Não choram nem se queixam como os humanos, e por essa razão nem sempre são bem interpretados. Os animais de companhia sentem dor, mas demonstram-na de maneiras diferentes, o difícil é identificar os seus sinais.
A dor é uma sensação desagradável que se sente quando ocorre uma estimulação em terminações nervosas específicas, os recetores da dor. Geralmente, é causada por uma irritação, inflamação ou dano em alguma estrutura do corpo.
O limiar (limite) da dor e a sua perceção são muito variáveis entre os indivíduos. Sabe-se que existem pessoas que suportam muito melhor a dor do que outras. Com os animais funciona da mesma maneira. Na maioria das vezes, os gatos são mais resistentes à dor do que os cães.
Seja como for, é praticamente impossível mensurar a dor que os animais sentem, pois os testes realizados nos seres humanos dependem do depoimento de cada indivíduo e, como sabemos, nem os cães nem os gatos falam.
A dor pode ter causas muito diferentes como traumas, queimaduras, inflamações, estiramentos musculares, entre outros, podendo as várias regiões do corpo ser afetadas: olhos, ouvidos, pele, músculos, tórax, abdómen, articulações, ossos, etc.
Na natureza os animais não costumam demonstrar sinais de dor para não se mostrarem vulneráveis, e se tornarem presas fáceis, mas também para não perderem autoridade dentro do grupo.
Nos nossos lares podem manifestar esses sinais, e fazem-no de formas diferentes. É a tolerância individual e a personalidade de cada um que vai determinar como os nossos amiguinhos de quatro patas se vão expressar.
Como a dor se manifesta nos animais de companhia
Uma vez que os animais não podem colocar por palavras a sua dor, o tutor deve estar atento à sua linguagem corporal e às mudanças no seu comportamento – até porque é ele que o conhece melhor que ninguém.
Nem todas as espécies manifestam a dor da mesma maneira. A dor nos gatos, por exemplo, é mais difícil de interpretar pois estes são animais mais reservados.
Muitas vezes os tutores ignoram sinais de dor nos felinos por acharem que se trata de um comportamento normal ou decorrente do envelhecimento.
A identificação precoce dos sinais por parte do tutor, mas também pelo veterinário, permite reduzir mais rapidamente o sofrimento causado pela dor.
Alguns dos sinais que podem indicar que o animal está com dores são:
Mancar – A claudicação (mancar) poderá ser um sinal de dor num membro devido a patologias que afetem os ossos, músculos ou articulações;
Dificuldade em saltar – motivos semelhantes ao coxear podem originar dificuldade em saltar. Poderá ainda ser resultado de uma fraqueza generalizada;
Relutância em movimentar-se e movimentos anormais – um animal com dores pode evitar movimentar-se para não aumentar a intensidade da dor em algum local do corpo, quanto aos movimentos anormais podem ser resultado de um problema ortopédico;
Reação à palpação – ao tocar numa zona dolorosa o gato poderá reagir com vocalizações (miados, gemidos), olhando para a zona, lambendo ou tendo uma resposta agressiva resultante da dor;
Esconder-se – os gatos são animais reservados por natureza. Sentindo-se doentes podem tentar isolar-se, escondendo-se por longos períodos de tempo em locais que antes não frequentavam (por exemplo debaixo de móveis ou dentro de armários). Ao fazê-lo, estão a complicar a tarefa de identificação de sinais de dor e tratamento num tutor menos informado;
Menor asseio e cuidados com a higiene pessoal – quando se sentem doentes ou com dor, os gatos tendem a reduzir os cuidados com a pelagem. Como resultado, a pelagem de um animal com dor está mal mantida, apresenta-se suja, eriçada e mal penteada;
Diminuição das brincadeiras e da atividade física em geral – a dor reduz a vontade do gato brincar, logo, alterações no comportamento de jogo poderão indicar que algo de errado se passa, da mesma forma, um animal com dor passa mais tempo a descansar e sem vontade de se movimentar;
Mudanças nos padrões alimentares – um dos sintomas mais comuns de dor nos gatos é precisamente a redução do apetite. Devido ao desconforto, muitos deles perdem a vontade de se alimentar recusando até os petiscos preferidos. A situação pode ser muito perigosa, já que os gatos não podem passar longos períodos sem se alimentarem, sob o risco de desenvolverem lipidose hepática;
Diminuição do roçar nas pessoas – quando os gatos têm dores tendem a reduzir a interação com os seus tutores. Isto significa que um gato com dor não procura a companhia do tutor nem se roça nas suas pernas;
Alterações da postura – um gato com dor poderá apresentar uma postura com a coluna vertebral curvada. Em caso da dor na região do pescoço poderá resultar na postura de cabeça baixa.
Esforço durante a micção – esforço e desconforto durante a micção poderão ser resultados de dor. Por exemplo, na passagem de um cálculo renal há muita dor e desconforto na micção. Outro sinal associado a este desconforto é negar-se a utilizar a caixa de areia, por associação à dor;
Vocalização excessiva – na natureza os gatos raramente miam, no entanto, no ambiente doméstico alguns animais gostam de conversar com os seus tutores. Ainda assim, uma vocalização excessiva (com miados que se assemelham a gritos, gemidos ou choros) pode ser um indicativo de que alguma dor está presente.
Estes são apenas alguns dos sinais indicativos de dor nos gatos, mas até na dor a personalidade do felino é importante. Gatos diferentes exprimem dor de forma diferente, por isso, os sinais de dor num gato não são necessariamente os sinais noutro.
Não se pense que é mais fácil identificar a dor nos cães por terem uma personalidade mais comunicativa. Até porque também não se expressam verbalmente.
Os sinais de que o nosso melhor amigo de quatro patas pode estar com dores são semelhantes aos apresentados pelos felinos.
Os mais comuns são: Respiração pesada ou ofegante – é normal os cães estarem ofegantes quando stressados ou muito animados, no entanto, se o fizerem sem motivo aparente e se esse tipo de respiração se tornar excessiva, é decididamente um sinal de que o animal está com dores;
Lamber-se excessivamente – cães que lambem ou mordem excessivamente uma determinada área dos seus próprios corpos podem fazê-lo porque sentem dor nesse local. Eles podem lamber ou morder unhas partidas, feridas abertas, patas irritadas ou até mesmo tumores sob a pele;
Falta de apetite – o apetite ou, neste caso, a falta dele, pode ser mais um dos sinais de dor no cão. Esta é uma das reações primárias do organismo quando se tem alguma dor ou doença. O animal até pode ter vontade de comer, mas pode ser doloroso para ele chegar até ao prato de comida.
Babar excessivamente – este pode ser um sinal de dor no estômago ou de náuseas. Quando um cão se baba ou se engasga demais pode querer dizer que está a sentir muitas dores, podendo até estar em risco.
Mancar – um animal a mancar é sinal óbvio de que sente dor. Os cães podem coxear devido a artrite, uma distensão muscular, lesão na coluna ou pescoço, rigidez nas articulações ou ossos partidos.
Isolamento – os cães parecem-se mais com os seres humanos do que se pensa. Quando uma pessoa não se sente bem é normal isolar-se, havendo inclusivamente pessoas que manifestam a sua dor através da agressividade. Acontece o mesmo com os cães, assim, com dores podem tornar-se agressivos e rosnar ou avançar para quem os aborde. Mas também podem ficar tristes e deprimidos e perder o interesse em brincar ou caminhar.
Independentemente do animal de companhia, é muito importante que o tutor conheça a sua personalidade, a sua dinâmica, e o seu comportamento habitual pois essa é a única forma de conseguir detetar se ele está a passar por alguma experiência incómoda, se tem dores ou se está doente.
Em caso algum se recomenda qualquer medicação sem a aprovação ou recomendação de um médico veterinário.
A consulta no veterinário
Para identificar a dor e diagnosticar a sua causa, é urgente levar o animal a uma consulta veterinária. Se este estiver a sentir muita dor, é fundamental que a manipulação e transporte sejam feitos com todo o cuidado e segurança.
Na consulta, o médico veterinário vai precisar de saber o que aconteceu (histórico), fazer um exame físico e, em muitos casos, será necessário realizar exames complementares (exames de sangue, radiografia, entre outros).
Uma vez identificado o problema, a terapia para tratar o animal é personalizada, e o tutor deve seguir à risca as recomendações do médico veterinário. Em casa, deve facilitar o acesso aos alimentos, à água e casa de banho, tendo o cuidado de manter um certo afastamento entre eles pois os animais não gostam de dormir e comer perto dos seus dejetos.
É importante que o tutor esteja atento ao animal e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para lhe proporcionar conforto e alívio durante aquela fase mais complicada mas, atenção, nunca o medique sem orientação veterinária.
Em vez de o ajudar poderá estar a prejudicá-lo. Uma das formas de demonstrar que o ama é agir com responsabilidade!
Os cães são grandes companheiros das pessoas e estabelecem com elas ligações emocionais. Por esse motivo surgem cada vez mais casos de síndrome de ansiedade por separação – um problema comportamental...
Os detentores de animais de companhia, não podem provocar dor ou exercer maus-tratos que resultem em sofrimento, abandono ou morte, estando legalmente obrigados a assegurar o respeito por cada espécie...