EMPATIA, ESSENCIAL NA PRÁTICA CLÍNICA

EMPATIA, ESSENCIAL NA PRÁTICA CLÍNICA

MEDICINA E MEDICAMENTOS

  Tupam Editores

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A comunicação é um dos pilares da prática médica, sendo fundamental para o estabelecimento da relação médico-doente. Capacidades de comunicação fracas podem contribuir para uma má relação médico-doente e, como consequência, para uma eventual desumanização da medicina.

Na prestação de cuidados centrados no doente, a empatia, do grego “páthos”, estado de alma, é essencial e pode ser descrita como a capacidade de compreender a situação, perspetivas e sentimentos do doente, comunicar essa compreensão, verificar a sua veracidade e, então, agir em concordância com esse conhecimento.

Historicamente os médicos acreditavam que conseguiam compreender os sentimentos dos seus pacientes e manter um certo distanciamento emocional e a objetividade era vista como crucial para realizar diagnósticos complexos. Havia ainda uma preocupação de evitar o esgotamento, ou, mais especificamente, a fadiga emocional.

Desta forma, os médicos têm as suas próprias versões idealizadas de empatia, nas quais suprimem as suas emoções pessoais sendo, no entanto, motivados por uma preocupação altruísta, mas distanciada, para com os doentes.

A verdade é que a qualidade da interação entre médico e doente tem um impacto considerável nos resultados de saúde do doente. O encontro entre ambos é um evento propositadamente interpessoal e a sua eficácia em produzir resultados clínicos positivos depende muito das competências do médico em formar uma relação empática e de conquistar a confiança do doente.

Quando o médico assume uma postura preocupada e estabelece uma compreensão mútua com o doente sobre os seus problemas de saúde o resultado é mais positivo. No contexto clínico, são vários os resultados positivos da empatia médica para o paciente, destacando-se quatro: a satisfação, a adesão, a capacitação e a confiança do paciente.

Os pacientes que percecionam os seus médicos como empáticos dão melhores histórias, aderem mais ao tratamento, são mais proativos no tratamento da sua doença, ficam mais satisfeitos e capacitados e têm melhores resultados clínicos e menor ansiedade.

A satisfação do doente tem sido associada à saúde emocional, à educação, ao tempo de espera, ao envolvimento nas decisões e às expetativas dos cuidados de saúde. Os pacientes satisfeitos não têm necessariamente melhores resultados, mas têm maior probabilidade de cumprir os tratamentos e de manter as marcações das consultas.

A empatia é vista, genericamente, pelo paciente, como a capacidade do médico de entender como ele se sente e pensa, assim como a forma como o profissional de saúde expressa preocupação, compaixão e atenção pelo seu bem-estar, o que contribui para a sua satisfação.

Assim, ao melhorar as competências de comunicação empáticas dos médicos consegue-se obter uma maior satisfação dos pacientes, o que, consequentemente, permite alcançar melhores resultados de saúde.

Os resultados de saúde estão dependentes do grau de adesão dos doentes ao tratamento. E o maior obstáculo ao tratamento efetivo talvez seja o facto de os doentes terem um baixo grau de adesão ao mesmo.

Concluindo, são as capacidades comunicativas empáticas do médico que influenciam significativamente a satisfação e a adesão do doente, através de fatores mediadores como troca de informação, competência do médico percebida pelo paciente, confiança interpessoal e cooperação.

Existem evidências de uma relação positiva entre a empatia do médico e a capacitação do doente. A capacitação representa o grau em que um doente se sente fortalecido, após uma consulta, em termos de ser capaz de lidar, compreender e gerir a sua doença.

Uma melhor capacitação após a consulta médica tem sido relacionada com melhores resultados clínicos, podendo esta ser influenciada por diversos fatores, como a empatia, inerentes ao próprio doente (idade, género, condição económica, multimorbilidade) ou à consulta (duração e continuidade de cuidados).

A capacitação é maior quando os doentes sentem que as suas expetativas foram cumpridas, quando o médico respeita as suas preocupações, quando dá informação sobre a sua condição e progresso e quando o médico mostra preocupação e simpatia.

Uma maior empatia na relação médico-doente aumenta a compreensão e confiança mútuas. O facto promove a partilha de informação, que leva a um melhor alinhamento entre as necessidades do paciente e o plano terapêutico, a um diagnóstico mais fidedigno e a uma maior adesão.

A verdade é que os pacientes confiam mais em médicos empáticos, que respondem à sua ansiedade com uma resposta preocupada.


A confiança foi associada a melhor adesão ao tratamento e a uma maior eficácia do tratamento médico.

Perante o exposto, fica evidente a importância da empatia na comunicação clínica e na relação médico-doente, sendo necessário investir em melhores competências empáticas e de comunicação dos médicos. Para isso, é necessário criar programas de formação e educação.

Investigações futuras podem explorar como os médicos podem melhorar a sua comunicação clínica para conseguir uma relação e comunicação empáticas. A educação médica pode ser um bom ponto de partida para melhorar a sensibilidade da interação médico-doente. Treinos orientados para a comunicação que ajudem os médicos na sua capacidade de mostrar empatia para com o paciente podem ser importantes para regular as variáveis para o sucesso de um tratamento médico e a sua avaliação pelo paciente.

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