A senciência animal tem recebido pouca atenção por aqueles que estudam as características e capacidades de animais não humanos. Se não sabia, senciência significa “aquele que sente, que experiencia sensações”.
A verdade é que esta qualidade dos animais nem sempre foi admitida. Durante muitas décadas pensava-se que não tinham sentimentos, e este “conhecimento popular” não está assim tão distante – talvez ainda se lembre de ouvir os seus pais dizerem que os animais não sentem frio, ou dor, o que é lamentável!
São vários os estudos científicos que comprovaram que os animais não só sentem frio, calor, dor ou medo mas que ainda têm capacidade de sentimentos mais “complexos” como saudade, depressão, e felicidade, entre outros.
Assim, e com a estação mais fria do ano à espreita há cuidados que deve ter com os seus amigos de quatro patas. Apesar de possuirem pelo, eles também estão suscetíveis às doenças associadas às baixas temperaturas, como gripes, constipações, doenças respiratórias e problemas osteoarticulares.
Cães e gatos podem sofrer com quedas bruscas de temperatura, com o vento e ainda com eventuais chuvas – daí a importância de os manter aquecidos.
Para tal, alguns donos recorrem ao uso de roupas para animais – um tema algo polémico. A questão que se põe é: serão essas roupas uma necessidade para os nossos melhores amigos se manterem confortáveis e quentinhos ou são, por outro lado, mera vaidade dos donos e até tentativa de humanização?
Frio: cada animal um caso diferente
Sabemos que existem pessoas mais friorentas que outras, e o conceito aplica-se na perfeição aos cães. Cada animal é um “indivíduo” e, como tal, um pode sentir mais frio ou menos frio de acordo com a sua fisiologia, ambiente, biologia, etc. A regra é a seguinte: se está frio para si, está frio para ele!
Apesar de a grande maioria dos cães vir “equipado” com pelo que os protege contra o frio, nem todos os cães têm o mesmo tipo de pelo, nem a mesma quantidade. E o tamanho e o tipo de pelo têm influência no frio que o animal sente.
Existem cães com pelo comprido e volumoso, com muito sub-pelo, e cães que quase não têm pelo nenhum. Quanto menos pelo, menos sub-pelo, ou mais fino for o pelo, mais frio sentirá o cão.
Obviamente que se tem um Malamute dificilmente ele sentirá muito frio em Portugal, uma vez que estes cães têm uma estrutura e constituição que lhes permite aguentar as temperaturas geladas do local de onde vêem.
No entanto, tirando cães que possuem um lindo, farto e quente casaco de pelo (e que mesmo assim podem ser friorentos) a maioria dos cães tem um pelo que lhes permite aguentar algum frio, mas não por muito tempo seguido, nem temperaturas muito baixas.
A título de curiosidade, para além do Malamute do Alasca, as raças mais tolerantes ao frio incluem o Akita Inu, Samoiedo, Husky Siberiano, Mastiff Tibetano, Chow Chow, Bouvier de Flandres, Shiba Inu, entre outros.
Entre as raças mais sensíveis ao frio estão o Chihuahua, Galgo, Pitbull Terrier, Boston Terrier, Pug, Bulldog Francês, Greyhound, Boxer, Grand Danois, Dachshund, Pinscher miniatura e o Yorkshire Terrier.
Como pode constatar, o frio que um animal sente não tem a ver com o seu tamanho. Cães de porte pequeno com pelo avolumado existem muitos, como o Shiba Inu, por exemplo, que é dos poucos cães no mundo que têm pelo até na barriga. Da mesma forma, os cães de porte grande (Grand Danois) não estão livres de sentir frio simplesmente pelo seu tamanho. É, no entanto, mais fácil aquecer um cão de porte pequeno do que um de porte grande.
Há ainda outras condições que têm influência no frio que um animal sente. Os cães mais magros, com menos tecido adiposo (gordura), estão menos protegidos do frio pois a gordura corporal ajuda a preservar o calor.
Quanto mais velhotes, mais friorentos! Tal como as pessoas, os animais idosos, com menos defesas, não conseguem lidar tão bem com o frio e a humidade estando mais predispostos a desenvolver patologias pela supressão do sistema imunitário que surge consequentemente.
Deve ter-se em consideração que cães com osteoartrites estão sujeitos a “recaídas mais frequentes” durante as estações frias (com mais dores ósseas e articulares e menor capacidade de movimento). Nestes casos, a proteção contra o frio deve ser ainda mais reforçada.
Roupa: necessidade ou moda?
O uso de roupas em animais é um assunto que levanta muitas dúvidas. Serão realmente necessárias? Deverão ser usadas todos os dias? Colocam em risco a sua saúde?
É normal que se questione sobre estes aspetos, só revela que se preocupa verdadeiramente com o seu bem-estar e que não o veste por vaidade ou para “andar na moda”.
Vestir os cães de bananas, morcegos, cachorros quentes, de Pai Natal, pintar o seu pelo porque se acha bonito ou, simplesmente, por motivos estéticos é aberrante. Os animais não são objetos de decoração que vamos enfeitando conforme a nossa vontade. No entanto, vestir cães para os proteger do frio não só não é aberrante, como indica que é um dono preocupado e bem informado acerca das necessidades do seu cão.
Entre nós pode parecer estranho ver um cão com botas mas, por exemplo, no Canadá, com 10 cm de neve, torna-se um acessório necessário ao bem-estar dos animais pois, sem elas, não conseguiriam andar na neve mais de 5 minutos sem começar a coxear e a revelar desconforto, além de criarem gretas.
Este clima exige ainda que se passe creme nas patas de modo a evitar frieiras e outras feridas provocadas pelo frio. Aqui todos os agasalhos são bem-vindos e necessários.
O importante é lembrar-se que a função principal dessa roupa é protegê-lo do frio. Ele é um cão, não um modelo. Em vez da estética e da moda deve vir, sempre, a utilidade.
Se chegar à conclusão que, devido às características físicas do cão e às baixas temperaturas da região onde vive, a roupa pode melhorar o seu bem-estar, existem muitas opções no mercado, contudo, na hora de a adquirir convém ter em conta alguns aspetos:
Defina que tipo de roupa o seu cão precisa – para o frio, chuva, etc; Meça-o antes de lhe comprar roupa para garantir que compra o tamanho adequado;
Escolha materiais confortáveis. A lã, por exemplo, costuma causar comichão;
Evite roupas com pequenas peças como botões, fios pendurados e tudo onde o animal possa ficar preso, ou que possa engolir;
Evite roupas com fechos, pois podem facilmente prender os seus pelos;
Tenha sempre em consideração o tipo de pelo e constituição física do seu cão, já que animais obesos ou de pelagem grossa podem rapidamente sobreaquecer se usarem roupas muito quentes (não hesite em consultar o seu médico veterinário para conselhos específicos para o seu cão).
Para cobrir com roupa um cão de forma correta, esta deverá ir até à base do rabo. A parte lombar traseira, talvez por ter menos gordura, é uma das partes que mais sofre com o frio, portanto, os modelos que deixam descoberta essa área apenas estão “na moda”, e não são projetados para a necessidade do animal.
Opte essencialmente por peças confortáveis. E certifique-se que as roupas que lhe veste não lhe prendem os movimentos.
Tenha muito cuidado também com os cachecóis. Os cães não costumam gostar nada deles e fazem de tudo para os retirarem. No meio de tal processo, alguns chegam mesmo a enforcar-se. Por isso, cães e cachecóis, definitivamente não.
Se colocar um impermeável, um casaco, uma camisola ou outro agasalho no seu cão deve ter presente que estes servem apenas para ir à rua e devem ser retirados assim que chegam a casa.
As botinhas até podem ser necessárias na neve ou na chuva, mas em casa, e se usadas por muito tempo, podem acabar por impedir que os coxins do cão (as almofadinhas na sola das patas) respirem corretamente dando origem a problemas que vão desde a proliferação de bactérias até lesões nas patas, sem esquecer a possibilidade de quedas – no caso de a sola do calçado não ter nenhum tipo de antiderrapante.
Uma das maiores desvantagens das roupas para animais de estimação são as reações alérgicas que podem causar. Existem muitas raças de cães, e gatos, que têm naturalmente uma pele muito delicada.
Para eles, o simples roçar com o tecido e a costura de roupas ou brinquedos pode causar muitos desconfortos, alergias e inflamações da pele.
Tenha em mente que a roupa do seu animal necessitará de um higiene reforçada para evitar a proliferação de microorganismos no lar. Esta limpeza também deve remover manchas e odores.
Proteger os animais do frio é uma questão de senso comum. Mas, se vestir uma roupa ao seu cão e ele passar o tempo todo a tentar tirá-la, isso significa que está desconfortável e não quer andar vestido. Se lhe parecer triste ou refilão, o significado é o mesmo.
Nem todos os animais gostam das mesmas coisas. Se ele tiver frio, opte por uma manta bem quentinha. Verá que ele vai adorar esta opção.
Vestir o seu gato, ainda que ele revele frio, vai ser ainda mais difícil. Os gatos destestam roupas ou qualquer outro acessódio.
O facto de serem, fisicamente, mais flexíveis do que um cão permite que tirem as vestimentas com mais facilidade e, por isso, vesti-los pode ser um verdadeiro desafio.
A sugestão é que não insista em demasia, pois todos sabemos que os gatos são teimosos e têm personalidade própria. Se a dificuldade em se adaptarem às roupas persistir, será preferível oferecer ao seu animal outras opções para se aquecer.
Prepare um cantinho só para ele, com bastantes almofadas, perto de uma fonte de calor segura para o seu amigo e ele manter-se-á, dessa forma, sempre quentinho e confortável.
No que diz respeito a vestir os animais, lembre-se que os nossos gostos começam a ser um problema quando interferem no bem-estar dos nossos animais de estimação.
Por isso, não importa o quão bonita possa parecer uma roupa se o nosso companheiro de quatro patas se sentir mal ao usá-la. Antes de impor um novo hábito observe as suas reações e emoções... e dê-lhes ouvidos!