos de gordura no organismo: a castanha e a branca. A gordura castanha é o tipo de gordura que queima energia e calorias e é herdada da mãe. Já o armazenamento de gordura branca é principalmente herdado do pai. Este tipo de gordura é utilizado para energia, mas pode-se acumular, causando problemas de saúde, como doenças cardíacas e obesidade.

O humor e os padrões de sono são transmitidos pelas mães. Os filhos de mães que sofrem de insónia tendem a demorar mais tempo a adormecer. Quanto ao humor, o sistema límbico (que inclui a amígdala, hipocampo, córtex cingulado anterior e córtex pré-frontal ventromedial) é responsável pela regulação das emoções e tem impacto em distúrbios como a depressão. A estrutura do sistema límbico da mãe é mais provável de ser transmitida para as filhas do que para os filhos.

Os filhos de mães que têm baixos níveis de serotonina têm maior propensão para desenvolver transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) mais tarde. Isso acontece porque os genes que regulam a produção de serotonina são transmitidos aos filhos e estes parecem ter um impacto na capacidade de foco.

As doenças mitocondriais são transmitidas às crianças quando o ADN mitocondrial é defeituoso ou tem mutações. Embora muitos desses distúrbios surjam no nascimento, também se podem desenvolver mais tarde na vida e afetar praticamente qualquer parte do corpo humano. Estima-se que cerca de 1 em cada 5.000 pessoas tenha um distúrbio mitocondrial hereditário.

Embora haja falta de investigação em humanos para confirmar a teoria, os estudos em animais sugerem que o ADN das mitocondrias (que só pode ser herdado das mães) pode ter impacto na taxa de envelhecimento.

Outro estudo descobriu que fatores ambientais, como exposição solar, tabagismo, etc, podem causar danos no ADN mitocondrial, que então são herdados pela criança e podem influenciar características como rugas e cabelos grisalhos.

Da mãe são herdadas também a estrutura ocular e a visão. A miopia patológica é uma das condições oculares comuns que podem ser transmitidas através dos genes. O daltonismo é outra característica herdada das mães, que afeta particularmente os homens. Por outro lado, os dentes desalinhados e a predisposição para ter cáries, entre outros problemas odontológicos, são herdados do pai. Isto acontece geralmente quando o pai tem uma saúde dentária deficiente.

Da responsabilidade dos distúrbios ligados ao cromossoma Y o pai também não pode fugir. Os meninos obtêm este cromossoma do seu pai, logo, os distúrbios a ele relacionados são transmitidos por ele. Estes incluem sindactilia (dedos unidos) e hipertricose auricular (pelos mais longos, grossos e abundantes do que o normal nas orelhas).

E os genes da inteligência, serão transmitidos pela mãe ou pelo pai? A verdade é que as mulheres têm maior probabilidade de transmitir genes de inteligência aos seus filhos pois são transportados no cromossoma X e estas possuem dois, enquanto os homens apenas um. Já as filhas recebem inteligência de ambos os progenitores, no entanto, no caso das meninas, apenas 40% da inteligência da mãe é herdada. O restante é adquirido durante a vida.

A hereditariedade traz consigo muitas características positivas dos ascendentes que, lado a lado com possíveis doenças genéticas hereditárias, compõem o ser único que cada um de nós é. Mas essa é apenas a nossa base, existem outros fatores, externos, que têm impacto na forma como evoluímos durante a vida – um tema a abordar futuramente.